O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou há pouco que não pretende se afastar da presidência para defender-se da denúncia de que teria tido contas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, funcionário da empreiteira Mendes Júnior. "Não pretendo [pedir licença] porque não há nenhuma acusação contra mim", disse.
Hoje pela manhã o líder do PDT no Senado, Jefferson Peres (PDT-AM), defendeu que Renan se licencie da presidência até que sejam esclarecidas as denúncias contra ele. "Eu acharia até, não quero nem propor isso, pois é uma iniciativa pessoal, que Renan deveria licenciar-se da presidência, para deixar membros do Conselho [de Ética] mais à vontade", disse Jefferson em entrevista à rede CBN.
Em edição antecipada para a última sexta-feira, a revista Veja afirma que o lobista da Mendes Júnior pagou, de janeiro de 2004 até dezembro do ano passado, R$ 12 mil mensais de pensão para uma filha do senador de três anos de idade com a jornalista Mônica Veloso. Gontijo também teria bancado, até março passado, o aluguel de um apartamento em Brasília, no valor de R$ 4,5 mil, para Renan.
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Questionado sobre as explicações que deu ontem (leia) sobre o envolvimento com a Mendes Júnior, o presidente do Senado disse estar certo de que não restam dúvidas de que ele é inocente. "Falei ao Senado, falei ao país. Entreguei absolutamente tudo, não está faltando nada". Imediatamente após o pronunciamento, contudo, algumas das declarações de Renan foram contestadas pelo advogado da mãe de sua filha (leia).
No pronunciamento de ontem, o presidente do Senado não comentou as denúncias do jornal Folha de S. Paulo de que poderia ter trabalhado para incluir obras da Gautama – empresa mãe do esquema de fraude em obras e licitações públicas desbaratado pela Polícia Federal na Operação Navalha – no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Hoje, a Folha divulgou gravações telefônicas feitas pela PF que mostram Renan Calheiros conversando com Flávio Pin, superintendente da Caixa Econômica Federal (CEF) e um dos 47 presos acusados de integrar a quadrilha investigada na Operação Navalha. Eles tratam justamente da liberação de recursos para uma obra em Alagoas, mas a PF não sabe precisar qual.
Uma terceira acusação contra o presidente do Senado, publicada na edição de segunda-feira do jornal O Globo, dá conta de que Renan teria utilizado laranjas para ocultar a posse de fazendas na região de Murici (AL) (leia mais).
A opinião dos senadores
De acordo com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), os partidos políticos podem entrar com representação no Conselho de Ética para abrir processo por quebra de decoro parlamentar, o que pode levar inclusive à cassação. O parlamentar acredita que Renan terá dificuldades para limpar sua reputação porque, "a artilharia será pesada".
O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP) afirmou que analisará o caso com "tranqüilidade". "Assinei ofício hoje para que a Secretaria da Mesa me mandasse os documentos apresentados em plenário. Ontem peguei os documentos com o senador Renan, mas ainda não abri o envelope. Quero sentar em casa, com tranqüilidade, para analisar isso", disse.
Segundo ele, ainda é preciso avaliar "quais os documentos estão faltando". "A minha investigação é preliminar. Vou fazer a investigação independentemente da abertura de processo no Conselho de Ética. Não vai ser uma investigação paralela, mas para colaborar com o conselho", disse Tuma. O corregedor acrescentou ainda que só deixará de fazer a investigação caso seja solicitado pelo presidente do Conselho de Ética, que será instalado amanhã".
"A Casa se pauta por acusações fundamentadas. Todas as afirmações que o presidente fez ele deve ter como provar. Ele apresentou parte da documentação no discurso, e deve ter a complementação", disse o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), argumentando que até o momento não foram apresentadas provas das denúncias divulgadas na Veja.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) falou no plenário da Casa sobre o caso. "A imprensa ainda levanta suspeitas. É importante que Vª Exª faça o esclarecimento completo deste episódio para que não restem mais dúvidas".
Para o senador José Agripino Maia, líder do DEM no Senado, "Renan apresentou provas insuficientes para uma acusação sem provas. Acredito que o corregedor tem que exigir provas para que não restem dúvidas. As provas apresentadas por Renan tiveram abrangência menor que as acusações. Agora cabe ao presidente apresentar provas complementares de sua inocência e aos acusadores, provas das denúncias", avaliou. (Carol Ferrare e Soraia Costa)
(Matéria atualizada às 20h 50)
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