Uma entrevista publicada na edição desta semana da revista Época deve render muito material para discursos de parlamentares em plenário – mesmo que não tenha a ver, diretamente, com política. O consultor brasileiro Ricardo Neves afirma, sem meias palavras, que as idéias mais difundidas sobre pobreza, desenvolvimento e corrupção no Brasil são falsas.
Neves foi entrevistado a respeito de seu novo livro, Pegando no Tranco. No livro, o consultor diz que o Brasil não é pobre: “são apenas os números que desaparecem em meio à informalidade da economia”. Descarta a idéia do país como campeão da desigualdade social. Desmente a tese de que a classe média está encolhendo. E contesta a visão de um país assolado pela corrupção.
A seguir, os principais tópicos da entrevista:
Brasil, nação pobre
”Essa é uma forma obsoleta de perceber o Brasil. A base usada para medir a pobreza é o orçamento familiar. Os pesquisadores perguntam a um representante de cada domicílio qual é a renda média mensal. Como mais da metade dos trabalhadores está no mercado informal, é difícil que esse dado corresponda à realidade.”
Leia também
“Nas favelas do Rio, 14% dos domicílios têm carro, 22% têm microondas e 48% têm lavadora de roupas”.
“Uma coisa é pobreza, outra é baixa renda. No Rio, existe 1,8 milhão de domicílios. Desses, 300 mil estão em favelas. Percebemos que esses domicílios não representam mais a pobreza. Na nossa visão de classe média, olhamos para aquela alvenaria, o tijolo à mostra, e identificamos um sinal de pobreza. Não é assim”.
“As perguntas mudaram. Sai a questão da pobreza, entra a da informalidade. Existe um estatismo exagerado. O Brasil tem 5.577 cidades. Mas os municípios viáveis estão em cerca de dez regiões metropolitanas, que somam no máximo 300, 400 cidades. O resto vive à base de fundos de participação municipal. É aí que temos de resgatar a semântica positiva da palavra elite. Precisamos ser mais produtivos”.
Campeão da desigualdade
“Isso também é falso, por conta da metodologia utilizada pela ONU. Para começar, índices diferentes de anos diferentes são misturados. São avaliados dados de renda – que têm o problema da informação falsa – e dados de consumo. É juntar abacaxi com laranja”.
“Assim como a inflação foi nosso dragão tempos atrás, a informalidade é nosso câncer que está entrando em metástase”.
Corrupção menor do que imaginado
“A corrupção aparece em todas as democracias. Sempre que há transparência aparece rabo preso. Isso é um bom sinal. No Brasil, temos rotatividade no poder. Temos também ONGs que monitoram as contas públicas.”
“A Lei de Licitação Pública é de 1992. Até então, obras faraônicas eram construídas por indicação de ministros. Há a Lei de Responsabilidade Fiscal. Temos portais eletrônicos do governo que permitem monitorar os empenhos do Tesouro Nacional”.
Deixe um comentário