Sylvio Costa
Logo na palestra inaugural, Alejandro Salas, diretor da Transparência Internacional para as Américas, chamou atenção para o grande número de assassinatos de jornalistas no mundo e em especial de regiões como a América Latina (leia mais).
A jornalista mexicana María Idalia Gómez, especializada na cobertura do crime organizado e autora do livro Com la muerte en el bolsillo, que mapeou os principais grupos de narcotráfico do seu país, fez o depoimento mais tocante sobre o assunto. “No México, a vida não vale nada, e a vida de um jornalista vale menos que nada”, resumiu ela. O poder do narcotráfico permite que seus comandantes e serviçais usem abertamente de intimidação contra profissionais de imprensa para impedi-los de cobrir certos fatos ou impor os limites para sua cobertura.
Um cenário em que são frequentes as mortes encomendadas a pistoleiros, os assassinatos de jornalistas, as decapitações e as deserções no Exército. “Pode-se publicar sobre qualquer tema, mas não há garantias quando se publica sobre o crime organizado e a corrupção. Existe liberdade de imprensa, mas não garantias para investigar”, contou María Idalia.
Mike Reid, diretor da revista britânica The Economist para a região latino-americana e um dos jurados do premio Ipys, sublinhou aquela que considera a principal diferença entre fazer jornalismo aqui e em países com tradição democrática mais longa: “O pior que enfrentamos é uma sanção legal, e às vezes a lei é muito favorável ao autor do processo. Fazer jornalismo de investigação na América Latina representa arriscar a vida, e essa é uma das razões para termos tanto respeito pelo trabalho de vocês”.
Dois brasileiros relataram ter recebido ameaças à sua segurança. Eduardo Faustini, produtor e repórter especial do Fantástico, da Rede Globo, mestre na técnica de utilização de câmera oculta, disse que as tentativas de intimidá-lo, sobretudo com telefonemas anônimos, se tornaram tão numerosas que ele aprendeu a dominar o medo e apenas pedir aos que lhe ameaçam para “entrarem na fila”.
Daniela Arbex, da Tribuna de Minas, informou que foi aconselhada pelo comandante da PM em sua cidade, Juiz de Fora (MG), a parar de publicar a série de reportagens sobre os lucrativos contratos públicos obtidos pelo presidente da Câmara Municipal, Vicente de Paula Oliveira, que controlava uma importante empreiteira por meio de laranjas. Ou ela parava ou a PM não poderia garantir a sua segurança, disse o comandante, mencionando ter recebido informações sobre um plano que colocaria em risco a integridade física dela e dos repórteres Ricardo Miranda e Táscia Souza, esta com apenas 24 anos.
O trio deu andamento ao trabalho. Vicentão perdeu o mandato de vereador, encerrando uma era de 20 anos em que ele foi o mais poderoso político local. E o feito valeu a um pequeno jornal do interior de Minas o prêmio principal concedido pelo Ipys neste ano (leia mais), junto com Ernesto Rivera e Giannina Segnini, do La Nación, da Costa Rica, que revelaram os negócios secretos, de montante superior a US$ 120 milhões, realizados pela Igreja Católica naquele país.
Lista de todos os premiados pelo Ipys neste ano
Não por acaso, Brasil e México lideram, juntamente com a Colômbia, as estatísticas de assassinatos de jornalistas na América Latina.
Se você quer saber mais sobre o assunto, vá às páginas do Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) (em inglês) ou do Knight Center for Journalism in the Americas, da Universidade do Texas (espanhol).
Você também pode ver uma entrevista em vídeo de Maria Idalia Gómez, em que ela afirma que nos últimos 30 anos jamais o ambiente foi tão “adverso” para o exercício do jornalismo no México quanto atualmente (em espanhol).
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