Ricardo Ramos |
Em "Mulheres no Topo de Carreira: Flexibilidade e Persistência", a economista Tânia Fontenele identificou certas características peculiares às mulheres no exercício de altos postos do Executivo Federal: a sensibilidade, o trabalho em equipe, geralmente pautado em decisões discutidas em grupo, a flexibilidade e a atenção às relações pessoais. Defendida no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), a tese é dividida em dois grandes estudos, distribuídos em 116 páginas. Na primeira parte, Tânia entrevistou sete mulheres ocupantes de altos postos de hierarquia. Todas as entrevistadas – ministras, secretárias-executivas e diretoras de áreas importantes na Esplanada dos Ministérios – tinham pós-graduação e idade média de 45,5 anos. Foram escolhidas aquelas que estavam em cargos anteriormente ocupados por homens. Leia também A partir de um roteiro dirigido, elas responderam a uma série de questões. Por exemplo: o que é ser uma mulher gerente, o que é preciso para chegar a um cargo decisório, e quais as dificuldades, vantagens e desvantagens de ocupá-los. As respostas foram analisadas por um software, que listou e ordenou a repetição das palavras. A autora do estudo percebeu que as formas de gerenciar das mulheres são diferenciadas. "Há uma tentativa de humanizar as relações de trabalho, diminuir a hierarquia nas relações, semelhante ao comportamento da mulher em família", enfatiza Tânia, funcionária pública e professora universitária. Na segunda etapa da tese, foi a vez das equipes coordenadas por mulheres serem ouvidas. Foram 146 entrevistados: 74 mulheres e 72 homens. A partir da pergunta "trabalhar com uma mulher gerente é…", os subordinados listaram nove palavras que exprimiam, de alguma forma, essa relação. Depois, os entrevistados indicaram as três expressões que julgavam mais importantes e, por último, aquela que consideravam a mais significativa. A vencedora foi a palavra organização. Isso sugere, segundo a autora do estudo, duas interpretações. A recorrente repetição mostraria um detalhismo exagerado, tornando as decisões mais demoradas e centralizadas. Ou, por outro lado, o maior detalhamento apontado pelos entrevistados evitaria que os subordinados fizessem o trabalho mais de uma vez, o que poderia "favorecer o desenvolvimento de estratégias com maior margem de planejamento". Os entrevistados citaram expressões que denotariam sentimentos femininos, como a sensibilidade e a tranqüilidade. "As mulheres querem comprovar competência, sem perder a doçura e o trato leve", afirma Tânia Fontenele, ao destacar que elas sabem dizer “não” sem serem autoritárias. Outro destaque ficou por conta do relato dos sacrifícios pessoais das mulheres gerentes. Mesmo ocupando cargos de alta responsabilidade e forte pressão por resultados, elas ainda arrumam tempo na agenda para acompanhar a rotina de casa, especialmente a educação dos filhos. Mas cobram apoio deles. "É fundamental o apoio da família para a trajetória de sucesso dessas mulheres", finaliza a pesquisadora. |
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