Eduardo Militão e Rudolfo Lago
Vai ter que conversar com os deputados. Esse foi o recado explícito passado pela bancada do PMDB à presidente eleita Dilma Rousseff. Numa reação a uma declaração de Dilma, que disse que o interlocutor único peemedebista na transição seria o vice-presidente eleito Michel Temer, o PMDB reuniu a bancada de deputados atuais e eleitos e resolveu pressionar Dilma. Assinaram uma moção, em que exigem que o líder do partido, Henrique Eduardo Alves, participe das conversas, e incluem na cota da bancada as pastas da Agricultura e Cidades. O PMDB atualmente tem seis ministérios – Comunicações, Minas e Energia, Integração Nacional, Agricultura, Defesa e Saúde. E reage à possibilidade de diminuir sua participação justamente agora que se tornou o principal parceiro do governo: as conversas até agora garantem ao PMDB cino ministérios.
A moção encaminhada a Dilma foi assinada por 54 dos 79 deputados. No documento, eles escolhem Henrique Eduardo Alves como interlocutor da bancada perante o governo de transição, coordenado por três petistas e o vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB-SP). Ainda manifestam apoio a seu nome para presidir a Câmara a partir do ano que vem.
Ao contrário do que quer Dilma, os parlamentares não querem Temer como único representante nas negociações do partido. Na avaliação do senador Almeida Lima (SE), deixar para o vice-presidente a função é algo que o desgasta institucionalmente. Além disso, os peemedebistas desconfiam que tal estratégia diminuiria a força do PMDB na negociação. O núcleo formado por Dilma para a transição tem três petistas (José Eduardo Cardozo, José Eduardo Dutra e Antônio Palocci) e Temer. A reunião e a moção de hoje são uma demonstração de força: quem tem os votos para aprovar os projetos do governo no ano que vem são os senadores e deputados peemedebistas. Eles, então, têm de ser ouvidos. Esse é o recado.
“Eu luto pelos espaços da Câmara. Eu sou líder de uma bancada de 80 deputados. Então, eu espero que os espaços da bancada sejam respeitosamente atendidos pela presidente Dilma”, afirmou o líder dos deputados do PMDB. O recado de Henrique Eduardo Alves não poderia ser mais explícito. “Queremos preservar os espaços, sem criar problemas. Às vezes, melhor do que o tamanho é a qualidade”, disse ainda Henrique.
Cota pessoal
O deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG) disse ser importante ter ministros escolhidos pela bancada na Câmara para não haver problemas na relação com a Esplanada. O atual ministro da Saúde, José Gomes Temporão, é do PMDB, mas foi escolhido pelo presidente Lula, sem apoio dos parlamentares. De acordo com Quintão, isso significou problemas no atendimento dos pedidos dos deputados no Ministério da Saúde, por exemplo.
“Queremos critérios para os ministros do PMDB, para eles terem o nosso apoio e também nos atender”, contou Quintão, com a moção assinada em mãos. Quintão chegou a dizer que a falta de atendimento dos pleitos dos deputados pelos ministros foi um dos fatores que levaram a atual bancada, de 89 deputados, encolher para 79 deputados nas eleições deste ano.
Na divisão imposta pela bancada, o PMDB da Câmara ficaria com Agricultura e Cidades. E o Senado com Minas e Energia e a Secretaria dos Portos, bastante ampliada, com status de ministério e com a agregação da administração dos aeroportos, hoje a cargo da Aeronáutica.
No governo Dilma, a pasta da Saúde pode ficar com o secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Sérgio Côrtes. Mas o apadrinhado do governador Sérgio Cabral não é reconhecido pelos deputados. Se Côrtes for escolhido, não haverá veto, mas ele será considerado um nome da cota pessoal da presidente Dilma. Ou seja, não vai entrar na conta dos dois ministérios desejados pelos deputados.
Hoje à tarde, o ex-ministro das Comunicações Hélio Costa (PMDB), disse que o partido conseguiu conquistar três ministérios no governo Dilma: Minas e Energia, Saúde e Defesa. E, repercutindo a reunião dos deputados, emendou: “Cidades e Agricultura podem ser os próximos”, afirmou ele em seu perfil no twitter.
Leia a íntegra da moção:
MOÇÃO DOS DEPUTADOS ELEITOS DO PMDB
1- Os deputados eleitos do PMDB cumprimentam e sentem orgulhosos da eleição da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente, presidente do nosso partido, Michel Temer.
2- Os deputados eleitos respaldam e manifestam o seu integral apoio às tratativas políticas conduzidas pelo líder Henrique Alves
3- Os deputados eleitos entende que o líder reúne todas as condições para a sua postulação à Presidência desta Casa e reiteram neste momento o total apoio ao lançamento da sua candidatura, confiantes na continuação harmônica da boa relação do PMDB com o PT para a direção da Câmara dos Deputados nos próximos quatro anos.
4- Os deputados eleitos entendem que tendo sido parceiros da presidente eleita no processo eleitoral e pelo seu tamanho e importância nesta Casa devam ser previamente consultados sobre qualquer representação tomada em seu
nome.
5- Os deputados eleitos compreendem a importância fundamental de serem representados no governo, com a escolha de qualquer dos seus integrantes.
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