Cotado para ser líder do governo na Câmara caso um deputado do PT conseguisse ocupar a Secretaria das Relações Institucionais do Palácio do Planalto, Pepe Vargas (foto, PT-RS) diz que a escolha da presidente Dilma Rousseff vai fortalecer a pasta, agora ocupada por Ideli Salvatti. O petista gaúcho diz que Dilma e seu vice, Michel Temer, vão participar das articulações políticas. Pepe defende Temer e afirma que ele nunca trabalhou contra os interesses do governo e do PT, ao contrário do que reservadamente dizem outros colegas do partido.
Objetivamente, no que o Temer trabalhou contra o governo?, afirmou o deputado em entrevista ao Congresso em Foco. O partido dele tinha uma posição, em relação ao Código Florestal, diferente da que o governo tinha. Isso é natural. Num governo de coalizão, não precisa toda hora, todo momento tudo ser exatamente como é. Temer e o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, que caiu após crise sobre sua evolução patrimonial, tiveram uma discussão ríspida por conta das divergências sobre o Código Florestal, aprovado na Câmara em maio.
“A presidenta também está chamando mais para ela e também vai utilizar positivamente o Temer” |
Do mesmo estado e partido do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), Pepe Vargas afirma que o atual líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), fez campanha pública para tornar-se ministro das Relações Institucionais. Ele defendeu a escolha solitária de Dilma por Ideli Salvatti para o cargo, sem considerar as posições dos deputados. O Lula também não ouvia e decidia do nariz dele. A Dilma está fazendo a mesma coisa, afirmou o deputado, em entrevista na manhã de sábado (25).
Pepe nega que o PT na Câmara esteja rachado entre o grupo de Marco Maia e o de Vaccarezza, que brigaram internamente para ocuparem o cargo de presidente da Casa. Diz que as votações mostram que os petistas estão unidos. Usa argumento semelhante ao de Maia, que, em entrevista publicada neste domingo (26) no jornal O Globo, admitiu a existência de divisões internas, negando que tenham interferido na condução política da bancada.
Leia a entrevista:
Congresso em Foco Como foi essa movimentação em torno do nome do senhor para ser líder do governo na Câmara. O que aconteceu?
Pepe Vargas Isso foi mais lá naquele momento em que se falava… Foi um pouco de especulação, né?
Não ligaram pro senhor?
Não, do governo ninguém me ligou. Mas aí a gente diz e o pessoal não acredita.
O senhor é benquisto lá no Planalto e já não é de hoje, né?
Rapaz, ainda bem que eu sou benquisto. Já pensou se eu não fosse?
Por isso que às vezes as pessoas duvidam. Sempre quando ventilam alguma hipótese, ligam. O pessoal pergunta.
Mas não houve esse fato. Nenhuma sondagem. Absolutamente nada.
Mas nem os deputados? Vaccarezza? Arlindo Chinaglia?
Não, aí tinha aquelas especulações lá. Tinha esse tipo de movimentação do pessoal que achava, tentando fazer algum cenário, como é que podia ser a solução.
Mas esses procuraram?
Não, não houve uma procura. Foi mais no sentido de o pessoal ver como possibilidade. Ali na Câmara, o pessoal que defendia a Vaccarezza para ir ao Ministério [das Relações Institucionais] viam Vaccarezza de ministro e aí citavam meu nome para líder do governo. Líder do governo é a presidente que escolhe, não é a bancada que define. É uma discussão que não leva a nada.
Resolveram-se os problemas entre o Vaccarezza e o Marco Maia? No Planalto, se diz que a presidente decidiu sozinha também porque o PT na Câmara não se une…
A Liderança do Governo e esses ministérios mais ligados à Presidência nunca foram discutidos dentro de bancada. E o Lula também não ouvia e decidia do nariz dele. A Dilma está fazendo a mesma coisa que o Lula. O que tem aí é uma tese que tenta, a partir da derrota que o Vaccarezza teve e da vitória do Marco Maia, estabelecer que a bancada do PT estivesse rachada. Ela não está rachada. Disputa por espaço e preferência por nome é normal na política. A bancada do PT não está rachada. Tem votado junta em muitos temas. Na questão do Código Florestal é que a bancada foi liberada. A maioria do bancada achava que o relatório do Aldo [Rebelo, PCdoB-SP, relator do projeto]… e quis votar contra. Os que votaram a favor… mas a bancada foi liberada para votar como queria. Não tinha divergência. Nas outras votações, a bancada vota junto sempre.
Pelo que o senhor fala, essa tese era de interesse ao Vaccarezza, para ele ter um espaço maior no governo.
O Vaccarezza – isso é público se movimentou para tentar ser ministro. Isso é evidente. Ele procurou apoios, enfim. Agora, por que a presidenta escolheu a Ideli [Salvatti como ministra das Relações Institucionais]? Acho que porque tem confiança nela e porque isso também resolvia um problema no qual o Luiz Sérgio [ex-ministro das Relações Institucionais] foi vítima nesse processo todo. Veja bem: o governo optou por fazer com que a Casa Civil voltasse a ter papel na articulação política e não só na gestão dos principais programas do governo. No momento em que você pega um ministro do perfil do [Antonio] Palocci e a Casa Civil passa a fazer articulação política, a SRI [Secretaria das Relações Institucionais] se esvazia. O Luiz Sérgio ficou esvaziado pelo desenho institucional que foi montado. Acho que a presidenta percebeu isso. E fez uma solução reconhecendo que o Luiz Sérgio, no desenho institucional, ficou fragilizado, e não porque ele teria algum grau de incompetência na execução da sua tarefa. A sua tarefa ficou minimizada. Aí, começam as especulações de toda a natureza. A especulação vira tese e aí está feito o negócio. Acho que a solução ela adotou foi: Bom, eu remanejo a Ideli e com isso eu também posso dar um espaço pro Luiz Sérgio. Por quê? Porque o desenho institucional que nós escolhemos prejudicou o Luiz Sérgio. Acho que foi essa a opção dela.
A Secretaria de Relações Institucionais sai fortalecida agora com a Ideli?
Sim, com certeza. Agora a Casa Civil não vai fazer articulação política. Quem vai fazer é a SRI.
E o Michel Temer?
A presidenta também está chamando mais para ela e também vai utilizar positivamente o Temer. Tu não tem como pegar um cara do tamanho do Temer, com a experiência, representatividade e com o trânsito que ele tem, e deixar ele lá na vice-presidência fazendo tarefas episódicas. Não, o Temer pode e deve ajudar muito na articulação política com o Congresso. O cara foi três vezes presidente da Câmara, foi presidente do PMDB durante muito tempo…
E ainda é para alguns…
Formalmente, está licenciado. É inegável que o Temer tem um papel a cumprir, que pode ser bem utilizado. Agora, eu acho que a presidenta vai começar a fazer mais isso. Vai ela fazer determinadas coisas, vai delegar pro Temer outras e a Ideli pilota a coordenação disso tudo.
O senhor fala em usar positivamente o Michel Temer. É um receio de que o PMDB possa se aproveitar disso e fazer coisas contrárias aos interesses do PT?
Não, não. Quando digo positivamente é porque determinados setores dizem que o Temer conspiraria contra. Não, o Temer pode e está fazendo um papel positivo. Quando digo é isso: mostrar positivamente que o Temer trabalha a favor do governo e não contra o governo. Objetivamente, no que o Temer trabalhou contra o governo? O partido dele tinha uma posição em relação a um assunto do Código Florestal, diferente da que o PT tinha e diferente da que o governo tinha. Isso é natural, é normal. Num governo de coalizão, não precisa toda hora, todo momento tudo ser exatamente como é. Ele agora está trabalhando positivamente para tentar, como trabalhou antes… Quando digo positivamente é nesse sentido, porque cumpre um papel positivo.
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