A nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, assumiu o mandato de dois anos nesta segunda-feira (18) sem fazer referência expressa à Operação Lava Jato, mas prometendo ser firme no combate à corrupção. Adversária interna de seu antecessor, Raquel agradeceu a Rodrigo Janot, que não estava presente na plateia, pelo legado deixado à frente da instituição. Segundo ela, o povo brasileiro “não tolera a corrupção” e o Brasil passa por um momento de “depuração”.
Já o presidente Michel Temer, que entrou em confronto aberto com Janot nos últimos meses, evitou falar em corrupção e nos nomes da operação e do agora ex-procurador-geral da República. Preferiu fazer uma menção velada a Janot, a quem passou acusar de abuso de autoridade desde que entrou na mira do procurador-geral, com a divulgação dos áudios dele com o empresário Joesley Batista, da J&F.
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“Foi com prazer extraordinário, doutora Raquel, que ouvi dizer que a autoridade suprema não está nas autoridades constituídas, mas na lei. Toda vez que há um ultrapasse dos limites da Constituição Federal ou da lei, verifica-se um abuso de autoridade. Porque a lei é a maior autoridade do nosso sistema”, disse Temer logo após o discurso de Raquel.
O presidente também fez uma deferência à “delicadeza pessoal e institucional” da nova chefe do Ministério Público por ter antecipado o horário de sua posse por causa da viagem dele aos Estados Unidos nesta segunda-feira.
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Além de Temer, outros dois investigados se sentaram ao lado de Raquel Dodge e da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, durante a cerimônia: os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Os três são investigados na Operação Lava Jato, cujos rumos estarão agora nas mãos da nova procuradora-geral.
“O país passa por um momento de depuração. Os órgãos do sistema de administração de justiça têm no respeito e harmonia entre as instituições a pedra angular que equilibra a relação necessária para se fazer justiça em cada caso concreto”, discursou Raquel.
A procuradora recorreu ao Papa Francisco para fazer sua crítica à corrupção: “O papa Francisco nos ensina que a corrupção não é um ato, mas uma condição, um estado pessoal e social, no qual a pessoa se habitua a viver. O corrupto está tão fechado e satisfeito em alimentar a sua autossuficiência que não se deixa questionar por nada nem por ninguém. Construiu uma autoestima que se baseia em atitudes fraudulentas. Passa a vida buscando os atalhos do oportunismo, ao preço de sua própria dignidade e da dignidade dos outros. A corrupção faz perder o pudor que protege a verdade, a bondade e a beleza”.
Raquel também citou em seu discurso a poetista goiana Cora Coralina, sua conterrânea. “Neste início de mandato, peço a proteção de Deus para que nos momentos em que eu for colocada à prova, não hesite em proteger as liberdades, em cumprir o meu dever com responsabilidade, em fazer aplicar a Constituição e as leis, para entregar adiante com segurança o legado que recebo agora, e que eu então possa dizer, parafraseando a grande poetisa Cora Coralina, de meu amado estado de Goiás, que contribuí para que haja mais esperança nos nossos passos do que tristeza em nossos ombros”, discursou.
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