Com o avanço de vazamentos sobre o inquérito que apura se houve edição de decreto em 2017 para beneficiar empresas em troca de propina, e que envolve o presidente Michel Temer (MDB), o Planalto perdeu a usual discrição. Nesta quarta-feira (6), a Secretaria de Comunicação da Presidência divulgou uma nota em que chama a investigação de “escândalo digno do Projac, a maior fábrica de ficções do país”.
A resposta ocorreu depois da divulgação, no Blog da Andréia Sadi, do Grupo Globo, de que há uma investigação que apura se o emedebista recebeu mesada de R$ 340 mil nos anos 1990.
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No documento, a Polícia Federal (PF) cita uma planilha que consta de inquérito arquivado em 2011, mas que seria “importantíssima” para a compreensão do caso atual. A planilha detalha como seria feita a repartição de propina de contratos do porto de Santos entre Temer, o coronel aposentado da Polícia Militar João Batista de Lima Filho, amigo de Temer e sócio da Argeplan, e Marcelo Azeredo, ex-diretor da estatal que coordena o porto. Temer, segundo a apuração, ficou com 50% da propina e os outros dois com 25%.
O relatório da PF, ainda segundo a reportagem, diz que Temer tinha ganhos extras de R$ 200 mil, em tese, para campanha eleitoral. “Não é difícil supor que tal relação promíscua entre empresários e agentes políticos se perpetue até os dias atuais”, disse o delegado em trecho reproduzido no blog.
>> Temer responde a PF sobre favorecimento a empresa em decreto dos portos
A planilha em questão havia sido levada à Justiça de um jeito inusitado: no pedido de pensão da ex-mulher de Azeredo. Ela alegava que o ex-marido poderia aumentar o pagamento e anexou a informação sobre propina como comprovação do patrimônio dele.
Confira a íntegra da nota emitida pelo Planalto:
“A investigação da Polícia Federal sobre o suposto benefício do presidente Michel Temer ao grupo empresarial Rodrimar entrou no terreno da ficção policial. Isso porque, na verdade, o decreto dos portos não trouxe nada em favor da empresa. Sem fatos novos ou provas, delegado tenta reabrir investigação já arquivada duas vezes pela Justiça por falta de provas.
Usa agora planilha encontrada nesses arquivos. E com base neste documento produz um fantasioso cenário de reconstrução arqueológica, mas está alimentando apenas uma imensa farsa.
Tal planilha já foi renegada pela pessoa que acabou, involuntariamente, anexando esse papel, sem origem e sem autor, a processo de separação.
“Para não deixar dúvida em relação ao histórico contido na peça inicial daquela ação, a qual eu não subscrevi, esclareço que os documentos mencionados nela não foram tirados do computador pessoal de meu ex-namorado, o senhor Marcelo Azeredo, mas sim chegaram-me às mãos anonimamente, em envelope fechado, sem identificação do remetente.
Entreguei os tais documentos aos meus ex-advogados para simples análise e não para serem utilizados, já que não tinha certeza nenhuma da verdade do seu conteúdo e da sua origem”, escreveu Érika Santos em 2001, em documento oficialmente anexado ao inquérito.
Passados 17 anos, ela concedeu entrevista à revista Veja. E disse o seguinte: “Veja – Depois de entregar a planilha à Justiça, a senhora acabou fazendo um acordo extrajudicial com seu ex-marido e desistiu do processo. Quais foram os termos do acordo?
ES – Não fui eu que entreguei aquela planilha.
Veja – Os seus advogados daquela época disseram que foi a senhora que entregou a planilha…
ES – Imagina, eu não estava no Brasil. Eu estava em Los Angeles. Esse advogado entregou esse material sem a minha assinatura. Por isso é que, depois, retirei a ação. Eu não sei onde ele arrumou aqueles documentos. Alguém deve ter pago a ele. Não fui eu. Ele que montou um monte de documentos. Ele fez uma ação para me incriminar. Só me prejudicou”.
Nada mais precisa ser dito sobre esse escândalo digno do Projac, a maior fábrica de ficções do país.
Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República”
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