Edson Sardinha
A crise desencadeada pelas denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) abalou a República ao derrubar dois dos mais poderosos ministros do governo Lula, a cúpula do PT e diretores de várias estatais. O escândalo também obrigou o presidente a fazer várias acomodações em seu ministério para tentar recompor a base aliada.
Veja quais foram as principais baixas provocadas pelo escândalo:
MINISTROS
José Dirceu
O ministro da Casa Civil pediu demissão em 16 de junho, dois dias após ser acusado pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), no Conselho de Ética da Câmara, de ser o mentor do esquema de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada, o mensalão. Considerado o braço-direito do presidente Lula, Dirceu começou a perder prestígio e poder no início de 2004, quando estourou o caso Waldomiro Diniz. O então assessor da Casa Civil foi flagrado em um vídeo pedindo propina ao empresário de jogo do bicho Carlos Cachoeira. O episódio ocorreu quando Diniz dirigia a Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj). De volta à Câmara, o deputado não conseguiu escapar da cassação. Está inelegível até 2015. Nos próximos dias, promete recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reaver o mandato.
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Luiz Gushiken
Após acusações de favorecer a Globalprev, empresa da qual foi sócio, e as revistas da Ponto de Vista Editorial, de propriedade de seu cunhado Luís Leonel, Gushiken ficou sem o status de ministro da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica no dia 12 de julho. Rebaixado à condição de secretário, Gushiken perdeu no final de julho o controle sobre a verba milionária de publicidade oficial (na casa dos R$ 800 milhões). Em seguida, acabou sendo destacado para comandar o Núcleo de Assuntos Estratégicos do Palácio do Planalto.
PARTIDO DOS TRABALHADORES
José Genoino
O ex-deputado federal renunciou à presidência do partido no dia 9 de julho. Genoino deixou o cargo um dia após a prisão de um assessor de seu irmão, o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), com US$ 100 mil na cueca e R$ 200 mil em uma mala. A situação do presidente do partido se complicou com a descoberta de que ele assinou dois contratos de empréstimo em que o publicitário Marcos Valério Fernandes, acusado de ser operador do mensalão, foi avalista do PT. Genoino também é acusado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ter omitido à Justiça Eleitoral o repasse de R$ 4 milhões para o PTB financiar a campanha eleitoral de 2004. Ele foi substituído por Tarso Genro, que acumulou o Ministério da Educação até a última semana de julho.
Sílvio Pereira
Secretário-geral do PT, Sílvio foi o primeiro integrante da cúpula petista a se afastar do cargo no dia 4 de julho. Era ele, segundo o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o responsável pelo loteamento de cargos no governo federal. Ainda de acordo com a denúncia, os indicados por Sílvio arrecadariam dinheiro nas estatais para abastecer o mensalão. No dia 22 daquele mês, ele acabou se desfiliando do partido, do qual foi um dos fundadores, após confirmar que recebeu um veículo, no valor de R$ 70 mil, da empresa GDK, que presta serviços à Petrobras.
Delúbio Soares
Principal elo entre o PT e o empresário Marcos Valério Fernandes, o ex-tesoureiro do PT se afastou do cargo no dia 5 de julho. Delúbio confirmou ter cometido crime eleitoral ao não declarar todo o dinheiro arrecadado para as campanhas eleitorais do PT à Justiça. Além disso, o ex-tesoureiro admitiu que pediu a Valério que avalizasse empréstimos em favor do PT sem que o restante da cúpula partidária tivesse conhecimento. Acabou expulso do partido em outubro do ano passado.
Marcelo Sereno
Assim como Silvio Pereira, o ex-secretário de Comunicação do PT é acusado de participar de loteamento de cargos e de ingerência nos investimentos de alguns fundos de pensão. Segundo Roberto Jefferson, Sereno e o ex-presidente do partido José Genoino teriam repassado dinheiro ao PTB sem declarar à Justiça Eleitoral. Sereno deixou a Secretaria de Comunicação do PT no início de julho.
ESTATAIS E AUTARQUIAS
No total, foram mais de 30 exonerações e demissões ocorridas no rastro das denúncias do escândalo. As principais foram:
Mauro Marcelo de Lima e Silva
Até o dia 13 de julho, Mauro Marcelo era o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Nessa data, no entanto, ele foi demitido do cargo pelo vice-presidente, José Alencar (PL), à época presidente em exercício. A demissão de Mauro Marcelo veio após o então diretor da Abin criticar a CPI dos Correios, chamando os membros da comissão de “bestas-feras em pleno picadeiro”.
João Henrique de Almeida Souza e Luiz Appolonio Neto
Presidentes da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), respectivamente, ambos foram afastados pelo presidente Lula no dia 7 de junho, três semanas depois da denúncia sobre a existência de um esquema de corrupção em ambas as entidades.
Maurício Marinho
Pivô do escândalo dos Correios, o chefe do departamento de Contratação e Aquisição e Material da estatal foi afastado do cargo após publicação de reportagem em que ele aparece recebendo propina de empresários.
Antonio Osório
O então diretor de Administração dos Correios foi afastado do cargo após ter seu nome citado na fita de vídeo em que o então chefe do departamento de Contratação e Aquisição e Material dos Correios, Maurício Marinho, aparece recebendo propina de empresários.
Eduardo Medeiros de Morais
Depois da denúncia de que estaria envolvido com superfaturamento de contratos, o diretor de tecnologia dos Correios pediu demissão no dia 8 de junho.
Henrique Pizzolato
Diretor de Marketing do Banco Brasil, teria recebido R$ 326 mil da conta da SMP&B, agência do empresário Marcos Valério. O saque foi feito por um auxiliar da Previ, plano de previdência do Banco do Brasil. Não muito tempo depois, Pizzolato teria comprado um apartamento de R$ 400 mil em Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ). O peso da acusação fez com que deixasse a direção do Banco do Brasil em 15 de julho.
Dimas Toledo
O ex-diretor de Engenharia de Furnas caiu em 1º de julho depois de ser acusado por Roberto Jefferson de comandar um esquema de caixa dois na estatal para financiar partidos da base aliada. Dimas ganhou nova projeção nas últimas semanas com a divulgação de uma lista em que aparece o nome de 156 políticos de 12 partidos que teriam recebido dinheiro de caixa dois em 2002. Na época, ele já era diretor de Furnas. Dimas nega a autoria da lista, que compromete principalmente os partidos da oposição. A autenticidade do documento é questionada inclusive por integrantes da base governista.
Rodrigo Botelho Campos e José Roberto Cesaroni Cury
Diretores, respectivamente, de Gestão Corporativa e de Finanças da empresa estatal Furnas Centrais Elétricas. Deixaram o cargo em 1º de julho, após denúncias de corrupção feitas pelo deputado Roberto Jefferson. Segundo o petebista, eles repassariam R$ 1 milhão ao PT de Minas Gerais, por meio de Rodrigo Botelho; R$ 500 mil ficariam com a própria diretoria. Outros R$ 500 mil levantados na estatal seriam repartidos entre um pequeno grupo de deputados da base aliada, grupo que teria nomeado Cury como diretor financeiro de Furnas.
Marcus Flora
Vinha ocupando interinamente o cargo de subsecretário de Comunicação Institucional, antiga Secom, desde a saída de Luiz Gushiken. Subsecretário da Presidência da República, teve de oficializar no dia 1° de agosto sua saída do governo. O nome de Marcus Flora aparece nas páginas da agenda da secretária Karina Somaggio, que trabalhou com o publicitário Marcos Valério.
CARGOS ENTREGUES
Após o surgimento do escândalo, os indicados pelo PTB para cargos em estatais pediram demissão, à exceção do ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia. Por orientação de Roberto Jefferson, deixaram os seus cargos: Roberto Garcia Salmeron , presidente das Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte), em 6 de junho; o diretor da Eletrobrás Termonuclear S/A (Eletronuclear), Luiz Rondon Teixeira de Magalhães ; e o diretor do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Emerson Elói Palmieri. Posteriormente, foram acrescidos a essa lista o vice-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Carlos Alberto Cotta, bem como José Marcos Castilho, que ocupava a diretoria de Administração da Eletronuclear, e o diretor de Operações da BR Distribuidora, Fernando Cunha.
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