Os líderes dos partidos da base do governo se rebelaram ontem e exigiram que o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), tome uma atitude para preservar a imagem da Casa e se negue a receber a nova lista de parlamentares suspeitos, elaborada a partir do depoimento de Maria da Penha Lino, ex- assessora especial do Ministério da Saúde presa na Operação Sanguessuga.
Os líderes do PT, do PTB, do PMDB, do PSB e do PL querem que, antes de enviar a lista, a Polícia Federal e o Ministério Público concluam as investigações e apontem os deputados que comprovadamente receberam propina na liberação de emendas ao orçamento de interesse da quadrilha.
Eles defendem que a Procuradoria da Casa envie uma representação contra o delegado da PF Tardelli Boaventura e o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pelo vazamento de informações que estão em segredo de Justiça.
Ontem de manhã, a Corregedoria recebeu uma nova lista com 81 nomes de deputados acusados por Maria da Penha. Os líderes se reuniram com o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e decidiram pressionar Aldo a rejeitar a nova lista.
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"Do jeito que a funcionária falou, envolvendo 170 nomes, fica uma coisa horripilante pensar que tantos deputados estão envolvidos num esquema como este. A PF e o Ministério Público têm o dever de concluir o trabalho de investigação antes de mandar lista para cá. Uma lista de 81 nomes porque uma funcionária lembrou? Com uma delação premiada faz acusações a granel? Isso é rigorosamente insuficiente", criticou Chinaglia.
Em cadeia, de rádio e TV
Os líderes aliados também exigem que o presidente da Câmara, que está em missão oficial no Uruguai, assuma uma posição firme de defesa dos parlamentares, inclusive com pronunciamento em cadeia de rádio e TV. "A Mesa precisa tomar uma posição. Temos de ser enérgicos com culpados mas também com quem acusa irresponsavelmente", cobrou o líder do PTB, José Múcio (PE).
O líder do PL, Luciano Castro (RR), incluído na lista de Penha, foi à tribuna e chorou ao dizer que estava muito nervoso porque estava sendo violentado e massacrado sem direito de defesa.
Corregedoria define depoimentos
A comissão de sindicância da Corregedoria aprovou ontem a convocação de 28 pessoas para depor na investigação dos primeiros 16 acusados. Entre os convocados estão o delegado da PF Tardelli Boaventura e Maria da Penha, além dos investigados. A Corregedoria não tem poder de convocar ninguém, apenas de convidar.
O plano da comissão é começar com os não-parlamentares: autoridades que investigam o caso e pessoas acusadas de integrar o esquema. Darci Vedoin, sócio da Planam, empresa que comandaria as fraudes, sua mulher e o filho Luiz Antônio Vedoin estão entre os listados.
Lista de investigados pode aumentar
Além dos 16 anunciados anteontem, mais deputados poderão ser alvo de investigação da comissão de sindicância da Corregedoria por envolvimento na fraude da venda de ambulâncias para prefeituras, segundo o corregedor, Ciro Nogueira (PP-PI), e o relator, Robson Tuma (PFL-SP).
"Obviamente, alguns dos nomes podem sair e outros, aparecer; o trabalho será feito com muita cautela para evitar que culpados sejam inocentados, e inocentes, culpados", disse Tuma, ao comentar o recebimento ontem da lista com novos nomes apontados por Penha.
Ciro Nogueira disse que a PF agiu de forma "irresponsável". "A PF cometeu uma ilegalidade ao mostrar fotos de deputados para a servidora. Isso é investigação de parlamentares, o que foge de suas atribuições."
Em nota, a PF informou que "investigou e investiga apenas pessoas que não gozam de prerrogativa de foro especial, sendo descabidas as insinuações de que tenha produzido relatórios sobre o envolvimento de parlamentares nos crimes em questão."
A Polícia Federal diz ainda que "acolheu requerimento do Ministério Público Federal determinando que, no prazo de 48 horas (a partir de 25 de abril, quando se encerraram as escutas), produzisse um relatório contendo todas as referências a parlamentares colhidas nas gravações."
PSB afasta líder e vai fazer varredura em emendas
Ainda ontem, o deputado Paulo Baltazar (RJ) pediu afastamento da liderança do PSB na Câmara. Outro deputado do partido envolvido nas denúncias da Operação Sanguessuga, Isaías Silvestre (MG) também se afastou da presidência da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle até a conclusão das investigações. Silvestre e Baltazar estão na lista de 16 deputados que serão investigados pela Corregedoria por conta da operação da PF.
O novo líder do PSB na Câmara, Alexandre Cardoso (RJ), disse que o partido vai fazer uma auditoria nas emendas de senadores e deputados da legenda para a compra de ambulâncias. Cardoso disse que já determinou a sua assessoria que faça um levantamento dessas emendas no Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira).
"Esse trabalho poderá ser feito por amostragem, observando a compra por estado. Vamos fazer uma varredura para saber os valores envolvidos nessas transações", disse.
Por meio da Operação Sanguessuga, a PF desbaratou uma quadrilha envolvida na compra superfaturada ambulâncias para municípios, em um esquema que abrangia desde assessores parlamentares e políticos até funcionários do governo federal.
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