O recesso quase nada mudou na agenda do Congresso. As poucas ações políticas dos últimos dias tratam dos escândalos relacionados ao uso do mandato e das verbas públicas em proveito dos próprios parlamentares, como aconteceu ao longo de todo o primeiro semestre. Ontem (27), PSDB e PDT preparavam novas representações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), principal envolvido na crise decorrente das revelações reveladas pela imprensa desde o início do ano.
Os tucanos querem a cassação de Sarney, segundo disse o vice-líder do PSDB, Álvaro Dias (PR). O Psol também tem uma representação contra o presidente do Senado e Cristovam Buarque (PDT-DF) elabora mais um pedido de perda de mandato contra o ex-presidente da República.
Os senadores do partido fecharam questão sobre o assunto. Na semana passada, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) já afirmava que a representação pedindo a cassação estava próxima. O pedetista afirmou isso um dia antes de o jornal O Estado de S. Paulo publicar uma sequência de sete diálogos gravados pela Polícia Federal com autorização judicial que revela a prática de nepotismo da família Sarney no Senado.
O partido só não entrou ainda no Conselho de Ética porque o líder da bancada, Osmar Dias (PR), se encontra no Paraná. Quando ele voltar, os pedetistas irão se reunir e analisar o atual cenário. Com as novas denúncias, se os senadores não mudarem de idéia, o encontro tende a ser apenas formal, já que existe uma pressão muito forte para a apresentação de mais um requerimento.
Na semana passada, Cristovam afirmou que “a possibilidade de uma representação pela cassação de Sarney” estava muito próxima. Mas que ainda contava com a renúncia do presidente. Porém, a revelação das gravações acabou mudando a postura dentro da bancada. A intenção, agora, é reforçar a pressão para que Sarney renuncie ao cargo em breve.
Contra Sarney, também foram protocoladas no Conselho de Ética três denúncias do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
Atos secretos
A permanência do presidente do Senado no cargo passou a ser questionada com mais vigor desde a semana passada, quando foram divulgados os diálogos grampeados pela Polícia Federal. As conversas entre Sarney, o filho Fernando e uma neta expuseram a intimidade da família com os cargos e vantagens decorrentes de atos secretos do Senado.
Apesar da força das revelações, Sarney acumula forças para tentar sobreviver no cargo. A estratégia ficou clara nos últimos movimentos e em conversas com amigos. Antes mesmo do fim do recesso, os aliados do presidente do Senado pretendem enfrentar os adversários políticos e reagir contra a Polícia Federal, autora dos grampos autorizados pela Justiça e divulgados pela imprensa.
Justiça Federal
A divulgação dos diálogos da família Sarney levaram o corregedor-geral da Justiça Federal, ministro Hamilton Carvalhido, a solicitar ontem (27) ao Corregedor Regional da Justiça Federal da 1ª Região, desembargador Olindo Herculano de Menezes, que forneça, no prazo de 48 horas, informações sobre as providências adotadas por aquela regional em resposta à divulgação da degravação de conversas telefônicas obtidas mediante a quebra de sigilo telefônico autorizada pela Justiça Federal do Maranhão.
Em resposta, o corregedor-regional da Justiça Federal da 1ª Região em exercício, desembargador Mário César Ribeiro, informou que enviou pedido de esclarecimentos ao juiz federal Ney Barros Bello Filho, da 1ª Vara Federal da Seção Judiciária do Maranhão. As gravações, obtidas com autorização judicial, foram feitas durante a Operação Boi Barrica e fazem parte do inquérito aberto pela Polícia Federal. As conversas foram divulgadas de maneira ilegal, uma vez que as investigações correm sob segredo de Justiça, e ligariam Sarney à emissão dos atos administrativos secretos no Senado.
De acordo com a Corregedoria da Justiça Federal, as transcrições dos diálogos estão no inquérito policial nº 2007.37.00.001750-7. O juiz tem o prazo de cinco dias úteis para responder à corregedoria-regional.
Adversários e aliados
Em conversas privadas, Sarney se mostra indignado com os adversários. Afirma que, se errou ao ajudar em nomeações de parentes, quase todos erraram. O peemedebista pretende usar tudo o que surgiu contra os que o acusam, como as passagens aéreas usadas por pessoas ligadas a Arthur Virgílio e a Eduardo Suplicy (PT-S) e os gastos com telefone celular do Senado pela filha de Tião Viana (PT-C) durante viagem ao México.
A defesa de Sarney encontra no Palácio do Planalto o maior aliado. Embora o PT tenha mais uma vez pedido o afastamento do senador maranhense, o presidente Lula trabalha contra a saída do aliado e a cúpula do partido também se movimenta para enquadrar a bancada no Senado.
Uma prova da lealdade do governo federal foi dada ontem pelo ministro das relações institucionais, José Múcio Monteiro, que relativizou o peso nota contra Sarney divulgada pelo líder do PT, Aloizio Mercadante (SP).
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