A Polícia Federal pediu ontem (27) a prisão temporária de Luiz Armando Silvestre Ramos por falso testemunho. Apresentando-se com o nome falso de Agnaldo Henrique Lima, ele disse na quinta-feira (26), em depoimento aos agentes em Pouso Alegre (MG), que teria sido usado como laranja para repassar R$ 250 mil a Hamilton Lacerda, acusado de envolvimento na tentativa de compra do dossiê contra tucanos. A testemunha, segundo a PF, já tem passagem na polícia por estelionato.
Além do depoimento, a falsa testemunha deu uma entrevista a jornalistas da região e sustentou a mesma versão. A conversa foi gravada em um vídeo, exibido na noite de quinta-feira (26) por vários telejornais. Armando foi apresentado aos repórteres por Rosely Souza Pantaleão, secretária-executiva do PSDB em Pouso Alegre (MG).
Ontem (27) os policiais descobriram que a história não passava de uma farsa. Armando disse no depoimento que seu chefe – a quem chamou de Luiz Armando Silvestre – havia pedido o número de sua conta para depositar R$ 80 mil em dinheiro e R$ 170 mil em cheque. Os recursos, segundo ele, foram sacados e repassados a Lacerda, em São Paulo. Os policiais foram ao banco e descobriram, entretanto, que os saques não ocorreram.
Leia também
Rosely intermediou também o contato de Armando com a PF. Ela negou, porém, saber que a versão era fantasiosa. Os policiais investigam agora se houve tentativa de uso político do depoimento de Armando.
Desde que a versão caiu por terra, Armando não foi mais visto em Varginha (MG), onde mora. Por isso a PF pediu a prisão preventiva. Ele será indiciado por falso testemunho e falsidade ideológica e pode pegar até seis anos de prisão.
Contradições
No vídeo, a testemunha, se dizendo Agnaldo, afirma ter acompanhado Armando até São Paulo, onde o dinheiro foi entregue a um homem. Ele conta que, só depois de ver reportagens sobre o escândalo do dossiê na televisão, percebeu que o tal homem era Lacerda. A versão foi mantida no depoimento à PF.
Os agentes consideraram a história interessante e decidiram investigá-la. Eles pediram o cartão bancário da testemunha para checar se os saques haviam sido feitos. A testemunha alegou que estava sem o cartão e prometeu entregar no dia seguinte os extratos bancários para comprovar a transação, mas não o fez.
Desconfiados, os policiais foram até o banco e falaram com o gerente. Ele afirmou que os saques não ocorreram e que não houve movimentação vultosa na agência. "A história é inconsistente e não se mostrou verdadeira", disse o superintendente da PF em Cuiabá, Daniel Lorenz.
Dossiê: Justiça arquiva ação contra delegado da PF
A 9ª Vara Federal Criminal de São Paulo acatou a sugestão do Ministério Público Federal e arquivou o inquérito aberto para apurar o vazamento das imagens dos R$ 1,1 milhão e US$ 248,8 mil dólares que seriam usados por petistas na compra de um dossiê contra candidatos do PSDB. As fotos foram divulgadas pelo delegado Edmilson Bruno, afastado do caso no início do escândalo.
O inquérito que investiga a compra do dossiê contra tucanos corre em segredo de Justiça. O delegado sustentou, porém, que as fotos, feitas por ele, não faziam parte do processo e por isso não estavam sob sigilo. A PF abriu inquérito para apurar o vazamento e concluiu ter havido crime de violação de sigilo profissional. Mas o Ministério Público Federal não endossou a conclusão.
Em nota, o Ministério Público informa que "não surgiu nenhuma prova de que o delegado (…) tenha recebido vantagem indevida pela divulgação das fotos, afastando, assim, a caracterização de crime de corrupção passiva".
Além disso, o órgão entendeu que não houve crime de violação de sigilo funcional, "pois as fotos do dinheiro apreendido somente revelam que o dinheiro existe, o que não constitui fato sigiloso". "A conduta padrão da Polícia Federal (..) é a divulgação ampla das operações realizadas, das prisões efetuadas e dos materiais apreendidos."
Em 26 de agosto de 2004, o diretor-geral da PF, delegado Paulo Lacerda, assinou uma instrução normativa que determina a exibição de materiais apreendidos para ilustrar reportagens e evitar estimativas equivocadas.
O problema é que imagens do dossiê foram divulgadas pelos agentes, mas as fotos do dinheiro não. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, alegou que a idéia era evitar o uso do material nas campanhas eleitorais. A oposição, por outro lado, sustentou que a atitude foi eleitoreira.
PF está convencida de que Vicatur vendeu dólares
A Polícia Federal (PF) está "extremamente convencida" de que os dólares comprados da casa de câmbio Vicatur, em Nova Iguaçu (RJ), fazem parte do R$ 1,7 milhão que seria usado para comprar um dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), informou ontem o superintendente da PF de Mato Grosso, Daniel Lorenz.
De acordo com Lorenz, o delegado Diógenes Curado, responsável pelo caso, chegaria do Rio com os depoimentos dos donos da Vicatur, Fernando Manoel Ribas Soares e Sirley da Silva Chaves. Os dois foram indiciados por falsificação de documentos e uso indevido de identidade de outras pessoas. Além disso, eles são acusados de usar laranjas para esconder a identidade do comprador de US$ 284,3 mil. (Renaro Cardozo)
CPI recebe documentos da PF sobre dossiê
A CPI dos Sanguessugas recebeu ontem a transcrição de depoimentos e os sigilos bancário, fiscal e telefônico dos envolvidos no escândalo da compra de um dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB). Desde a semana passada, integrantes da comissão estão em pé de guerra com a Polícia Federal (PF) do Mato Grosso por causa dessa documentação.
O vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), ameaçou ingressar com mandado de segurança contra o delegado Diógenes Curado, responsável pela investigação do caso. Para o deputado, a polícia estaria obstruindo os trabalhos do colegiado ao não fornecer essas informações.
Jungmann disse que primeiro vai analisar o material e depois decidirá se encaminhará ou não o mandado à Justiça Federal. "É bom lembrar que passou toda uma semana para que esse material, que já se encontrava em posse do delegado, pudesse chegar à CPI. Esse fato evidencia que foi válida a nossa pressão durante toda a semana para que o material nos fosse entregue", ressaltou. (Renaro Cardozo)
Na Paraíba, assessor de tucano é preso com R$ 42,9 mil
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) prendeu, na quinta-feira (26) à noite dois funcionários da campanha do candidato do PSDB à reeleição ao governo da Paraíba, Cássio Cunha Lima. Com Gláucio Arnaud e Reinaldo da Silva foram encontrados um total de R$ 42,9 mil, distribuídos em envelopes num veículo em que estava Gláucio. Eles foram levados para a Superintendência da Polícia Federal (PF) na capital paraibana, onde prestaram depoimentos.
Cássio Cunha Lima disputa o segundo turno com o candidato do PMDB, o ex-governador José Maranhão. Existe a suspeita de que o dinheiro seria destinado a lideranças políticas do interior do estado, configurando crime eleitoral de compra de votos.
Segundo a assessoria de imprensa de Cássio Cunha Lima, os recursos estão contabilizados e registrados nos relatórios quinzenais entregues ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). "Não é dinheiro para a compra de votos", afirmou um assessor da campanha tucana. A assessoria assegurou que o dinheiro seria utilizado para cobrir gastos de campanha.
A PRF ainda não confirmou os nomes que constavam nos maços de dinheiro dentro dos envelopes. No entanto, já disse que havia nomes de prefeitos e ex-prefeitos, principalmente da região de Cariri. O dinheiro e o veículo foram levados para a sede da PF. (Tarciso Nascimento)
Deixe um comentário