Só em materiais, a Odebrecht gastou na reforma cerca de R$ 500 mil, segundo cálculos de Patrícia Fabiana Melo Nunes, 34, que na época, era proprietária do Depósito Dias e forneceu produtos para a reforma no sítio, iniciada em outubro de 2010, a três meses do fim do segundo mandato de Lula como presidente.
“A gente diluía esse valor total em notas para várias empresas, mas para mim todas elas eram Odebrecht”, diz.
Patrícia afirma ainda que as obras no sítio foram coordenadas pelo engenheiro da Odebrecht Frederico Barbosa, o mesmo que cuidou da construção do Itaquerão, estádio do Corinthians, outra obra da empreiteira.
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A loja de Patrícia abriu um cadastro em nome da Odebrecht, mas, atendendo a pedido do engenheiro, emitiu notas de compras feitas pela empreiteira em nome de outras empresas. Houve também vendas realizadas sem nota fiscal.
Mesa na loja
A frequência das compras e a falta de sinal internet no local fizeram com que Patrícia cedesse uma mesa na loja ao arquiteto Igenes Irigaray Neto, responsável pela reforma. Ela garante que durante a realização das obras o engenheiro Barbosa e o arquiteto Irigaray iam ao seu estabelecimento quase todos os dias.
A ex-fornecedora conta que os pagamentos da construtora eram feitos semanalmente.
“Eu lembro que o Quico [apelido do engenheiro] ligava para um outro senhor, que orientava sobre como era para fazer as notas. Eu não tinha o telefone, o endereço, nada desse outro senhor. Só sabia que na sexta-feira às três horas da tarde ele passava lá para pagar. Os pagamentos giravam em torno de R$ 75 mil a 90 mil por semana, em dinheiro vivo”.
“Era uma mala que tinha outros valores também para pagar para os pedreiros, serventes etc. Ele ia tirando envelopes de papel pardo. Dava para ver que tinha uma organização na mala para ser rápido, pagar o pessoal em ir embora. Ele só fazia isso”, continuou Patrícia.
Já o motorista e marceneiro Antônio Carlos Oliveira Santos, 45, afirmou que executou serviços de marcenaria no sítio e que as obras eram chefiadas por um engenheiro chamado Frederico.
“Ele [Frederico] me disse que era da Odebrecht, que a Odebrecht estava comandando aquilo. Fui pago por ele em dinheiro vivo. Me chamou a atenção a abundância de dinheiro na obra”. “Todo mundo comentava que o sítio seria para o Lula, mas o Frederico nunca me disse isso”.
Dividido
O sítio tem 173 mil m² (o que equivale a 24 campos de futebol) e está dividida em duas partes – uma registrada em nome de Fernando Bittar, filho de Jacó Bittar, amigo de Lula e um dos fundadores do PT. A outra pertence formalmente ao empresário Jonas Suassuna. Assim como Bittar, Suassuna é sócio de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho do ex-presidente.
Antes da reforma, o sítio, localizado em área arborizada, tinha um lago, uma estrada de acesso e uma casa antiga. O lago foi reformado e a propriedade ganhou nova construção com quatro suítes e um espaço de lazer com churrasqueira.
Poder
A Odebrecht, a maior empreiteira do Brasil, se aproximou de Lula quando o ex-presidente chegou ao poder. A empresa tocou, na gestão do petista, algumas das maiores obras do país, incluindo a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
A Operação Lava Jato acusa a Odebrecht de envolvimento em desvios de dinheiro na Petrobras que soma R$ 6 bilhões. O ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, está preso há sete meses.
Por sua vez, Lula é alvo de investigação do Ministério Público do Distrito Federal por suposto tráfico de influência junto a políticos de outros países, principalmente da África e da América Latina, para obter contratos para a Odebrecht. Lula nega.
Na entrevista, Patrícia Nunes disse ainda que, além da Odebrecht, “várias empresas” participaram da construção.
Segundo a revista “Veja” afirmou, em abril de 2015, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, amigo de Lula e um dos alvos da Lava Jato, pensava em contar, numa eventual delação premiada, que fez uma reforma no sítio de Atibaia, a pedido de Lula. A Polícia Federal passou a investigar se a OAS beneficiou o ex-presidente.
O outro lado
“Após apuração preliminar, a Construtora Norberto Odebrecht não identificou relação da empresa com a obra”, disse a empreiteira, por meio de sua assessoria de imprensa.
Procurado, o Instituto Lula disse que não iria se manifestar sobre o conteúdo da reportagem.
O empresário Fernando Bittar, um dos donos da propriedade rural, e que é sócio de Fábio Luís na Gamecorp, não respondeu a nenhuma das tentativas de contato feitas pela Folha.
O empresário Jonas Suassuna, sócio de Fábio Luís, filho mais velho de Lula, informou que a área que ele possui fica ao lado do sítio e não contém as benfeitorias descritas na publicação.
“Não sou dono do sítio Santa Bárbara, sou dono do sítio ao lado. No meu terreno não há nenhuma edificação, e ele foi comprado com o meu dinheiro. Não conheço a Odebrecht. Sou só vizinho e isso não me parece crime”, disse.
A Folha não conseguiu localizar o arquiteto Igenes Irigaray Neto.
Frederico Barbosa, engenheiro da Odebrecht que participou das obras, diz que o fez por meio de outra empresa e que seu trabalho foi “apoio informal”.
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