O professor aposentado e pesquisador do Cebrap José Arthur Giannotti, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada nesta segunda-feira (4), comenta aspectos do livro “Os Limites da Política”, escrito por ele e pelo professor de filosofia da Ufscar Luiz Damon Santos Moutinho. Além disso, faz um panorama sobre a crise instalada no país, elogia a Operação Lava Jato e, entre outras coisas, fala sobre o impasse do PSDB em permanecer ou não no governo do presidente Michel Temer.
Giannotti, que é amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não poupa a legenda. “O PSDB morreu. Quer que eu fale de defuntos? O PSDB não é mais um partido. Funcionava como um partido quando as decisões eram tomadas em bons restaurantes e todos estavam de acordo. Agora isso não há mais”, respondeu. Giannotti é considerado uma referência para políticos do PSDB desde a fundação do partido, no final dos anos 1980.
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O pesquisador, apesar da relação com FHC e ter sido, durante a gestão do tucano na Presidência, eleito para o Conselho Nacional de Educação, não participou por muito tempo. De acordo com ele, logo brigou e deixou o cargo. “Não quero participar de governo, não é minha função. Ao integrá-lo, eu deixo de ser o crítico que quero ser”, aponta ao jornalista Naief Haddad.
Na entrevista, o professor diz que o Brasil com suas frequentes crises, hora política, hora econômica, vive uma crise “pior que a de 1964”. Para ele, apesar dos excessos do militarismo, naquela época, o país entrou em ordem. “Agora nem isso nós temos. Não quero a volta dos milicos não [enfático]. Mas hoje não temos processos de resolução da crise. Isso é um problema muito sério. Quem diz ter a solução para a crise? Ninguém”, argumenta.
Questionado quanto à sua percepção sobre a Operação Lava Jato, Giannotti elogia e chama de “processo de renovação da política brasileira”. Quanto ao insucesso da Operação Mãos Limpas da Itália, muito comparado com a Lava Jato no Brasil, ele afirma que a operação está sendo melhor conduzida. “No Brasil, eles conheciam o caso italiano e têm sido mais inteligentes. Em vez de metralhar todo o sistema político, metralharam quem estava no governo ou próximo dele”.
Já sobre o governo Temer, o pesquisador aponta uma série de problemas, diz que Temer “apareceu como um governo querendo resolver impasses do capitalismo brasileiro”, mas se utiliza da equipe econômica que o ex-presidente Lula “queria impor à Dilma, e ela que não quis. […] Só que esse projeto econômico não está sendo realizado, por isso não sei o que vai acontecer”, pondera.
Para ele, o Brasil vive ainda uma crise de Estado. “Nós não temos o monopólio do poder hoje, veja o Rio. É, portanto, uma profunda crise de Estado. O governo Temer está tentando resolver isso? Por enquanto, não conseguiu. E também não resolveremos o problema com esse Congresso, que foi atravessado pela corrupção”, diz em trecho da entrevista.
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