O depoimento do jornalista Luiz Carlos Bordoni à CPI do Cachoeira foi mais convincente do que as declarações dadas pelo governador de Goiás, Marconi Perillo. Essa foi a avaliação feita pelo relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-SP). Para ele, não há motivos claros para duvidar do que Bordoni disse aos parlamentares, pois o jornalista conhece Perillo há mais de 14 anos. No entanto, o deputado ressaltou que haverá sempre “o benefício da dúvida”.
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Acareação
Em seu depoimento, Bordoni afirmou ter recebido dinheiro do esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira pelo trabalho que fizera na campanha de Perillo em 2010. “Eu trago aqui a verdade dos fatos. Pelo meu trabalho limpo, eu fui pago com dinheiro sujo”, afirmou. Confrontado pelos membros da CPI, Bordoni disse que aceitaria fazer uma acareação entre todos os envolvidos, até mesmo Carlinhos Cachoeira. A deputada Íris de Araújo (PMDB-GO) afirmou que na próxima reunião administrativa apresentará requerimentos para realizar a acareação.
“A CPI tem todos os meios para apurar isso, mas se for necessário fazer a acareação, eu não fujo dela não. Eu não tenho por que fugir. Para mim seria interessante colocar o Lúcio, o Jayme Rincón, essas pesosas que não vieram aqui depor ou que vieram com habeas corpus e ficaram aqui caladas. Porque eles que sabem onde é que está a história. Eles são os personagens desse caminho subterrâneo que existe na questão do dinheiro de campanha”, disse Bordoni ao fim da reunião.
Crime fiscal
Bordoni confessou à CPI que não declarou no Imposto de Renda os R$ 40 mil recebidos em dinheiro vivo das mãos do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O pagamento foi parte do acertado pelos serviços prestados como radialista durante a campanha de 2010. Segundo o jornalista, o montante foi entregue em um envelope amarelo no gabinete de Perillo, no Palácio das Esmeraldas, sede do governo. Mas o jornalista disse não ter como comprovar as circunstâncias do repasse porque na ocasião só estavam ele e o governador.
Bordoni disse ainda que acertou verbalmente, em conversa com Perillo, a sua atuação na campanha para produzir material de rádio. “Acertei pessoalmente com ele, contrato verbal entre amigos. […] O que existiu, de fato, foi um pagamento de caixa dois […]. Esperava ter sido pago com dinheiro limpo, não com dinheiro da contravenção, de caixa dois.”
O acerto foi de que a participação renderia R$ 120 mil durante a campanha e R$ 50 mil de bônus pela vitória. De acordo com o jornalista, do total acertado, foram pagos R$ 80 mil durante a campanha, sendo que ele recebeu R$ 40 mil do próprio Marconi Perillo, R$ 30 mil do setor financeiro da campanha, conforme consta em nota fiscal da empresa Artmidia, e R$ 10 mil em espécie do ex-tesoureiro Jayme Rincón. Teria ficado faltando ainda uma parcela de R$ 90 mil – R$ 40 mil pela campanha e o restante referente ao bônus. O montante que restava foi pago em duas parcelas de R$ 45 mil, uma efetuada pela empresa Alberto e Pantoja e outra pela Adécio e Rafael Construtora e Terraplanagem.
A parte paga pela Alberto e Pantoja foi depositada na conta da filha de Bordoni, que justificou a ação porque estaria viajando na época. Ele disse ainda que é a filha quem cuida de suas contas e gerencia a sua vida. Por isso, ela teria liberdade para receber o dinheiro do pai. “O pagador de contas de Marconi Perillo, Lúcio Fiúza Gouthier, passou o número da conta da minha filha para uma quadrilha e envolveu o nosso nome nessa investigação”, disse. Bordoni disse que na época, não sabia da existência da empresa e que só veio a conhecê-la depois que o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) falou sobre ela no depoimento prestado ao Conselho de Ética do Senado, em 29 de maio.
Chantagens
Parlamentares da oposição afirmam que o dinheiro pago a Bordoni seria uma forma de tentar calá-lo, pois fazia críticas à Delta no estado de Goiás, o que poderia prejudicar negócios da empresa. Segundo as investigações da Polícia Federal, a Delta Construções era o braço financeiro do esquema de Cachoeira no Centro-Oeste. Em uma das gravações feita pela PF, na operação Monte Carlo, em que Cachoeira manda pagar Bordoni. A mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, também confirma a versão. Bordoni classificou o fato como uma estratégia para desacreditá-lo.
O jornalista contou aos parlamentares que cabia à ex-chefe de gabinete de Perillo Eliane Pinheiro manter contato com Carlinhos Cachoeira. Eliane foi à CPI hoje para prestar depoimento, mas, amparada por habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal, decidiu ficar em silêncio e foi dispensada. O jornalista contou ainda que a servidora viajou para os Estados Unidos com as despesas pgas pelo bicheiro e que ela também tinha um dos rádios Nextel usados pela organização.
Bordoni também confirmou que sua filha chegou a ser contratada para trabalhar no gabinete do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). O jornalista informou que ela não assumiu o cargo porque teve problemas sérios de saúde. O jornalista disse ainda que já fez campanha para Demóstenes Torres e que não sabia do envolvimento do senador com Cachoeira.
Contraponto
Por meio de nota, o governo de Goiás afirmou que Bordoni “mais uma vez vem a público para fazer, contra o governador de Goiás, Marconi Perillo, acusações falsas, levianas e fantasiosas, sem nenhuma conexão com a realidade dos fatos e sem provas. A nota afirma ainda que o jornalista terá que responder às acusações na Justiça, “nos termos do processo já ajuizado pelo governador Marconi Perillo”.
Leia abaixo a íntegra da nota:
Nota do Governo de Goiás
A respeito das afirmações feitas pelo jornalista Luiz Carlos Bordoni à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional, o Governo de Goiás considera que:
1 – Mais uma vez o senhor Luiz Carlos Bordoni vem a público para fazer, contra o governador de Goiás, Marconi Perillo, acusações falsas, levianas e fantasiosas, sem nenhuma conexão com a realidade dos fatos e sem provas.
2 – A comparação das diversas versões sobre valores pagos pelos serviços prestados pelo jornalista durante a campanha eleitoral revela flagrantes contradições, com o único intuito de agredir, certamente por motivações espúrias, a honra do governador Marconi Perillo, que já prestou todos os esclarecimentos sobre o caso em seu depoimento à CPMI do Congresso Nacional.
3 – As afirmações do senhor Luiz Carlos Bordoni, completamente infundadas, terão de ser respondidas na Justiça, nos termos do processo já ajuizado pelo governador Marconi Perillo.
Goiânia, 27 de junho de 2012
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