A Polícia Federal indiciou ontem os donos da Vicatur, a casa de câmbio de onde teriam saído parte dos dólares que seriam usados por petistas para comprar o dossiê contra candidatos do PSDB. Eles podem ser condenados a até seis anos de prisão por terem vendido dólares a laranjas. Os agentes devem indiciar também as pessoas que deram documentos para maquiar a venda do dinheiro.
Sirlei da Silva Chaves e Fernando Manuel Ribas, sócios da Vicatur, vão responder por crimes de falsificação de documentos, que prevê pena de 2 a 6 anos de prisão, e contra o sistema financeiro, por atribuir a terceiros falsa identificação para opressão de crime.
Os dois sócios confessaram, em depoimento à PF na última quarta-feira, que pagaram R$ 3.000 para Levy Luiz da Silva, "chefe" da família dos laranjas usados na transação. A PF informou que eles foram indiciados por este crime e não por participação no episódio do dossiê. A polícia investiga se eles têm ligação com a compra do documento, mas ainda não concluiu sobre isso.
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A PF apreendeu na quarta-feira, originais de comprovantes de compra e venda de dólares e o cadastro dos clientes na sede da Vicatur, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.
Jungmann entrará contra PF na Justiça Federal
O vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), afirmou ontem que vai ingressar nesta sexta-feira com um mandado de segurança na Justiça Federal contra o delegado da Polícia Federal (PF) do Mato Grosso Diógenes Curado.
Jungmann acusa o delegado, responsável pela investigação sobre a compra de um dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), de obstruir os trabalhos da comissão ao reter informações já apuradas pela PF sobre o caso.
O deputado pedirá que o delegado entregue todo o material que ainda não é de conhecimento do colegiado. Dentre eles, os depoimentos do presidente licenciado do PT Ricardo Berzoini e de Jorge Lorenzetti, além dos sigilos telefônicos dos envolvidos.
"Está mais do que evidente que o delegado que comanda as investigações está sonegando informações à CPI dos Sanguessugas, o que caracteriza tentativa de obstruir o nosso trabalho. Por isso, não tenho outra alternativa se não recorrer à Justiça Federal para que os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito possam ter acesso a toda a documentação das investigações", declarou o deputado. (Renaro Cardozo)
Bastos elogia investigação da PF
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, elogiou ontem, no Palácio do Planalto, a investigação da Polícia Federal sobre o esquema que compraria um dossiê contra políticos do PSDB. O ministro ressaltou que a seriedade ficou acima dos interesses eleitorais.
"A Polícia Federal não atrasou nem adiantou a investigação. Não cedeu à tentação do tempo eleitoral. Ela está usando o tempo da seriedade e da investigação correta". "Ao final do trabalho, ela vai mandar para o Poder Judiciário, para o juiz federal de Cuiabá, uma investigação séria que aponta para todas as perspectivas e as possibilidades", complementou.
Bastos acredita que não existem vínculos entre o partido do presidente e a negociação para a compra do dossiê, mas que a "trama" coube a um "grupo de inteligência" ligado ao PT. Na entrevista concedida hoje, o ministro disse que tem conhecimento parcial da investigação e lembrou que o inquérito está em sigilo de Justiça.
Vedoin conta que Abel agilizou verbas para 50 cidades
Em depoimento à Justiça Federal, os sócios-proprietários da Planam Luiz Antônio Vedoin e seu pai, Darci, disseram que o empresário Abel Pereira, amigo do ex-ministro da Saúde e atual prefeito de Piracicaba (SP) pelo PSDB, Barjas Negri, agilizou a liberação de verbas do Ministério da Saúde para cerca de 50 municípios que compraram ambulâncias superfaturadas.
Segundo a Justiça, a ação de Abel teria provocado rombo de R$ 4 milhões no Tesouro em 2002, último ano do governo Fernando Henrique. Nessa segunda-feira (23), Abel, que é empreiteiro de obras públicas em Piracicaba (SP), negou ter atuado como lobista dos sanguessugas. No depoimento à PF, ele caiu em contradições. Chegou a dizer que não era amigo de Barjas Negri. Os depoimentos dos Vedoin apontam o contrário. Abel tinha livre trânsito no gabinete do ministro.
Segundo os Vedoin, a relação de municípios que Abel apresentou foi preparada ‘em acordo’ com os parlamentares que fizeram as emendas. Ele disse que Abel exigia entre 3% e 6,5% de comissão por negócio realizado. Abel também cobraria 10% sobre novos empenhos que o ministério programava.
"Pedi ao Abel que fizesse levantamento dos municípios de Alagoas e Mato Grosso para começar", contou Darci. "A comissão foi paga a Abel, em depósitos e cheques." Darci explicou que "os depósitos eram feitos em nome de terceiros por indicação de Abel". (Tarciso Nascimento)
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