Roseann Kennedy
O escândalo na Receita gera insegurança política e já provocou a judicialização da corrida presidencial. PT e PSDB travam uma briga de ações na Justiça e trocam acusações que são temerosas num ambiente democrático.
O PSDB recorre à Justiça, ao Ministério Público e à Polícia Federal para cobrar a devida investigação do caso; o acesso aos dados da apuração, e para exigir que seja verificado o real interesse na obtenção de informações sigilosas de tucanos.
Porque, apesar de o secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, ter tentado afastar uso político do órgão, ao dizer que havia um balcão de negócios para venda de dados do Fisco, a pergunta continua: para quê serviria o vazamento de dados de pessoas ligadas ao PSDB senão para fins políticos? Inclusive dados da filha do candidato à Presidência, José Serra?
O PT, por sua vez, também decidiu rebater na Justiça cada crítica ou suspeição levantada contra a legenda ou sua candidata, Dilma Roussef, nesse escândalo, sempre com ações por calúnia e difamação. Principalmente porque até o momento não há conclusão das investigações ou provas das motivações das quebras de sigilo.
As respostas do PT, no entanto, não foram suficientes para enterrar definitivamente as suspeitas que pesam contra o partido, num momento em que aparecem entre duas pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores entre os nomes dos que obtiveram informações sigilosas dos tucanos.
A alegação petista de que o caso ocorreu antes da corrida presidencial é muito frágil. Afinal, no final de 2009, todos já sabiam que Dilma Roussef era a candidata do PT, assim como era de conhecimento público que o PSDB teria candidato e que mais que provavelmente esse seria José Serra.
Além disso, eu pessoalmente não ouvi dos petistas de forma taxativa que estaria descartada uma reedição do caso dos aloprados de 2006.
Na quinta-feira passada, inclusive, antes mesmo de ser revelado que o contador que obteve os dados da filha de Serra tinha sido filiado ao PT, eu perguntei ao secretário geral do PT, José Eduardo Cardozo:
– “O senhor descarta taxativamente a possibilidade de haver reedição do caso dos aloprados?
A resposta foi a seguinte:
– “O que vou te afirmar é o seguinte: te digo com absoluta clareza, em nenhum momento a coordenação da campanha de Dilma Roussef, a direção nacional do Partido dos Trabalhadores, determinou formação de dossiê, criação de grupo de inteligência etc.”
Cardozo também disse não ver nenhuma associação com o caso dos aloprados. Na ocasião não havia ainda, no escândalo, referência a pessoas filiadas ao PT.
Nesta segunda, Cardozo não retornou meus telefonemas.
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, convocou coletiva para falar sobre o caso da Receita.
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