A Polícia Federal entregou ontem à Justiça Federal em Mato Grosso um relatório parcial sobre o inquérito que apura a tentativa de compra, por pessoas ligadas ao PT, de um dossiê que vincularia os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin à máfia das ambulâncias. O delegado responsável pelo caso, Diógenes Curado, aponta no documento que Jorge Lorenzetti, ex-integrante da campanha presidencial de Lula, arquitetou a operação.
A CPI dos Sanguessugas, que também investiga o caso, recebeu uma cópia do relatório. O texto afirma que Lorenzetti, conhecido como o churrasqueiro pessoal do presidente Lula, organizou a arrecadação dos R$ 1,7 milhão (parte em dólares) que seriam usados para comprar os documentos.
Segundo o relatório, "ele pediu que Gedimar Passos fizesse o contato inicial com Valdebran Padilha, dando funções específicas ao ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso e ao secretário do Ministério do Trabalho Osvaldo Bargas. O documento sustenta ainda que Lorenzetti "também pediu que Gedimar fosse a São Paulo para receber o dossiê e entregar a Hamilton Lacerda (ex-assessor do candidato petista Aluízio Mercadante ao governo de São Paulo)".
De acordo com a Polícia Federal, o objetivo era prejudicar o candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, ligando o nome dele à máfia dos sanguessugas. O dinheiro apreendido com petistas teria origem ilícita. Segundo a PF, apesar de distribuir as tarefas e coordenar o esquema, Lorenzetti "estranhamente, não sabia do dinheiro".
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O delegado reiterou a versão de que parte dos recursos veio de bancas do jogo do bicho. Ele informou ainda que está próximo de descobrir a origem dos US$ 248,8 mil que compõem o bolo apreendido pela PF. Curado, porém, solicitou a prorrogação do inquérito por mais 30 dias para apurar a origem de todos os recursos.
Próxima etapa
Na próxima etapa, além de apurar a origem do restante do dinheiro, a Polícia Federal também deve investigar a eventual participação de dois novos personagens ligados ao PT e ao governo que tiveram seus nomes envolvidos no caso: o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Os dois conversaram por telefone com Lorenzetti. Carvalho admitiu que telefonou duas vezes para o amigo no dia 15 de setembro, mas em busca de informações sobre as prisões, depois de receber notícias desencontradas. O advogado de Dirceu, José Luiz Moreira Lima, confirmou apenas uma ligação entre seu cliente e Lorenzetti e disse que eles não conversaram sobre o dossiê.
O dinheiro foi apreendido pela PF no último dia 15 de setembro com o advogado Gedimar Passos e o petista Valdebran Padilha, em um hotel da capital paulista. Os dois aguardavam a chegada de um tio do empresário Luiz Antonio Vedoin, operador da máfia das ambulâncias, que entregaria o dossiê. Ele foi detido, também no dia 15, no aeroporto de Cuiabá, quando embarcava rumo a São Paulo.
No relatório, o delegado afirma ser "difícil acreditar" que Hamilton Lacerda não tenha levado o dinheiro para Gedimar e Valdebran. Lacerda foi flagrado pelas câmeras de vigilância interna do hotel com malas. Ele afirmou que transportava apenas documentos e um computador, mas a polícia suspeita de que ele transportava as cédulas apreendidas. Lacerda foi afastado da campanha petista assim que seu nome foi vinculado ao escândalo.
O relatório cita apenas duas vezes o nome do ex-assessor especial da Presidência Freud Godoy. O delegado afirmou que não conseguiu reunir indícios que apontem o envolvimento dele no episódio. Freud foi citado por Gedimar. Em depoimento à PF, ele afirmou ter recebido os recursos de uma pessoa chamada "Freud ou Froud". Na semana passada, porém, ele voltou atrás nas declarações e isentou o ex-assessor.
O delegado diz que devem ser ouvidos ainda o senador Aloizio Mercadante, o responsável pela revista IstoÉ e o empresário Darci José Vedoin. Também prestarão depoimentos novamente Gedimar Passos, Hamilton Lacerda, Jorge Lorenzetti e Luiz Antônio Vedoin.
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