Enfraquecido por denúncias de corrupção e atingido por críticas públicas da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, e de outros integrantes do governo, o ministro Antonio Palocci está inclinado a deixar o Ministério da Fazenda.
Em entrevista publicada quarta-feira pelo Estado de S. Paulo, Dilma considerou "rudimentar" a proposta de ajuste fiscal de longo prazo feita pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e respaldada por Palocci. Também criticou os altos juros, por impedirem a redução da dívida pública, e defendeu a queda das taxas para o país "sair do atoleiro".
O presidente Lula se reuniu com Dilma e Palocci na manhã de ontem na Granja do Torto. Por solicitação do ministro da Fazenda, proibiu que seus auxiliares exponham divergências internas na mídia. O pito foi considerado pouco por Palocci, que está profundamente irritado com os ataques de membros do governo, justo no momento em que enfrenta acusações cada vez mais intensas com relação a irregularidades praticadas na época em que foi prefeito de Ribeirão Preto (SP).
Ontem mesmo, o vice-presidente José Alencar disse à imprensa, com todas as letras: “O ministro Palocci está errado e tem de mudar de idéia. Essa política entrava o nosso desenvolvimento e está matando a economia”. A solidariedade de Alencar a Dilma não poderia ter sido mais explícita: “Por força de minha experiência de vida, dou razão à ministra Dilma Rousseff, porque tenho dito que o regime de juros no Brasil, especialmente no que diz respeito à taxa básica, à taxa Selic, do ponto de vista real, é a mais alta do mundo, é dez vezes a taxa média de 40 países.”
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Dilma também tem sido paparicada pela ala governista do PMDB. Na quarta-feira, foi homenageada, na casa do senador Ney Suassuna (PB), com um jantar oferecido pela bancada peemedebista no Senado.
A ministra tornou-se um sopro de esperança para todos aqueles que, dentro ou fora do governo, gostariam de ver alguma mudança na política econômica conservadora seguida por Palocci. A lista é vasta: a grande maioria dos ministros, todos queixosos com as retenções de recursos que dificultam a execução de seus planos; boa parte dos parlamentares do PT e de partidos aliados; além de empresários, ativistas sindicais e economistas que consideram exageradas as atuais taxas de juros ou as metas de superávit (que obrigam o governo a investir menos).
No mercado financeiro, as notícias sobre os percalços de Palocci não trouxeram até agora maiores problemas. O dólar, por exemplo, caiu ontem para o nível mais baixo dos últimos quatro anos (R$ 2,16 no câmbio comercial).
Dois sentimentos predominantes explicam o fato. O primeiro é a crença de que Lula faria tudo para evitar a exoneração de Palocci. O segundo é a convicção de que nem a eventual saída do atual ministro da Fazenda provocaria alteração nos rumos da política econômica. Nessa hipótese, especulam analistas econômicos, o mais provável seria sua substituição por um técnico “confiável” e conservador, como o secretário executivo da Fazenda, Murilo Portugal, que já foi executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) e secretário do Tesouro Nacional durante o governo Fernando Henrique.
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