Istoé
A briga pelo patrimônio oculto de Valério
Com os bens bloqueados desde 2005, o empresário Marcos Valério, operador do mensalão, manteve uma parcela da sua fortuna livre da Justiça. Apesar de não movimentar as próprias contas bancárias, ele continuou usufruindo de um padrão de vida milionário e fez negócios com o propósito de ocultar um patrimônio avaliado em mais de R$ 10 milhões. O maior deles pode ter sido o arrendamento da fazenda Santa Clara, localizada na cidade de Caetanópolis, a 120 quilômetros de Belo Horizonte. Com valor estimado em mais de R$ 6,5 milhões, a propriedade possui uma mansão cinematográfica, uma capela particular e uma área de lazer suntuosa, com direito a haras. O contrato de arrendamento feito com o empresário Benito Porcaro inclui um rebanho premiado que se espalha pelos quase 400 hectares de terras. Tudo livre dos bloqueios, uma vez que a propriedade continua em nome da família Porcaro, apesar de pecuaristas e donos de fazendas na região afirmarem que há anos tudo já pertence a Valério, aguardando apenas o desfecho da Ação Penal 470 para formalizar a transferência – algo que os mais de 40 anos de pena impostos ao operador do mensalão podem adiar indefinidamente.
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A estratégia de Valério para ocultar a propriedade veio à tona na última semana devido a uma briga de mulheres e agora será investigada pelo Ministério Público. Por ser uma das poucas propriedades a manter-se longe da mira da Justiça, a fazenda é um dos mais importantes bens da família de Valério. Não por acaso, agora, o imóvel está sendo disputado por sua atual namorada e pela ex-mulher, que conta com a ajuda da filha. A ex-esposa, Renilda Fernandes, e sua filha Nathalia costumavam frequentar a mansão pelo menos duas vezes por mês. Nathalia, que pratica hipismo e já ganhou campeonatos nacionais, usava as terras para treinar e abrigar seus cavalos. Um deles, uma égua campeã de saltos. Há pouco mais de um ano, quando o casal se separou, Valério mudou-se de vez para a mansão. O ex-empresário vinha se dedicando à pecuária e morou sozinho até cinco meses atrás, quando decidiu se unir a Aline Chaves, uma universitária de 21 anos que ele conheceu em um restaurante da região.
A Papuda tem como receber Genoino?
Cumprindo prisão em regime domiciliar na casa de uma filha, em Brasília, na sexta-feira 6, José Genoino deverá ser informado pelo ministro Joaquim Barbosa, do STF, qual será o próximo endereço para cumprir a pena de 6 anos e 7 meses pela Ação Penal 470. A decisão de Barbosa terá como base um laudo elaborado por uma equipe de cardiologistas da UnB – que ele mesmo escolheu –, que examinou Genoino com a missão de responder a uma pergunta: o estado de saúde do deputado torna “imprescindível” sua permanência em regime domiciliar fixo? É uma resposta menos óbvia do que parece, até porque envolve uma segunda pergunta: será que a penitenciária da Papuda, para onde Genoino seria mandado de volta, tem condições de atender um paciente como ele?
PublicidadeNum laudo de nove páginas, os médicos dizem que a condição de portador de “cardiopatia grave” não se aplica a Genoino, pelo menos “em seu contexto clínico-cirúrgico do momento atual”. O documento da junta médica tem essa característica. Ao mesmo tempo em que afirma que não é “imprescindível” manter Genoino em casa, faz questão de apontar inúmeras salvaguardas e condicionantes. Diz que a condição de pós-operado exige que o deputado tenha “acompanhamento ambulatorial”. Referindo-se a um paciente que pode residir numa penitenciária, chega a recomendar que Genoino fique longe de “fatores estressantes” e que não lhe faltem os medicamentos de que necessita, inclusive anticoagulantes destinados a impedir a ocorrência de anomalias que podem produzir um AVC. “Faltou fazer um laudo do presídio” afirma seu advogado, Luiz Fernando Pacheco. Na vida real, a Papuda só consegue atender às emergências médicas quando ocorrem com hora definida. Não há plantão noturno nem nos fins de semana.
Carta Capital
“Não vamos eleitoralizar o mensalão”
Em 2014, ano de eleição presidencial, a polarização PT-PSDB completará 20 anos. Embora o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva se apresentem como uma terceira via, nada indica, por ora, mudanças no embate nas urnas. Se assim for, a dicotomia petista-tucana terá perdurado mais do que a velha rinha PTB-UDN do século passado.
Ex-presidente nacional do PSDB, o deputado federal Sérgio Guerra culpa o PT por ter alimentado o maniqueísmo partidário, ao se estabelecer, segundo ele, como partido que encarna “a luta do bem contra o mal”. Em entrevista a CartaCapital, Guerra prevê dificuldades para a reeleição de Dilma Rousseff, garante que o PSDB não explorará o caso do “mensalão” nas eleições de 2014 e condena o PT por produzir antes e durante as campanhas eleitorais o que chama de “falsos dossiês”, que levariam a discussão política para “um embate sangrento”.
CartaCapital: Em 2014, assistiremos a uma eleição novamente virulenta, em que os debates programáticos devem perder espaço para ataques entre PT e PSDB relacionados a casos de corrupção?
Sérgio Guerra: O surgimento de candidaturas como a do governador Eduardo Campos e outras são boas para o País e para a democracia porque obriga o debate eleitoral a fugir de uma polarização que sempre foi alimentada pelo PT como a luta do “bem” contra o “mal”. Sendo assim, acredito numa eleição com mais conteúdo no debate. E nesse cenário, nosso candidato Aécio Neves tem tudo para se consolidar e pôr um fim nessas campanhas que produziram uma reserva de mercado de votos para o PT. Será uma eleição múltipla e, portanto, muito difícil para a presidente Dilma Rousseff, que enfrentará Aécio no Sudeste e Eduardo no Nordeste. As consequências do escândalo do mensalão já se deram agora, com o Supremo fazendo cumprir a lei. Não temos que eleitoralizar um assunto que foi e ainda está sendo tratado no âmbito jurídico, que é o seu fórum adequado. O debate da eleição tem que ocorrer em torno das questões importantes para o Brasil. Sem incorrer no jogo petista que sempre buscou fazer da disputa uma falsa divisão do País apresentando ao eleitorado o candidato deles como o mandatário de todas virtudes contra os demais como a tradução do mal.
Época
Relatório diz que Renan Calheiros pode ter exagerado no corte de despesas no Senado
O senador Renan Calheiros vive dias de síndico de prédio. Para ser exato, de sete prédios – o complexo de edifícios onde funciona o Senado. No afã de ofuscar a “agenda negativa” associada a ele – de acusações de ligações com lobistas a patrimônio incompatível com a renda –, Renan elegeu a redução de despesas como marca de sua segunda passagem pela presidência da Casa. Num dos principais acessos ao Senado, há uma televisão grande que exibe os resultados alcançados com a diminuição de custos. Quem navega na seção Transparência da página do Senado na internet, também é bombardeado com informações sobre os feitos da gestão de Renan – R$ 159,4 milhões de economia em 2013 e R$ 300 milhões previstos até 2014. Esforços para diminuir o ímpeto perdulário são louváveis, até porque o Senado tem um Orçamento anual superior a R$ 3,5 bilhões e mais de 3 mil servidores. É possível, no entanto, que o síndico Renan tenha cortado despesas no lugar errado. Um relatório concluído em setembro – a que ÉPOCA teve acesso com exclusividade – mostra que alguns dos cortes foram em áreas essenciais ao bom funcionamento dos prédios e à própria segurança dos que frequentam a Casa.
A peça – classificada como “reservada” – chama-se “Mapa de Riscos Operacionais”. Contém mais de 100 páginas e tabelas completas sobre os perigos iminentes que rondam o Senado, por onde circulam aproximadamente 11 mil pessoas nos dias úteis. Segundo o documento, os problemas são muitos e sortidos. Infiltrações, pestes (ratos, escorpiões e baratas), falta de equipamentos, falhas na rede elétrica e no ar-condicionado e escassez de softwares. Esses problemas se devem a uma medida de Renan. Como ele não pode demitir os funcionários efetivos – e não quer afastar os servidores comissionados que assessoram os senadores –, cortou os terceirizados, cujo foco é a manutenção dos prédios. “O Senado está à beira do colapso”, diz o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), funcionário da Casa desde os anos 1980. Ele discursou em plenário no início da semana passada para reclamar da gestão. Timidamente, com medo de atiçar a ira de Renan, os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) apoiaram Rollemberg.
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