Rudolfo Lago, Renata Camargo e Sylvio Costa
Final da manhã de quinta-feira (9). A cúpula petista no Congresso reúne-se no gabinete do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza. Tratam da cerimônia de sepultamento de um zumbi que ronda o quarto andar do Palácio do Planalto, o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Na crise política que levou à demissão do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, Luiz Sérgio entrou de carona. É ponto pacífico que perdeu as condições de permanecer no cargo e de exercer o comando da articulação política. É ponto pacífico que sairá do ministério. Os problemas são três. Quem irá substituí-lo? Sua substituição estancará a crise? É preciso que a substituição aconteça logo: não dá para manter por muito tempo em um ministério alguém que já não reúne condições de exercer seu cargo.
Era em torno disso que se dava a reunião. O diagnóstico da presidenta Dilma Rousseff para os seguidos problemas que têm acontecido na relação de seu governo com sua base política no Congresso é que a peça-chave dessa crise é o seu próprio partido: o PT. Desde a transição, da construção do Ministério e, principalmente, da eleição de Marco Maia (PT-RS) para a presidência da Câmara, as várias correntes do partido não se entendem. A briga interna no PT azedou a relação com os demais partidos da base. Assim, Dilma fez chegar à cúpula petista no Congresso o seguinte recado: ?O problema é de vocês. Encontrem uma solução. E sejam rápidos, senão eu vou resolver o problema sozinha?. Neste momento, uma nova reunião na presidência da Câmara, acontece, com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), Vaccarezza e o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Na quinta-feira (9), Vaccarezza e os demais líderes petistas costuraram o que acreditam ser um princípio de solução. Por ele, o próprio Vaccarezza substituirá Luiz Sérgio no Ministério das Relações Institucionais. E o deputado Pepe Vargas (PT-RS) iria para o seu lugar na Liderança do Governo na Câmara. A solução equilibraria as duas correntes petistas que brigam hoje na Câmara. O próprio Vaccarezza representaria seu grupo, e Pepe Vargas o grupo de Marco Maia e do líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (PT-SP). O problema é que tal solução, levada a Dilma, foi rejeitada: ela quer para o cargo o nome da ministra da Pesca, Ideli Salvatti.
Nova intervenção de Lula
Na reunião, acertou-se também que haverá uma nova intervenção do ex-presidente Lula. Não se combinou se ele voltará a vir a Brasília, como fez antes da queda de Palocci, ou se conversará por telefone com cada um dos petistas envolvidos na briga. O mais provável será essa atuação mais discreta, nos bastidores. Mas o que Lula dirá é mais ou menos o seguinte: ?Tenham juízo. Não arranjem encrenca para o próprio governo de vocês. Aceitam a solução e não esbocem mais reclamações?.
Os petistas correm para encontrar uma solução para o problema. Até agora, eles estão aturdidos com o fato de Dilma não ter consultado ninguém para resolver substituir Antonio Palocci por Gleisi Hoffmann. Temem que ela, novamente, acabe resolvendo sozinha, agora num cargo com maiores conotações políticas. Além disso, sabem que precisam correr até por uma questão de respeito humano: a situação atual de Luiz Sérgio é altamente desconfortável, além de hoje só trazer inconvenientes. Para que serve um ministro sem condições de trabalhar?
O outro motivo da necessidade de rapidez é a disputa de poder. O PT teme que, com a demora, o PMDB encontre espaço para reivindicar para si a articulação política. E o partido de Dilma não abre mão de mantê-la. ?Dilma disse que o problema é nosso, e temos de resolvê-lo. Quando Lula entregou a articulação política para outros partidos da base foi porque o PT estava fragilizado pelo mensalão. Agora, não tem mais isso. Só vamos entregar a articulação política em último caso, se nos mostrarmos incapazes de resolver o problema?, disse um dos petistas que participou da reunião no gabinete de Vaccarezza.
Histórico da briga
Considerada por Dilma a razão-chave da desarticulação política, a briga interna no PT remete às situações que levaram à eleição de Marco Maia como presidente da Câmara. Líder do governo Lula, forte no Campo Majoritário do PT, Cândido Vaccarezza reivindicava o cargo. As demais alas do PT, que se sentiam preteridas na construção do Ministério de Dilma, reagiram e começaram a articular uma outra candidatura. Marco Maia era o vice-presidente da Câmara. Com a saída de Michel Temer da presidência da Casa para concorrer à vice-presidência da República, Maia ganhou a musculatura necessária para se apresentar como alternativa.
A mesma busca por mais espaços emplacou o deputado Paulo Teixeira, da corrente Mensagem ao Partido (liderada pelo governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo), na liderança do PT. No caso da presidência da Câmara, Maia atropelou as pretensões de Vaccarezza. No PT, Teixeira fortaleceu-se, e seus supostos adversários, José Nobre Guimarães (CE) e Jilmar Tatto, saíram da disputa. Os episódios, porém, deixaram sequelas.
Que se somaram a outras. Na construção da sua candidatura, Marco Maia e seu grupo firmaram um acordo com o PMDB, para apoiar, na segunda metade da legislatura, a candidatura à presidência do líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). O problema é que as demais forças políticas não participaram dessa articulação.
Para um dos líderes envolvidos nas discussões sobre o Código Florestal, todas essas questões afloraram na derrota que o governo acabou sofrendo na Câmara, além do embate entre ruralistas e ambientalistas. Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que tem declaradas pretensões de retornar à presidência da Câmara, segundo esse líder, resolveu aproximar-se do grupo mais conservador para se apresentar como alternativa na sucessão de Maia.
Papel de Dilma
O último problema a se resolver é a própria postura da presidenta Dilma Rousseff. Sem experiência política anterior, ela tem se mostrado totalmente impaciente para discutir o varejo dos pedidos e das necessidades discutidas pela base. Ao mesmo tempo, é centralizadora e tem se recusado a delegar as tarefas relativas à articulação política. Assim, irrita-se com o varejo e não resolve. Ao mesmo tempo, Palocci, como ministro, tinha o hábito de empurrar o problema com a barriga esperando que a solução viesse naturalmente. Muito demandado também por Dilma, vivia dando bolos nos líderes no Congresso. Assim, os problemas se acumulavam.
Na lógica montada, Luiz Sérgio era de certa forma um subordinado de Palocci. Assim, não tinha autonomia para resolver nada sozinho. Eis aí o cenário que levou à crise política do governo.
Colaborou Mário Coelho
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