Renaro Cardozo
O senador Jefferson Peres (PDT-AM), relator do processo contra o ex-líder do PMDB Ney Suassuna (PMDB-PB), pediu ontem a cassação do parlamentar, acusado de envolvimento com a máfia das ambulâncias. O texto, porém, não foi votado porque o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) encaminhou pedido de vistas. Com isso, a análise do relatório só deve ocorrer no dia 8 de novembro.
Citado no relatório final da CPI dos Sanguessugas, Suassuna perdeu a campanha pela reeleição na Paraíba e deixará o Senado no próximo dia 31 de janeiro. Se o caso não for julgado em plenário até lá, o processo será extinto e o parlamentar conseguirá manter seus direitos políticos. O texto precisa ser votado no Conselho e também na Comissão de Constituição e Justiça da Casa antes de passar pela análise de todos os senadores.
Salgado negou que tenha pedido o adiamento da votação para postergar a tramitação do processo e disse que o relator foi muito duro com o colega. "Acho que o senador exagerou um pouco na dosagem", justificou o senador e atual líder do PMDB no Senado. Peres se justificou: "O documento foi guiado pelas informações obtidas pela própria CPI e pelos documentos entregues pela Corregedoria da Casa".
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O pedetista leu trechos de depoimentos das testemunhas do caso, entre eles o empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam e operador da máfia no Congresso. Outro depoente que também baseou o parecer foi o ex-assessor Marcelo Cardoso de Carvalho, que seria o operador do esquema no gabinete de Suassuna, e a ex-chefe de gabinete Mônica Teixeira, que teria assinado emendas em nome do senador.
Apesar de não ter comprovado que Suassuna participou do esquema dos sanguessugas, conforme a denúncia original, Peres afirmou que o peemedebista quebrou o decoro por ter sido leniente com os dois ex-assessores. "É pela ausência de controle demonstrada, por seu desleixo com a coisa pública e com a dignidade e a respeitabilidade do cargo que ele está sendo julgado."
"Suassuna disse aqui neste Conselho que não havia nos autos nada contra ele. Ainda admitiu que na falsificação de sua assinatura não caberia um processo de decoro parlamentar", declarou o relator ao ler o documento, referindo-se ao fato de Mônica ter afirmado que seu ex-chefe pedia que ela assinasse documentos com freqüência.
Jefferson Peres ainda questionou a ausência de uma reação mais dura por parte do senador ao descobrir que uma emenda dele havia sido alterada e que, ao invés, de beneficiar municípios paraibanos, agraciaria uma ONG do Rio de Janeiro, que Suassuna afirmou não conhecer.
"Não me ponha culpa que eu não tenho"
Depois da leitura do parecer, o presidente do Conselho, senador João Alberto (PMDB-MA), concedeu a palavra a Suassuna. O parlamentar aproveitou a oportunidade para criticar duramente a sugestão de Peres.
"O relator procura fazer ligações que não existem", declarou Suassuna. O senador ainda leu partes do depoimento da ex-assessora em que ela afirma que não tinha certeza de que a emenda para a ONG era de conhecimento do peemedebista. "Não me ponha culpa que eu não tenho", ressaltou o parlamentar. "Não pedi para ninguém colocar meu nome em lugar nenhum", disse.
Quanto ao fato de não ter demitido imediatamente sua chefe-de-gabinete assim que descobriu a falsificação da assinatura dele na emenda, Suassuna respondeu que procurou agir como um "ser humano" e não deixá-la sem emprego.
"Não sou leniente. Sou uma pessoa que confio nos outros e fui traído", disse. "Se o senhor quer esse papel de palmatória do mundo, então seja. Mas Vossa Excelência foi duro demais comigo (…) Sou inocente, completamente inocente e o senhor sabe disso", completou.
Derrota nas eleições
Suassuna acusou Jefferson Peres de ter prejudicado a campanha dele à reeleição na Paraíba ao ter afirmado, em entrevista à imprensa, que não seria "pizzaiolo". "Essa colocação de Vossa Excelência foi exaustivamente usada pelos meus adversários na campanha. Depois dela, perdi seis pontos nas pesquisas de intenção de voto. Vossa Excelência também quebrou o decoro parlamentar ao adiantar seu pensamento à imprensa, e não aos seus pares do Conselho", reagiu.
O ex-líder do PMDB acabou perdendo a eleição ao Senado para Cícero Lucena (PSDB). Suassuna disse a Peres que ele foi responsável pela Paraíba "eleger alguém que roubou R$ 100 mil".
O senador também acusou Peres de ter empregado a esposa no próprio gabinete, o que contraria o pensamento dele em defesa da ética. Peres reagiu à acusação de Suassuna. "Vossa Excelência mentiu ao dizer que a minha mulher é funcionária do meu gabinete. Não queira trazer o episódio para o lado pessoal", reagiu Peres.
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