Fábio Góis
O ex-governador do Paraná Roberto Requião (PMDB) disse há pouco que seu partido não tem programa de governo definido para o país. Candidato alternativo (e de última hora) à Presidência da República lançado pelo senador Pedro Simon, presidente da legenda no Rio Grande do Sul, Requião acredita ter chances na convenção nacional partidária a ser realizada amanhã (12), quando deve ser confirmada a indicação do presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), como vice na chapa da presidenciável Dilma Rousseff (PT).
“O que me causa indignação é que não temos um programa. A única coisa que se ressalta naquela récita [espetáculo teatral] que foi colocada, em poucas páginas, garante apenas a autonomia do Banco Central”, fustigou Requião, referindo-se à peça apresentada pelo PMDB à ex-ministra Dilma Rousseff no último dia 9, na qual o partido defende, entre outras coisas, uma poupança para os filhos dos beneficiados pelo Bolsa Família e descarta a criação da CCS – a Contribuição Social para a Saúde, um imposto extra para o setor. “É uma suprema indignidade. Esta posição programática, ao invés de ajudar a candidatura de Dilma Rousseff, atrapalha”.
As declarações de Requião foram feitas no gabinete de Pedro Simon no Senado, que tem servido como uma espécie de quartel general da candidatura peemedebista própria. Foi de lá que foram orquestrados os procedimentos burocráticos que asseguraram o registro do nome de Requião como pré-candidato a ser apresentado na convenção. Para Requião, uma eventual divisão do partido dependerá do evento de amanhã, em Brasília.
“Se a convenção for votada com seriedade, o partido não vai rachar. Mas não acho que exista uma ala do Michel Temer”, declarou o ex-governador, dizendo-se “amigo pessoal” do deputado, a quem classificou como “um dos melhores quadros” do partido. Mas Requião deixou claro que haverá embate entre o grupo majoritário que apoia Temer e os que defendem a candidatura própria. “Mas não há acordo. Há uma imposição regimental que viabiliza a inscrição da minha candidatura. Isso restabeleceu a democracia interna do PMDB.”
Sem muitas chances de vitória na indicação dos correligionários, Requião negou ainda que esteja na disputa apenas para marcar posição no partido. “Por que marcar posição? Estou marcando posição desde que me conheço por gente, quando comecei minha militância política”, discursou, acrescentando que apoiaria Dilma Rousseff caso não fosse avalizado como candidato à sucessão do presidente Lula. Na hipótese de derrota da candidatura própria, admitiu, teria tempo hábil para tentar uma vaga no Congresso. “Se eu não tiver sucesso na indicação, vou me candidatar ao Senado pelo meu estado.”
Resistência
Na semana passada, um impasse burocrático marcou o registro de candidatura de Roberto Requião à Presidência da República. Em comunicado aos militantes, Temer distribuiu ofício aos delegados regionais dos partidos convidando-os para a convenção nacional. “Se eles não aceitassem, eu e o Simon iríamos impugnar essa convenção”, disse Requião, que vai disputar a indicação presidencial com Antônio Pedreira (DF).
Na convocação, porém, Temer mencionou na pauta apenas a sua indicação para vice-presidente na chapa da candidata do PT, Dilma Rousseff, omitindo que também há uma proposta de candidatura própria do partido, encabeçada por Requião. A assessoria de Temer alegou que a inexistência de uma assinatura “autenticada” do ex-governador impediu o registro.
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“Até hoje a executiva nacional negava o registro [da candidatura Requião], dizia que não ia registrar. Foram registrar agora às 16h”, reclamou Simon ao Congresso em Foco, acrescentando que o PMDB “chega difícil” na convenção de amanhã. O senador disse ainda que alguns militantes sequer conheciam o lançamento de Requião. Ou seja, o partido está dividido. “No Rio Grande do Sul só se fala no acordo entre PT e PMDB. Tem muita gente contra [Requião], mas vamos ver se conseguimos.”
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