Reportagem da Folha de S. Paulo diz que o comando da campanha do candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) avaliou a carta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como uma iniciativa que dá praticamente certa a reeleição do presidente Lula (PT) já no primeiro turno. O entendimento é de que, apesar de FHC ter elogiado Alckmin e atacado duramente o governo Lula, a "Carta aos Eleitores do PSDB" já aponta para um cenário político pós-2006.
De acordo com a reportagem de José Alberto Bombig e Vera Magalhães, as declarações do ex-presidente abriram nova crise na campanha do presidenciável tucano, que aparece 24 pontos atrás do petista, segundo pesquisa Datafolha desta semana.
Segundo a Folha, Alckmin e seu grupo político avaliaram, reservadamente, que o ex-presidente agiu deliberadamente para manter o espaço privilegiado na cúpula do partido e não teve grandes pretensões de favorecer a candidatura do ex-governador paulista na sucessão presidencial.
“De imediato, na opinião de Alckmin e de seu grupo, FHC, com o texto, estaria deixando claro que não pretende abrir mão da posição de principal voz entre os tucanos, conquistada com as duas vitórias em 1994 e 1998 à Presidência, e não aceitará, pelo menos não sem colocar empecilhos, uma negociação com Lula e o PT em torno de uma coalizão”, diz a reportagem. "No entanto, caso Alckmin cresça nas pesquisas e chegue ao segundo turno, o ex-presidente poderá dizer que seus ataques a Lula o ajudaram”, continua.
Leia também
Ontem, irritado por também ter sido alvo das críticas do ex-presidente por causa do caixa dois em Minas, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) chegou a dizer que FHC não está empenhado na campanha de Alckmin. "Diferentemente de Fernando Henrique, que só critica, estou fazendo campanha sim, estou no interior de Minas, no Oeste mineiro, na cidade de Santo Antônio do Monte. Eu não sou candidato e estou fazendo campanha para o Alckmin. Onde está Fernando Henrique hoje?", questionou o ex-presidente do partido.
O candidato Geraldo Alckmin foi econômico ao avaliar as afirmações de FHC. Limitou-se a dizer que achou a "carta correta" no que diz respeito às críticas ao PT. "O Brasil no governo do PT vive uma crise moral grave."
O candidato a vice na chapa de Alckmin, José Jorge (PFL), que era ministro de Minas e Energia na época do apagão, chamou de "detalhe" a constatação, feita pelo ex-presidente, de que seu governo fracassou no setor elétrico. "O que importa é o ponto central da carta. O chamamento à sociedade." José Jorge também refutou a análise de que o texto de FHC praticamente dá como certa a reeleição de Lula. "É uma reação no momento certo."
Ainda de acordo com a reportagem, a posição do ex-presidente enfraquece o governador de Minas, Aécio Neves, entusiasta de um diálogo entre PSDB e PT: “Como José Serra, candidato em São Paulo, e o mineiro podem ser eleitos já no primeiro turno, o grupo mais próximo a FHC teme que os dois polarizem as discussões e o debate com Lula. Outro aspecto que desagradou o grupo de Alckmin foram as críticas de FHC à política de segurança pública do governo paulista, um dos pontos mais vulneráveis de sua campanha”.
Deixe um comentário