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Dois dias depois de envolver pela primeira vez o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma de suas denúncias, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) recuou e inocentou ontem o petista de participação em qualquer irregularidade, em depoimento prestado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Mensalão. Na terça-feira, Jefferson havia acusado o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de ter autorizado dois emissários – um do PT e outro do PTB – a viajarem até Lisboa, em janeiro, para negociar uma ajuda financeira para os dois partidos. A viagem teria ocorrido um mês após Dirceu ter supostamente aproximado Lula de diretores da Portugal Telecom. "Não faço na minha cabeça nenhuma ilação que o presidente possa ter participado disso. Se minha declaração em algum momento levantou suspeita sobre o presidente Lula, quero dizer que não fui claro", disse. Leia também Ontem Jefferson deu detalhes sobre o que estaria por trás da viagem do tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, e do empresário Marcos Valério Fernandes, que seria o representante do PT, a Lisboa. Os dois teriam tentado, sem sucesso, obter o equivalente a R$ 24 milhões da Portugal Telecom. O deputado disse que a operação envolveria um projeto de “reestatização” de linhas de transmissão de distribuidoras da Eletronorte, articulada entre Valério e o ex-ministro de Obras Públicas de Portugal, Antonio Mexia. A viagem seria o primeiro passo de um esquema revelado, segundo Jefferson, posteriormente pelo próprio Valério. O empresário teria pedido ao petebista que convencesse o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), presidido na época pelo PTB, a transferir para o Banco Espírito Santo (de Portugal) US$ 600 milhões que estavam depositados em contas da estatal na Inglaterra e na Suíça. O banco português é o principal acionista da Portugal Telecom. De acordo com Jefferson, Valério teria dito que, em contrapartida, o banco financiaria a reestatização das linhas de distribuição de energia da Eletronorte, também comandada à época pelo PTB, num negócio que envolveria R$ 4 bilhões. “Para ele, seria possível repassar ao PT e ao PTB de R$ 90 milhões a R$ 120 milhões”, disse Jefferson. Mas os banqueiros portugueses não teriam aceitado a proposta. Contradição Ao longo de 12 horas de depoimento, Jefferson caiu em flagrante contradição. Primeiro, repetiu a versão que sustenta há dois meses de que teria guardado os R$ 4 milhões supostamente repassados pelo PT para o PTB em 2004. Pressionado por um deputado, disse ter distribuído parte do dinheiro entre candidatos do partido nas últimas eleições. Jefferson se recusou, no entanto, a revelar o nome dos beneficiários. “Não tenho condições (de devolver o dinheiro). Eu distribuí. Só não vou dizer para quem. Foi para coligações e para companheiros que eram candidatos”, disse. O petebista declarou ainda que o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, estaria negociando com o presidente do PT, Tarso Genro, a legalização do repasse não declarado à Justiça Eleitoral. Ainda ontem, Walfrido negou a tratativa. O presidente licenciado do PTB também admitiu que o partido recebeu, em outras duas oportunidades, dinheiro de Valério. Uma vez para pagar dívidas da campanha de 2002; outra para ajudar um assessor do ex-presidente do partido José Carlos Martinez. Gushiken Embora tenha preservado o presidente Lula, Jefferson afirmou que o foco de corrupção está no Palácio do Planalto e envolveu o ex-ministro de Comunicação de Governo Luiz Gushiken em suas denúncias. “O útero, a matriz da corrupção não está aqui (Congresso Nacional). Está do outro lado da rua”, disse. "Ele (Dirceu) não está só, o Gushiken está com ele com certeza. Não conversei isso (o mensalão) com o ministro Gushiken, mas ele autorizou que essa movimentação escandalosa dessas agências existissem", completou. O ex-ministro divulgou nota ontem em que repudia veementemente as declarações do petebista. Fato inusitado do depoimento ficou por conta de uma atitude intempestiva de Jefferson. Ele perdeu o controle emocional. Irritado com o questionamento do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sobre uma reportagem que sustenta que teria se encontrado no início do ano em Mato Grosso do Sul com Maurício Marinho, funcionário dos Correios acusado de corrupção, Jefferson rasgou a cópia da matéria encaminhada pelo petista à mesa diretora. Foi repreendido pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que presidia a sessão. |
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