A sessão de hoje pela manhã do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara foi manchada por suspeitas de acordo entre o PFL e o PP. Na reunião em que seria votado o relatório do processo de cassação aberto contra o deputado Roberto Brant (PFL-MG), o encarregado de relatar o processo, deputado Nelson Trad (PMDB-MS), denunciou que os integrantes do Conselho estão sendo pressionados para votar contra a cassação do deputado mineiro.
Ao começar a reunião, Trad explicou que conversou por telefone com o deputado Pedro Canedo (PP-GO), que lhe dizia que não iria comparecer à reunião do Conselho de Ética. Quase chorando, Canedo comunicou a Trad que não teria condições de ir ao conselho, devido a pressões recebidas pela direção do seu partido.
O deputado goiano explicou ao relator que hoje cedo o presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), quis saber sobre seu voto. Canedo respondeu que votaria com o relator, e que não queria mudar o voto. Pedro Corrêa teria, então, pedido que Canedo esperasse uma reunião da bancada do PP, e não comparecesse à sessão até que os parlamentares discutissem o assunto.
Leia também
Durante a reunião da bancada do PP, o presidente do partido defendeu a substituição de Canedo no Conselho de Ética. Pedro Corrêa lembrou que Canedo já tinha descumprido acordo do partido no relatório do processo de cassação contra o deputado Professor Luzinho (PT-SP). O deputado goiano, relator do processo contra Luizinho, havia se comprometido a votar pela absolvição, mas na última hora pediu a condenação do deputado do PT.
Corrêa, que também responde a processo de cassação no Conselho de Ética, disse que Canedo deveria ser substituído pelo suplente, Celso Russomanno (SP). “Mas não pensem que eu iria ao Conselho de Ética votar pela absolvição do Brant”, protestou Russomanno.
Pressão intolerável
O PP tem quatro deputados sendo investigados no conselho por suposto envolvimento no esquema do “valerioduto”. A direção do partido estaria pressionando os parlamentares da legenda a votarem contra a cassação de Brant, em uma tentativa de conseguir, como retribuição, o apoio do PFL nas votações dos relatórios contra os deputados do PP que respondem a processo no Conselho.
O deputado Benedito de Lira (AL), outro parlamentar do PP no Conselho, garantiu que não sofreu nenhum tipo de pressão, mas classificou o episodio como “lamentável”, e ressaltou que a denúncia é grave. “Eu não recebi este tipo de formulações, mas considero grave e apóio a suspensão da sessão”, afirmou.
Ao saber do ocorrido, Trad se reuniu com o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), para comunicar o ocorrido. O relator disse que a Câmara não pode tolerar mais esse tipo de pressão, e pediu que a sessão fosse suspensa.
Sem trocas
Logo depois da reunião suspensa, Izar avaliou que falhou a primeira tentativa prática de fazer valer o “acordão” para livrar os deputados envolvidos em esquemas de corrupção de qualquer punição. “Não há acordo. Não tem como um acordão dar certo aqui no Conselho. Vamos apurar as denúncias e quem fez a pressão sobre o deputado Pedro Canedo será denunciado não só no Conselho, mas na tribuna da Casa”, disse o presidente do Conselho de Ética.
Ouvido pela imprensa sobre o assunto, o deputado Roberto Brant negou que esteja sendo negociado algum tipo de acordo entre seu partido e o PP para livrar parlamentares das duas legendas que respondem a processo de cassação no Conselho de Ética. Brant disse ainda que o suposto acordo é inútil, porque quem dará a palavra final no processo será o Plenário da Câmara. “Eu quero ser absolvido pela minha inocência e pela absoluta injustiça desse processo, e não por troca de qualquer natureza.”
Pela consciência
Depois da confusão, Pedro Canedo chegou pouco antes das 13h ao Conselho de Ética afirmando que vai votar pela cassação do mandato do deputado Roberto Brant, seguindo o voto do relator. “Acabei de receber orientação do partido para votar de acordo com minha consciência”, afirmou Canedo.
Deixe um comentário