Diego Moraes
Deputado com elevado índice de assiduidade é artigo de luxo na Câmara. Dos 513, apenas 12 atingiram a marca de 100% de presença nos registros da Casa. Mas, desses, quatro são suplentes e assumiram o cargo no decorrer do ano legislativo. Na verdade, apenas oito (1,55% do total) participaram de todas as 146 sessões reservadas a votação na Câmara em 2005. São eles: Paulo Afonso (PMDB-SC), Lincoln Portela (PL-MG), José Roberto Arruda (PFL-DF), Pedro Chaves (PMDB-GO), Sérgio Miranda (PDT-MG), Carlos Nader (PL-RJ), Fernando Coruja (PPS-SC) e Corauci Sobrinho (PFL-SP).
Nessa disputa particular, ninguém supera Paulo Afonso. Desde o início da legislatura, o ex-governador de Santa Catarina não faltou a uma única sessão sequer. É o único a ter registrado presença em todas as sessões realizadas desde fevereiro de 2003. “A presença em plenário é minha prioridade como deputado, e velo por isso”, afirma o deputado. “Marco meus compromissos no estado às segundas e sextas-feiras”, completa.
Outra rara figura que não passou uma sessão de fora da Câmara, no ano passado, foi Lincoln Portela. Dono de uma cadeira no plenário desde 1999, o parlamentar estufa o peito pra contar que não faltou a uma única sessão deliberativa sequer desde fevereiro de 2000. “A presença em plenário é fazer o dever de casa. Fui eleito para participar dos trabalhos da Câmara”, considera. Segundo a página oficial da Casa na internet, Lincoln só deixou de registrar presença uma vez: em 17 de junho de 2003. Por esquecimento ou não, a falta ainda não foi justificada.
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Trabalho fora
O deputado reconhece, no entanto, que a atividade parlamentar não se restringe ao plenário. "É preciso estreitar os laços com as bases eleitorais", avalia Lincoln. A opinião é compartilhada pela líder do PSOL na Câmara, Luciana Genro (RS). Ferrenha opositora do governo Lula, a parlamentar gaúcha está sempre em plenário durante as votações mais polêmicas e nunca perde a chance de subir à tribuna para contestar os antigos companheiros de partido. Ainda assim, a ex-petista figura na lista dos congressistas com mais de 25% de ausências em plenário.
“Eu trabalho muito mais quando não estou aqui”, afirma. Luciana diz que chega a se reunir com dez pessoas num único dia quando está no estado e defende que o parlamentar não pode representar o eleitor apenas na Câmara. “O deputado que fica só aqui perde a noção da conjuntura política. A população tem que desconfiar de quem está sempre aqui dentro”, reforça.
O exemplo dos líderes
Embora todos os parlamentares concordem com a idéia de que política tem de ser feita dentro e fora do Congresso, os líderes preferem articular suas bancadas ali mesmo, no Salão Verde da Câmara. Apenas três dos 14 deputados que estão à frente das lideranças partidárias compareceram a menos de 75% das sessões plenárias do ano.
O mais assíduo dos líderes é Alberto Goldman (SP), responsável pela bancada tucana. O deputado faltou seis das 146 sessões realizadas em 2005. Já o líder do PL, Sandro Mabel (GO), é o que menos registrou presença na Casa. O parlamentar atravessou um ano conturbado do ponto de vista político e quase foi cassado, sob a acusação de ter oferecido dinheiro à deputada Raquel Teixeira (GO) para que ela trocasse o PSDB pelo PL. Em meio à agitação, Mabel só esteve presente em 69,2% das sessões do ano passado. Procurado, o deputado não retornou os contatos feitos pela reportagem.
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