O Congresso em Foco enviou e-mail para todos os parlamentares contemplados com doações de campanha da indústria de bebidas. E procurou diretamente a assessoria dos cinco deputados e dos cinco senadores que mais receberam recursos do setor.
No Senado, o maior beneficiário da indústria de bebidas alcoólicas foi o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Aloizio Mercadante (PT-SP). Em sua frustrada campanha ao governo de São Paulo, em 2006, o senador recebeu um total de R$ 350 mil, sendo R$ 300 mil do grupo Ambev e R$ 50 mil da Cervejaria Petrópolis.
Por meio de sua assessoria, Mercadante disse ao Congresso em Foco que as doações não condicionam suas “convicções de voto” e que votará com o governo para restringir a propaganda de bebidas alcoólicas.
Chegou tarde
Candidato a presidente da República pelo PDT em 2006, o senador Cristovam Buarque (DF) sustenta que os R$ 150 mil doados pela Ambev para sua campanha eleitoral não terão peso algum no momento de votar as duas propostas que contrariam os interesses das cervejarias.
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"Acho que esse projeto de lei chegou tarde no Congresso. Vou votar com o governo. Não há absolutamente nenhuma relação entre a doação e o meu voto. Quando foi feita a doação me disseram que estavam contribuindo com um candidato comprometido com a educação no Brasil", contesta Cristovam Buarque.
O líder do PSDB no Senado, senador Arthur Virgílio (AM), também garante que os R$ 150 mil recebidos para sua campanha ao governo do Amazonas não terão nenhuma influência na apreciação das duas proposições enviadas pelo governo.
Ajuda indispensável
"Nas atuais características do sistema político brasileiro, somente os ricos – riqueza em muitos casos mal explicada – podem fazer campanha eleitoral sem a contribuição financeira de amigos e de empresários. Como meu pai e meus avós fizeram a opção pela honradez – e eu também – não nasci rico nem sou rico", justifica Virgílio.
"Não posso prescindir, portanto, desse tipo de colaboração. Mas nem eu me sujeitaria, por isso, a comprometer meu voto, nem, com a mais absoluta certeza, as empresas que generosamente me ajudaram, imaginaram poder influenciar meu comportamento parlamentar. Só tenho compromissos com o povo amazonense, que me orgulho de representar no Senado, e com os interesses do país", completa o senador do PSDB.
Na Câmara, apenas dois deputados retornaram os contatos da reportagem. Alexandre Santos (PMDB-RJ), que recebeu R$ 150 mil do grupo Schincariol, foi um deles. "Não tive acesso ao projeto de lei, e por esse motivo ainda não tenho uma opinião a respeito do mesmo. A doação não terá influência, votarei dentro das minhas convicções políticas", afirma o deputado, em referência ao projeto que restringe a publicidade de bebidas alcoólicas no rádio e na TV.
Situação gravíssima
Também por meio de sua assessoria, o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) disse que apóia ações que venham a coibir o abuso de bebidas alcoólicas. "O fato de ter recebido doações de campanha de indústria que, entre outros produtos, fabrica bebidas alcoólicas não altera o posicionamento frente ao uso problemático da bebida, principalmente em relação ao gravíssimo fato de o álcool estar sendo consumido a cada ano por pessoas mais jovens", diz a nota encaminhada pela assessoria do parlamentar.
Ainda por meio de sua assessoria, Leréia afirma que o projeto do governo "é benéfico a medida que amplia o leque das bebidas consideradas alcoólicas, entretanto é necessário que se faça acompanhar de medidas sócio-educativas por parte do poder público de forma a informar e incentivar o debate na sociedade".
João Paulo
Dono da campanha que mais recebeu recursos da indústria de bebidas na Câmara, o deputado João Paulo Cunha (SP) não retornou os recados deixados pela reportagem com sua assessoria.
O ex-presidente da Câmara recebeu R$ 400 mil da Schincariol. De todos os políticos eleitos em 2006, só o governador da Paraíba, o tucano Cássio Cunha Lima, angariou mais recursos da indústria de bebidas – R$ 430 mil, também da Schincariol.
João Paulo é alvo de ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento no escândalo do mensalão. Ele responde a processo pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato.
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