Fábio Góis
A Polícia Legislativa do Senado, responsável por uma ocorrência e um inquérito policial que investiga a cúpula administrativa da Casa, divulgou há pouco uma nota em que se manifesta a respeito do depoimento prestado ontem (quinta, 6) pelo ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi, e sua esposa, Denise Zoghbi, a portas fechadas (os procedimentos correm sob segredo de Justiça) e separadamente, como determina o Código de Processo Penal (CPP). Novo depoimento está marcado para o próximo dia 19, diz a nota.
Em depoimento, Casal Zoghbi recua e desmente as próprias acusações
Em quatro horas de oitiva, tanto Zoghbi quanto sua esposa, ex-diretora do Instituto Legislativo Brasileiro, deixaram a delegacia do Senado, que fica no subsolo do prédio, sem dar declarações à imprensa. Mas advogado contratado pelos Zoghbi, Antonio Carlos de Almeida Castro, falou pelo casal, e negou que os Zoghbi teriam feito acusações ao ex-diretor-geral Agaciel Maia ou a qualquer senador, como mostrou edição desta semana da revista Época.
A reportagem traz entrevista segunda a qual Zoghbi e Denise garantem existir um amplo esquema de corrupção – cujo mentor seria o ex-diretor-geral Agaciel Maia – que controla as compras, contratações e licitações do Senado (leia). Segundo o casal, Agaciel seria sócio em todas as empresas terceirizadas que firmaram contratos com a Casa nos últimos anos, com a anuência do corregedor, Romeu Tuma (PTB-SP), e do ex-primeiro-secretário, Efraim (DEM-PB). A ocorrência policial se concentra nas investigações respeito dessa entrevista.
Já o inquérito policial, informa a nota, concentra-se na reportagem da mesma revista publicada em 25 de abril (leia), Zoghbi participa de esquema de empresas de fachada, e teria posto a ex-babá de seus filhos – uma senhora de 83 anos – como sócia majoritária em três empresas que teriam lucrado R$ 3 milhões em um ano e meio. De acordo com a reportagem, o Banco Cruzeiro do Sul, que operava empréstimos consignados no Senado, era o responsável pela maior parte desse montante. O banco teve seu convênio cancelado pela Casa, na semana passada.
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O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) – para quem a Polícia Federal, por ter mais isenção em relação a ex-diretores e senadores –, diz que os procedimentos investigatórios instalados no Senado são puro “jogo de cena”. “Me parece, com muita clareza, que o que está armado é: eles vão lá, o senhor Zoghbi desmente o que havia dito… enfim, quase nada lhe é perguntado”, disse Virgílio, em plenário, na tarde desta quinta-feira (7), informando que solicitou à Mesa Diretora a íntegra do teor do depoimento.
“Estou sentindo que esta Casa está muito silenciosa, muito silenciosa mesmo. Eu, inclusive, vou começando a registrar algumas decepções porque as pessoas que sempre falaram pela ética, o tempo inteiro pela ética, não podem silenciar neste momento”, emendou o tucano.
Para Virgílio, o fato de nenhum representante do Ministério Público ou da Polícia Federal – participação assegurada no CPP – ter participado do depoimento causa estranheza. “Por que não esperaram o Ministério Público para fazer esse depoimento? Será que do ponto de vista jurídico já não se fez uma catimba, que vai invalidar o depoimento que esse senhor Zoghbi, por ventura, preste à Polícia Federal?”, indagou.
A nota divulgada pela polícia legislativa contesta essa visão. “A presença de um Ministério Público só vem a corroborar e contribuir com as investigações, todavia a ausência do ‘Parquet’ [representante institucional] não prejudica ou invalida a atividade policial”, diz trecho do documento.
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