A greve de fome iniciada às 17h15 do último domingo pelo ex-governador Anthony Garotinho não sensibilizou sequer a cúpula do seu partido até o momento e pode estar produzindo efeito contrário ao desejado pelo pré-candidato do PMDB à presidência da República. Aliado de Garotinho, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), considerou a greve inadequada e enfatizou que a atitude do colega foi fruto de uma decisão isolada e unilateral. "Não é um gesto do partido, tanto que não houve comunicação ao partido ou a mim. É uma questão de foro íntimo", afirmou.
Garotinho alega que a greve de fome é um protesto contra a "campanha mentirosa e sórdida" promovida pela mídia para desconstruir sua imagem. Ele afirma que sofre perseguição da imprensa, do sistema financeiro e do governo federal.
Até Lula ironizou ontem o gesto do ex-governador. "Se eu fosse entrar em greve de fome toda vez que a imprensa fala de mim, eu seria um natimorto. Todos nós ficamos chateados com a imprensa. O que eu quero, na verdade, é que as pessoas tenham consciência de que para nós o que importa é que quanto mais livre a imprensa mais forte a democracia", disse o presidente.
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Lúcido e hidratado
De acordo com o boletim médico divulgado na tarde dessa segunda-feira, Garotinho perdeu 700 gramas dos seus 90 kg. O médico que o acompanha disse que o pré-candidato está lúcido, hidratado, com ritmo cardíaco regular e pressão arterial e cardíaca normais.
O ex-governador de Pernambuco Jarbas Vasconcelos (PMDB), pré-candidato ao Senado, defendeu o cancelamento da candidatura de Garotinho. "Além de denúncias com um conteúdo crescente de problemas, Garotinho está expondo o partido ao ridículo com essa história de greve de fome. Trata-se de um amontoado de denúncias, que reúne corrupção, atos ilegais e má prática política", afirmou.
Garotinho é alvo de uma série de denúncias de irregularidades em sua pré-campanha. O ex-governador teria recebido recursos de empresas de fachada cujos diretores foram ou são ligados a organizações não-governamentais que receberam fartos recursos do governo estadual, comandado por sua mulher, Rosinha Matheus.
"Ele é muito robusto"
Com a greve de fome, em vez de ganhar apoio, Garotinho começa a perder terreno no partido. "Isso aí não é um método que deve ser usado para que uma pessoa se torne candidata. Isso é tudo, menos uma manifestação de força. Ele quer que se tenha pena dele. Mas ninguém no PMDB vai ter pena de Garotinho. Mesmo porque ele é muito robusto e uma greve de fome não vai ter o efeito que ele espera tão cedo. É uma manifestação de fraqueza que não sensibiliza o partido", disse o relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN).
O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), disse que o partido não irá se solidarizar com a iniciativa. "Nunca vi um cara tão ousado. Ou ele se lasca de uma vez ou vira vítima. Foi uma jogada perigosíssima. Eu até agora não entendi a razão dessa resposta. Com o padre Luiz Flávio Cappio, lá no Rio São Francisco, deu certo. Com ele não sei se vai dar não. Não creio que o partido vá se sensibilizar. Não deve ter influência em sua candidatura", afirmou.
O ex-governador, que está numa sala de 15 metros quadrados na sede regional do partido, no centro do Rio, faz duas exigências para suspender a greve de fome: que seja instituída uma supervisão internacional no processo político-eleitoral brasileiro, assegurando a igualdade de tratamento a todos os candidatos, com acompanhamento de instituições nacionais que tradicionalmente defendem a democracia, e que os veículos de comunicação que o acusam "cedam o mesmo espaço para que a população possa conhecer a verdade dos fatos".
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