Conversas grampeadas pela Polícia Federal e publicadas hoje pelo jornal Folha de S. Paulo revelam que acusados de participar da quadrilha que fraudava licitações e obras públicas por meio da construtora Gautama articularam para que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), interferisse junto à ministra Dilma Roussef para conseguir a liberação de recursos para a construção da barragem do rio Pratagy, em Maceió (AL).
Segundo as gravações, ao menos três integrantes da quadrilha, todos presos na Operação Navalha, tinham proximidade com Renan e com um de seus assessores, identificado apenas como Everaldo. Nos telefonemas gravados, eles tentavam a inclusão das obras da barragem no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Renan é mencionado em 13 conversas e Everaldo, seu assessor, participa de duas.
A União já repassou R$ 30 milhões dos R$ 70 milhões previstos para a empreitada. Com a inclusão no PAC, que de fato aconteceu, a previsão de gastos foi ampliada para R$ 120 milhões.
Nas gravações, o lobby sobre a ministra Dilma é citado em pelo menos dois momentos. No dia 30 de março, o então secretário e o subsecretário de Infra-estrutura de Alagoas, Adeílson Teixeira Bezerra e Denisson de Luna Tenório, falam em preparar, de forma irregular, um documento sobre a barragem do Pratagy para que Renan pudesse pressionar a ministra.
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Adeílson: "Eles têm que fazer um estudo preliminar em 15 dias […].
Denisson: "Rapaz, em 15 dias não sai."
Adeílson: "Foi esse o prazo que o Enéas [de Alencastro Neto, representante do governo de Alagoas em Brasília] ficou preso lá e a gente prometeu a Renan que a gente fazia".
Denisson: "Como é que você vai fazer uma coisa dessa sem topografia? É chute".
Adeílson: "É chute mesmo, não é projeto executivo […]. É só um documento para o Renan pressionar a Dilma na liberação do recurso".
A juíza Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), relatora do caso, incluiu Denisson e Adeílson no terceiro nível da organização criminosa, formado por funcionários públicos encarregados de remover obstáculos aos interesses da quadrilha. Em troca, receberiam propina.
No dia 23 de abril, Adeílson conversa com Enéas de Alencastro. Ele conta que estivera com Renan Calheiros e dá recados, segundo ele, enviados pelo presidente do Senado.
Adeílson: "Olhe, outra coisa que o senador me pediu. Disse para a gente se sentar, nós dois, e evidentemente levar isso para o governador, e ver o que acrescenta às obras estruturantes para botar logo no PAC".
Em outra gravação, o empresário Zuleido Veras, dono da Gautama, orienta sua secretária a enviar um telegrama desejando parabéns ao senador, a quem chama de amigo. Em uma conversa entre Zuleido Veras, dono da Gautama, e Everaldo, a PF acredita que o assunto era o pagamento de propina, mas não informa a quem.
"Zuleido diz que, para a semana, disseram que resolvem aquele negócio, até segunda. Everaldo diz que tenha cuidado com Olavinho [Olavo Calheiros], pois parece que ele fica em cima, o ministro [não identificado] estava falando. Zuleido diz que tem que ter calma […] e pede para transmitir os parabéns para o amigo [Renan]", diz o relatório da polícia.
No dia 22 de fevereiro deste ano, Fátima Palmeira, funcionária da Gautama, fala com um funcionário da empresa Brastubo chamado Fernando. Ele conta que havia estado com Renan em Maceió e que o senador lhe dissera que sairia R$ 1 bilhão para a adutora do rio São Francisco, em Sergipe (obra também investigada pela PF), e que não faltaria dinheiro para a barragem do rio Pratagy. (Carol Ferrare)
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