Os acordos selados entre as legendas para a eleição da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados continuam conduzindo a distribuição de poder dentro da Casa. A vez, agora, é do PTB cobrar a parte que lhe cabe por ter ajudado a eleger o presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP). O deputado Ricardo Izar (PTB-SP) afirma que os petistas empenharam a palavra em mantê-lo na presidência do Conselho de Ética e promete disputar as eleições se for necessário.
A maior resistência em deixar o Conselho com o petebista vem do próprio Partido dos Trabalhadores. A série de promessas feitas pelo grupo de Chinaglia irritou uma ala da legenda que não se conforma em abrir mão de mais espaço. Na formação das comissões permanentes, os petistas tiveram que desistir de áreas almejadas como Comunicações, Ciência e Tecnologia para os tucanos ou Educação e Cultura para os peemedebistas.
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Mas o PTB não parece estar interessado nas querelas internas dos companheiros de bloco e exige sua parte no acerto. Izar lembra que além do apoio na eleição do presidente da Casa, a legenda ainda deixou de concorrer a uma vaga na Mesa. Na definição das comissões, caso o PTB não tivesse se aliado ao megabloco governista, teria melhor colocação na ordem de escolha. Por último, os petebistas se valem de ainda ter cedido vagas na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) para os petistas. Eles alegam ter feito tudo isso em troca da promessa de manter a presidência do Conselho de Ética.
Operação abafa?
Por outro lado, integrantes do PT afirmam desconhecer qualquer negociação nesse sentido e dizem ter mais direito do que os petebistas, uma vez que o PT tem duas vagas no conselho enquanto o PTB possui apenas uma.
Segundo parlamentares de outros partidos, o interesse real do PT é controlar o Conselho de Ética visando abafar possíveis processos contra deputados do partido, como Juvenil Alves (PT-MG), que é investigado por lavagem de dinheiro
Um deputado petista ouvido pelo Congresso em Foco nega essa versão. Lembra que Juvenil talvez saia do PT, onde ficou em situação desconfortável desde que foi acusado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público de chefiar uma quadrilha que fraudava documentos, sonegava impostos e lavava dinheiro. Já Paulo Rocha, acrescenta o petista, dificilmente teria problemas em “um julgamento limpo”, já que inexistiriam provas, “pelo menos até aqui”, capazes de incriminá-lo.
Mais que isso, o parlamentar enfatiza que todas as bancadas, incluindo a do PT, perceberam que o ambiente é outro e a população não aceitaria agora a repetição das absolvições em massa ocorridas na legislatura anterior. Fique com quem ficar o Conselho de Ética, aposta o deputado, ele tende a atuar num clima mais propício à preservação do decoro parlamentar e à recuperação da credibilidade do Parlamento.
Disputa no PT
Seja como for, Izar garante ter condições de vencer os petistas numa eleição interna. O Conselho de Ética possui 15 vagas a serem indicadas pelas lideranças. Segundo o petebista, ele já recebeu a garantia de oito votos, número que lhe garantiria a vitória. Os nomes dos membros do conselho ainda não são conhecidos e só deverão ser anunciados, junto com a escolha do presidente, depois do Carnaval.
Mas antes mesmo de enfrentar o PTB numa eleição do conselho, os petistas precisam resolver outra disputa interna. Os deputados José Eduardo Cardozo (PT-SP) e Odair Cunha (PT-MG) pleiteiam a mesma vaga e protagonizam mais uma batalha entre as tendências da legenda. Enquanto Cardozo atua como independente, Odair faz parte do Campo Majoritário – a maior ala do partido, que acaba de contabilizar mais duas vitórias emplacando Luiz Couto (PT-PB) e Zezéu Ribeiro (PT-BA) nas comissões de Direitos Humanos e Desenvolvimento Urbano, respectivamente.
Além disso, a comissão de Finanças e Tributação ficou com o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). Apesar de ser do Movimento PT (mesma ala de Chinaglia), ele mantém boas relações com o Campo Majoritário, tendência da qual ainda fazem parte o presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu.
Os principais derrotados nas últimas disputas petistas ficaram com promessas de serem contemplados com novas oportunidades. O deputado Cláudio Vignatti (PT-SC), da Articulação de Esquerda, deverá ser o relator do Plano Plurianual (PPA), enquanto o deputado Paulo Rubem (PT-PE), da Democracia Socialista (DS), deverá ficar com outro cargo, ainda a ser definido.
Outras batalhas
Mas não é só o PT que vive suas brigas internas. Outros partidos também buscam azeitar o relacionamento entre seus membros. Uma troca de favores no PMDB foi responsável pela indicação mais polêmica nas comissões. Após apoiar a indicação do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para a liderança da legenda na Câmara, a bancada do Rio de Janeiro exigiu a presidência da cobiçada CCJ.
Com o favor retribuído, o PMDB fluminense botou Leonardo Picciani (PMDB-RJ), de 27 anos, na mais importante comissão da Casa. Além da pouca experiência, o parlamentar é sócio do pai, Jorge Picciani, que acaba de se eleger – pela terceira vez consecutiva – presidente da Assembléia Legislativa do Rio. As empresas da família estão sendo investigadas pelo Ministério Público sob as suspeitas de fraude fiscal e lavagem de dinheiro. Se Picciani é o alvo mais notório, não se pode negar que todo o partido se desgasta com a situação.
Para conseguir manter o bloco funcionando após o Carnaval, o PSB cedeu uma das comissões a que tinha direito para o PCdoB. As legendas do chamado “bloquinho” (integrado pelos dois partidos e o PDT) começaram a se atritar nos últimos dias, e o PSB precisou ceder a Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional para o PCdoB. O grupo já havia previsto o acerto, caso a candidatura de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à reeleição não alcançasse a vitória. Mesmo assim, o acordo precisou ser novamente debatido entre as legendas.
No PSDB e no PFL, que formam outro bloco junto com o PPS, o critério para a divisão de comissões foi regional. As três comissões tucanas foram entregues a representantes do Sudeste, Norte e Centro-Oeste: Júlio Semeghini (SP) na Ciência e Tecnologia, Nilson Pinto (PA) no Meio Ambiente e João Campos (GO) na Segurança Pública.
Os pefelistas distribuíram as comissões para Minas Gerais (Marcos Montes, presidente da Comissão de Agricultura) e São Paulo (Jorge Tadeu Mudalen, Seguridade Social e Família), demonstrando interesse em reforçar a presença do partido no Sudeste. Segundo interlocutores da legenda, a Bahia já havia sido contemplada com a vice-liderança, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto; o Rio de Janeiro, com a liderança, até 2006, de Rodrigo Maia, agora cotado para presidir o partido; e o Rio Grande do Sul, estado do novo líder pefelista, Onyx Lorenzoni.
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