Em depoimento em curso na CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas, na Câmara, o diretor da Divisão de inteligência da Polícia Federal (PF), Daniel Lorenz, declarou há pouco que o delegado Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha, mentiu sobre a hipótese de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) tenha participado dos trabalhos investigativos que levou à cadeia, entre outros, o economista Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity.
Segundo Lorenz, Protógenes dizia à própria equipe que os agentes da Abin que teriam trabalhado nas investigações, com funções diversas, eram apenas técnicos da Receita Federal. "Nos deixa chocados a forma desleal com que ele se portou em relação ao Departamento de Polícia Federal”, lamentou Lorenz. “Eu não posso administrar a deslealdade dele”, completou o delegado Lorenz, que é superior hierárquico de Protógenes.
Lorenz disse ter sabido da participação de agentes da Abin na Satiagraha por meio de um servidor da agência, Márcio Seltz. O delegado afirmou ter encontrado Seltz no edifício-sede da PF em Brasília, o chamado “Máscara Negra”, razão pela qual teria ordenado a Protógenes a interrupção do envolvimento da Abin no caso.
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"Chamei o doutor Queiroz e ele me disse que o Seltz fazia apenas uma análise da mídia. Prontamente disse a ele que não iria permitir aquele tipo de comportamento, e que qualquer ajuda que a Abin viesse a dar teria de ser pelos canais formais", assegurou, explicando que, em razão do segredo de Justiça que caracterizava a operação, nenhuma outro órgão poderia ter conhecimento dos autos.
Policial federal há quase 30 anos e delegado há 12, Lorenz confirmou também que os dez aparelhos adquiridos pela PF para realizar varreduras telefônicas – que serviriam para detectar grampos ilegais – não têm capacidade de executar escutas.
“Muito se propala que essas malas são capazes de fazer [grampos]. É um engodo, porque elas têm uma série de limitações. Não estamos escondendo nada. Eventualmente, pode funcionar como equipamento para interceptação telefônica", esclareceu o delegado, lembrando ainda que, a partir de abril, a supervisão dos trabalhos da Satiagraha foi deslocada para a diretoria de Combate ao Crime Organizado. Ou seja, fora de suas atribuições. (Fábio Góis)
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