Bezerra Couto |
O meu papo com o pessoal deste site é fazer uma coluna leve, o humor sempre na frente de eventuais pretensões analíticas. Mas o maremoto que borra o governo Lula com cores trágicas me tira do sério. Não acho graça, nem me dá vontade de fazer graça. Quero é cobrar, perguntar. Perturbar quem faz a gente se sentir bobo por ter acreditado que, com Lula na presidência, as coisas poderiam ser pelo menos um pouquinho diferentes. Às perguntas. Em homenagem ao partido da estrela vermelha, gostaria que fossem 13. Foi pouco. Deu 16. Algumas delas se desdobram em duas ou mais: 1) Se Zé Dirceu, José Genoino, Delúbio, Sílvio Pereira e Marcelo Sereno, acusados por Roberto Jefferson de comandar o mensalão em nome do PT, nada fizeram de errado, por que reagiram de modo tão hesitante e trôpego às acusações? Leia também 2) O que estão esperando os ministros Palocci, Walfrido e Ciro para virem a público esclarecer de modo cabal a afirmação de Jefferson de que tinham conhecimento do mensalão e nada falaram ao presidente Lula? 3) Por que Lula disse que entregaria um cheque em branco ao presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson? De onde vem tanta confiança em um homem de passado, digamos, polêmico e que acabara de ser acusado de chefiar a corrupção nos Correios? 4) O que fez Lula após ouvir o depoimento de Jefferson sobre o mensalão, fato confirmado por Mercadante e Aldo Rebelo? Limitou-se a pôr fim ao pagamento dos parlamentares da base aliada? Por que não denunciou o fato à Procuradoria da República e à Polícia Federal? Ele só tomou conhecimento quando informado por Jefferson? 5) Por que Fernando Henrique e o PSDB estão tão interessados em baixar a bola da crise? Querem evitar a investigação de fatos soterrados e esquecidos? Temem que o fim precoce do governo Lula diminua suas chances eleitorais, abrindo espaço para “aventureiros”? Ou são de um patriotismo invejável? 6) Por que a grande imprensa, que cobre com tamanho furor e agilidade a agonia em praça pública da companheirocracia petista, não revelou o mesmo entusiasmo na apuração de escândalos do reinado de FHC? Aqui, podemos rememorar os muitas vezes lembrados casos da reeleição e das privatizações, mas também os quase sempre esquecidos episódios do loteamento politiqueiro da administração federal – que atingiu níveis excepcionais em áreas como a Previdência Social – e a da distribuição de retransmissoras de TV e rádios a aliados políticos. 7) Quem recebeu a grana do mensalão, e quanto? 8) Qual era a exata participação do publicitário Marcos Valério no, com o perdão da palavra, esquema? 9) Outras empresas participavam da operação? Quais? Como? 10) Quando e como teve início o mensalão? 11) Qual a “chantagem” de que falou Delúbio? Quem são os chantagistas? O que exigem? Que ameaça fazem? 12) Há alguma chance de o deputado Miro Teixeira sair incólume dessa história? Logo ele, que falou do assunto ao Jornal do Brasil em setembro de 2004, depois negou tudo e agora usa a mídia para revelar detalhes que antes se recusava a denunciar? O oportunismo, que a mídia tem premiado até o momento por ver no deputado uma fonte para novas informações, permanecerá impune? 13) Que moral tem o Conselho de Ética da Câmara para examinar a conduta de Roberto Jefferson com o currículo exibido por seu presidente, Ciro Nogueira, e pelo relator, Robson Tuma? O primeiro, lembre-se, acusado de cometer irregularidades na administração de apartamentos funcionais. O outro, envolvido em uma mal explicada história de contrabando. 14) Até quando o PT e o governo abusarão da nossa paciência nesse não-pode-CPI ou só-pode-se-for-assim, dificultando a investigação das coisas? 15) Que tal aproveitar o caldeirão de escândalos e ir fundo na limpeza do Congresso? Apurando, por exemplo, o que houve na eleição de Severino. Aquela na qual, segundo a revista Época, o ex-governador Garotinho teria distribuído “200 mil argumentos” para cada voto obtido em favor do presidente eleito. Aliás, não ficou claro se “argumentos” seria uma metáfora para “reais”. 16) A população continuará a premiar com seu voto nocivo esses políticos fisiológicos e malandros, estejam eles nos notórios PP, PTB e PL, no ardiloso PT, ou em qualquer outro partido? Para encerrar, duas curiosidades: Primeira: mensalão, de acordo com a terminologia da Receita Federal, é o recolhimento facultativo que alguém com mais de uma fonte de rendimentos pode fazer para antecipar o pagamento do Imposto de Renda, evitando que a conta fique salgada demais na declaração anual de rendimentos. Segunda: com o desatinado propósito de oferecer um serviço de utilidade pública, coloquei-me em campo apresentando a um total de sete pessoas com grande conhecimento do Congresso uma indagação tão ingênua quanto as 16 perguntas acima: quais são os deputados e senadores que poderíamos considerar razoavelmente insuspeitos no quesito honestidade? A idéia era verificar quem e quantos são aqueles nos quais podemos concentrar nossas últimas reservas de esperança no que se refere ao Congresso atual. Os “entrevistados”, jornalistas e antigos funcionários do Legislativo, fizeram suas escolhas auxiliados pelas listas de deputados e senadores. O levantamento, precário e altamente subjetivo, infelizmente me proíbe de revelar os nomes considerados mais íntegros do Parlamento nacional, para não cometer injustiças ou leviandades. Mas é impressionante o baixo número de parlamentares citados: modestos 41, ou seja, ridículos 6,9% do total de representantes eleitos para o Senado e a Câmara. É pra encarar como piada? |
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