|
A menos de um mês do prazo final para que os candidatos que desejam disputar as eleições de 2006 mudem de partido, um grupo de parlamentares ligados à Igreja Universal do Reino de Deus articula silenciosamente uma debandada para a mais nova legenda do país: o Partido Municipalista Renovador (PMR), cujo registro definitivo foi concedido no último dia 25 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Caso todos os parlamentares ligados à Universal migrem para o PMR, a nova bancada já vai nascer como a oitava mais numerosa da Câmara, com 16 deputados, à frente de partidos tradicionais como o PPS (15), o PDT (14) e o PCdoB (10). O único representante da igreja no Senado é o bispo Marcelo Crivella (PL-RJ), sobrinho do fundador da instituição, o bispo Edir Macedo. Um dos poucos membros da igreja a falar abertamente sobre o novo partido, o deputado Jorge Pinheiro (PL-DF) confirma que a adesão de outros parlamentares ao PMR está sendo tratada em reuniões reservadas e que o anúncio do troca-troca só deve ser feito em caso de aprovação do projeto de lei que reduz a cláusula de barreira, item da reforma política que tem de ser votado até o fim do mês para ter validade no ano que vem. Leia também A mudança deve atingir principalmente o PL, que, na semana passada, perdeu o vice-presidente José Alencar. O partido, que está em crise interna, abriga nove parlamentares da Universal. A situação ficou ainda mais complicada depois que o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto (SP), renunciou ao mandato na Câmara, ao admitir que usou dinheiro de caixa dois para financiar a campanha eleitoral de 2002. “Eu não tenho muito tempo no PL, mas vejo que alguns parlamentares ficaram chateados com as denúncias que atingiram a legenda. Existe uma insatisfação dos meus colegas. Alguns queriam até sair”, afirma o deputado Jorge Pinheiro, que é pastor da Universal. Evangélicos divididos A fundação do partido divide a bancada evangélica e evidencia as divergências entre as várias designações religiosas com assento no Congresso. Dos 61 deputados e senadores evangélicos, 21 são da Assembléia de Deus, 17, da Universal e 10, da Igreja Batista. O restante se distribui entre as demais designações com menor representatividade no Congresso. Fator Garotinho Outro complicador é a influência do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB) sobre parte dos religiosos. “O Garotinho deve ser o candidato do PMDB nas eleições para presidente, e eu faço parte do grupo dele. Essa é uma razão para que eu permaneça no partido”, conta o vice-presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso, deputado Pastor Pedro Ribeiro (PMDB-CE). Pastor da Assembléia de Deus, Ribeiro prevê dificuldade para a sobrevivência do PMR. “O partido terá que lutar para não morrer no nascedouro.” Vice-líder do PTB, o deputado Pastor Reinaldo (RS) acredita que a criação de um partido com laços estreitos com a Igreja Universal irá fomentar a divisão entre os religiosos. “Se esse partido estiver ligado só a Igreja Universal, é melhor criar o partido da Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus) e da Pad (Partido da Assembléia de Deus)”, afirma o pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular. Outro a rejeitar vinculação partidária a uma única igreja é o Pastor Frankembergen (PTB-RR). “Eu não iria para o PMR, principalmente, porque é ligado a uma denominação. Já existe um partido que defende os nossos ideais que é o Partido Social Cristão (PSC)”, diz. O deputado Jorge Pinheiro descarta a possibilidade de a nova legenda ser caracterizada como sectária e ressalta que o PMR terá uma formação heterogênea. “Esse partido não é voltado só para a Universal ou para os evangélicos, é um partido político. A idéia é trabalhar com pessoas ligadas a outras religiões. É até melhor que seja assim”, diz o pastor da Universal. Crivella nega ligação com PMR Cotado como eventual candidato do PMR à presidência, Crivella nega ter qualquer envolvimento com o novo partido e atribui a criação da sigla ao ex-coordenador político da igreja, o deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ). “Não creio que o PMR corresponda agora a uma estratégia da Universal, mas sim do grupo liderado pelo o ex-bispo. Tanto eu como os vereadores e os deputados estaduais e federais da igreja não temos ligações com o PMR”, ressalta. Sob as ordens de Rodrigues, os idealizadores do PMR reuniram 438 mil assinaturas e criaram representações regionais em nove estados (Amazonas, Alagoas, Bahia, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Rio Grande do Sul, Rondônia e São Paulo) e no Distrito Federal. Obtiveram, sem barulho, o registro antes mesmo do Partido Socialismo e Liberdade (P-SOL), da senadora Heloísa Helena (AL). Oficialmente, o pedido de registro do PMR ao TSE foi feito pelo pastor Vitor Paulo Araújo dos Santos, que deve responder como presidente da nova legenda. Procurado pela reportagem, durante três dias, Araújo não retornou as ligações, mantendo o mistério em torno da nova legenda. Ex-bispo na berlinda Destituído do Conselho de Bispos da Universal e do posto de coordenador da bancada no ano passado, após a revelação de suas ligações estreitas com o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, Carlos Rodrigues está na lista dos 18 deputados ameaçados de cassação por causa do escândalo do mensalão. De acordo com a lista apresentada pelo empresário Marcos Valério Fernandes, o ex-bispo Rodrigues teria recebido R$ 400 mil das empresas do empresário por orientação do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Parte desse recurso teria sido sacada por Célio Marques Siqueira, assessor do deputado Wanderval Santos (PL-SP), um dos ex-coordenadores da igreja. Wanderval também corre o risco de ser cassado. |
Deixe um comentário