Edson Sardinha*
As empreiteiras, as siderúrgicas e mineradoras e as instituições financeiras lideram o ranking dos segmentos que mais injetaram recursos nas campanhas eleitorais dos senadores eleitos. De acordo com a prestação de contas divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), esses três setores contribuíram com pelo menos R$ 5,91 milhões dos R$ 35,02 milhões arrecadados pelos candidatos eleitos ao Senado. Grande parte do dinheiro, porém, saiu mesmo foi dos comitês financeiros dos partidos.
Até o fechamento desta edição, apenas as contas do senador Expedito Junior (PPS-RO) não estavam disponíveis na internet. A julgar pelas declarações à Justiça eleitoral, os senadores não podem se queixar: arrecadaram mais do que gastaram. As despesas declaradas foram de R$ 34,77 milhões. Excluindo-se Expedito, cada um dos senadores eleitos gastou, em média, R$ 1,33 milhão, enquanto arrecadou R$ 1,35 milhão.
Dinheiro do aço
Controlada pela Companhia Vale do Rio Doce, que doou R$ 150 mil para a campanha da senadora eleita Rosalba Ciarlini (PFL-RN), a mineradora Caemi foi a empresa que depositou o maior volume de recursos na campanha: R$ 800 mil para os senadores José Sarney (PMDB-AP), Mário Couto (PSDB-PA), Francisco Dornelles (PP-RJ) e Renato Casagrande (PSB-ES).
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Couto e Sarney lideram a lista dos senadores que mais receberam recursos dos R$ 2,16 milhões aplicados pelas empresas do setor: R$ 450 mil e R$ 440 mil, respectivamente. Logo atrás deles, aparece o senador eleito por Minas Gerais, Eliseu Resende (PFL), com R$ 420 mil. Também estão entre os financiados por mineradoras ou siderúrgicas os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Inácio Arruda (PCdoB-CE) e Pedro Simon (PMDB-RS).
Bancos
Dos R$ 805 mil repassados pelas instituições financeiras para a campanha, R$ 600 mil saíram do Banco Itaú. Um terço desse valor foi para a campanha de Francisco Dornelles. Além de Suplicy e Rosalba, também conseguiram recursos do banco os senadores eleitos Kátia Abreu (PFL-TO) e Marconi Perillo (PSDB-GO).
O ex-governador de Goiás, aliás, foi o campeão em arrecadação. O tucano declarou ao TSE ter arrecadado R$ 3,55 milhões. Eleito com 75,83% dos votos válidos, ele recebeu R$ 150 mil de outra instituição financeira, o BMG. O banco mineiro ganhou notoriedade nacional no ano passado por ter sido usado no esquema do empresário Marcos Valério.
Responsável pela maior doação à campanha de Marconi, a MMC Automotores do Brasil (Mitsubishi) destinou R$ 330 mil para a eleição do senador goiano. O volume de recursos recebidos pelo tucano representa 44 vezes a receita declarada pelo senador eleito pelo Maranhão Epitácio Cafeteira (PTB) – R$ 81,5 mil.
Construção
Com contribuições bastante diluídas, as construtoras injetaram cerca de R$ 2,95 milhões nas campanhas dos senadores eleitos. O maior beneficiário do setor foi o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PMDB-DF), com mais de R$ 1 milhão. Na seqüência, aparece Eliseu Resende, que recebeu aproximadamente R$ 570 mil para turbinar sua campanha, a terceira mais cara (R$ 2,51 milhões).
O dono da segunda campanha mais cara é o senador eleito por um dos estados mais pobres do país, o Piauí. João Vicente Claudino (PTB) declarou à Justiça eleitoral ter arrecadado R$ 3,23 milhões e gastado R$ 3,28 milhões para se eleger. A maior parte do dinheiro saiu da empresa da família do petebista, a Claudino S/A Lojas de Departamentos, de acordo com as informações prestadas ao TSE.
Do próprio bolso
Dono do 11º maior patrimônio declarado à Justiça Eleitoral entre os todos os candidatos que disputaram as eleições deste ano, o senador eleito Jayme Campos (PFL-MT) foi o que tirou do próprio bolso o maior volume de recursos para a campanha eleitoral. Agropecuarista, com patrimônio de R$ 14 milhões, Jayme investiu, por conta própria, R$ 840 mil em sua eleição (veja a relação dos candidatos mais ricos).
Apenas dois senadores – Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) – declararam não ter recebido dinheiro diretamente de empresas. Segundo Jarbas, os R$ 2.114.847,48 arrecadados em sua campanha foram repassados pelo comitê financeiro do PMDB. O TSE não informa se o dinheiro é exclusivamente do fundo partidário ou se foi repassado por empresas ao partido.
Cientistas políticos ouvidos pelo Congresso em Foco observam que não há nenhum mal nas contribuições feitas pelas empresas. Mas que é fundamental a divulgação dos financiadores de campanha para que o eleitor possa cobrar mais transparência dos parlamentares no Congresso (leia mais).
Veja, a seguir, a relação dos doadores de campanha dos senadores eleitos, de acordo com informações prestadas ao TSE.
Alfredo Nascimento (PL-AM)
Alvaro Dias (PSDB-PR)
Cícero Lucena (PSDB-PB)
Eduardo Suplicy (PT-SP)
Eliseu Resende (PFL-MG)
Epitácio Cafeteira (PTB-MA)
Expedito Filho (PPS-RO)
Fernando Collor (PRTB-AL)
Francisco Dornelles (PP-RJ)
Inácio Arruda (PCdoB-CE)
Jayme Campos (PFL-MT)
Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE)
Joaquim Roriz (PMDB-DF)
João Durval (PDT-BA)
João Vicente Claudino (PTB-PI)
José Sarney (PMDB-AP)
Kátia Abreu (PFL-TO)
Marconi Perillo (PSDB-GO)
Maria do Carmo (PFL-SE)
Mário Couto (PSDB-PA)
Marisa Serrano (PSDB-MS)
Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR)
Pedro Simon (PMDB-RS)
Raimundo Colombo (PFL-SC)
Renato Casagrande (PSB-ES)
Rosalba Ciarlini (PFL-RN)
Tião Viana (PT-AC)
(*Colaborou Renaro Cardozo)
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