Mais uma vez o homossexualismo vai colocar parlamentares de esquerda e as bancadas religiosas em campos opostos no Congresso. A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara aprovou por unanimidade o “Estatuto das Famílias”, com modificações feitas pelo deputado Padre José Linhares (PP-CE) para excluir o reconhecimento da união entre duas pessoas do mesmo sexo como “entidade familiar”. Na mesma quinta-feira passada (26), o autor do projeto começou a articular a retomada do texto original na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
O relator mais provável é José Genoino (PT-SP), que solicitou a tarefa na comissão. Na CCJ, os petistas acreditam que conseguirão reverter o texto. Mas as bancadas católica e evangélica certamente conseguirão levar os projeto ao plenário da Câmara, para evitar que, aprovado na CCJ, siga diretamente para o Senado. “Nossa luta é manter o texto”, diz o deputado católico Miguel Martini (PHS-MG).
Leia as íntegras
O texto original — O substitutivo aprovado — Quadro com as modificações
Capítulo “Da união homoafetiva” foi excluído Art. 68. É reconhecida como entidade familiar a união entre duas pessoas de mesmo sexo, que mantenham convivência pública, contínua, duradoura, com objetivo de constituição de família, aplicando-se, no que couber, as regras concernentes à união estável. Parágrafo único. Dentre os direitos assegurados, incluem-se: I – guarda e convivência com os filhos; II – a adoção de filhos; III – direito previdenciário; IV – direito à herança. |
Segundo Barradas, a lei atual está desatualizada, pois começou a ser concebida no início dos anos 70. Só em 2002 acabou aprovada. A proposta do deputado é legalizar tipos de família existentes hoje, como um pai separado com seus filhos, uma tia que criam os sobrinhos cujos pais faleceram, irmãos solteiros que vivem sob o mesmo teto e parceiros homossexuais.
No caso da “união homoafetiva”, o artigo 68 do projeto original previa que essa modalidade de família teria direito a adotar filhos e ter a guarda deles, além das garantias patrimoniais, previdenciárias e relativas a herança.
Segundo Barradas, a sociedade mudou e a lei precisa acompanhar as alterações existentes. “Uma pessoa não pode ter menos direitos do que outras por conta da orientação sexual dela”, diz o deputado. Ele afirma que a adoção de filhos por homossexuais não é proibida atualmente e que isso não significa que haverá abusos sexuais das crianças por conta disso. Barradas diz que, atualmente, existem pedófilos heterossexuais.
Em pesquisa, 49% contra
A estratégia de Barradas é aguardar a CCJ. Ele contactou José Genoino para assumir a missão de restaurar o texto original. Genoíno fez um pedido por escrito ao presidente da comissão, Tadeu Filippelli (PMDB-DF) para ficar com a relatoria. Filippelli não retornou aos pedidos de entrevista da reportagem.
Tanto os petistas como o relator na Comissão de Família, padre José Linhares, utilizam a realidade da população brasileira para defender ou rejeitar as uniões homoafetivas.
Para Barradas, existem diversas famílias com configurações diferentes das do passado, baseadas no patrimonialismo e no matrimônio. Essa realidade teria que ser contemplada pela legislação.
Com linha de raciocínio semelhante, o deputado Linhares diz que a maior parte da população não concorda com a união sexual entre pessoas do mesmo sexo. Cita como exemplo pesquisa “Diversidade sexual e homofobia no Brasil”, da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, em que 49% dos entrevistados se disseram contrários à união e 32% são favoráveis. O estudo foi divulgado em janeiro deste ano no Fórum Social Mundial; os dados, coletados em junho de 2008.
“Não é possível inferir, somente com base nesses números, que os brasileiros são um povopreconceituoso, mas parece-nos bastante evidente a opção, no conjunto, pelos valores judaico-cristãos que fazem parte de nossa formação como sociedade moderna”, afirma o deputado em seu relatório.
Concepções arcaicas
Genoino diz que o relatório é absurdo porque, embora respeite as bancadas religiosas, as convicções de fé não podem ser estendidas a políticas de estado. “A Câmara não pode ser dominada por essas concepções religiosas arcaicas”, critica o deputado do PT. Ele acredita que o debate na CCJ, formada por diversos juristas, não terá a “cegueira” da Comissão de Seguridade Social e Família.
Mas para o deputado e padre Linhares a cultura ocidental consagra diversos aspectos da fé cristã, que não podem ser ignorados na produção das leis. “Em toda a sociedade ocidental, cuja tradição baseia-se no referencial judaico-cristão, a sexualidade institucionalizada e legitimada justifica-se pela consagração do casamento, com vistas à constituição de família, por meio de reprodução natural, no seio de uma relação harmoniosa entre os cônjuges”, diz o relatório aprovado na última quinta-feira.
Mesma opinião tem o deputado Miguel Martini. Ele diz que a maioria da população é católica e têm uma concepção de família e sociedade que não pode ser ignorada: um homem e mulher que se unem para procriar e ter uma estrutura familiar que dê “pleno desenvolvimento” ao ser humano que vai nascer.
Martini afirma que uma entidade familiar liderada por dois homossexuais não atende a esse modelo. “Não tem o objetivo de formar família e procriar. Não é sadio para a formação das crianças e agride a ordem natural das coisas”, afirma o deputado. “Não é uma questão de fé, mas de convivência social.”
Tendência
Martini diz que pesquisa científica de um homossexual radicado em Brasília mostra que a criança precisa de um referencial de pai e mãe, homem e mulher. “Uma das coisas que levam alguém a optar pelo homossexualismo é a criação”, afirma o deputado.
A reportagem procurou o deputado Linhares desde a quinta-feira (27), mas ele não retornou os recados deixados em seu gabinete e celular. Outros parlamentares das bancadas católica ou evangélica e da CCJ também foram procurados, mas não retornaram os contatos ou preferiram não se manifestar enquanto não lessem a íntegra do projeto, como Gilmar Machado (PT-MG) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
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