Glauco Peres da Silva *
Encerrada a apuração de votos nestas eleições, o segundo turno da eleição presidencial promete ser bastante disputado. Surpreendentemente, Aécio Neves (PSDB) conseguiu uma votação bastante elevada frente às pesquisas de véspera. Seus quase 34% vieram de uma arrancada nas últimas semanas e surpreendem pelo rápido crescimento. Este resultado acende uma luz amarela para a campanha de Dilma Rousseff que, com quase 42% dos votos, disputará palmo a palmo o eleitorado brasileiro. Para quem a vitória ainda no 1º turno chegou a ser cogitada nas últimas semanas, o cenário não é o mais animador. Já Marina Silva (PSB) perdeu fôlego na reta final, alcançando pouco mais de 21% dos votos válidos. Em parte, esta situação decorre da inabilidade da campanha de Marina em responder às constantes críticas a que foi submetida, principalmente da campanha de Dilma. Esta, por sua vez, parecia que preferia um segundo turno contra o candidato tucano, mas certamente não esperava a votação tão expressiva de seu oponente. As previsões atuais são de empate entre os candidatos petista e tucano e isso só acirra ainda mais a disputa.
Já nas eleições para governador, o cenário é bem mais polarizado. A figura abaixo mostra a distribuição dos estados entre os partidos com os resultados de 1º turno e com o cenário otimista de 2º turno:
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O PMDB já conseguiu quatro governadores e se vencer em todas as disputas de 2º turno de que participa alcançaria a expressiva marca de 12. PT e PSDB são os outros partidos que não só alcançam já vitórias no 1º turno, com três e dois governadores eleitos respectivamente, como pelos estados onde conseguiram estes feitos. O PSDB venceu no Paraná e em São Paulo, enquanto o PT conseguiu a vitória na Bahia, em Minas Gerais, forte reduto tucano, e no Piauí. Ambos podem atingir marca expressiva com o resultado do 2º turno se vencerem em todas as disputas em que participam. Porém, vale dizer que o PSDB é o partido com o maior número de governadores em final de mandato. São oito no total. Junto com o PSB, com outros seis, são os partidos com maior chance de perderem representatividade nos governos estaduais. Por fim, uma novidade histórica: pela 1ª vez, o PCdoB faz um governador. Flávio Dino, no Maranhão, terra dos Sarney, o candidato comunista recebeu 1,8 milhões de votos (63,5% dos votos válidos) e se elege em 1º turno. Chama atenção não só o fato em si, já que é um partido que participa das eleições há bastante tempo, mas o estado onde essa prosa acontece.
No Senado, o resultado é mais pulverizado ainda como pode ser notado no quadro abaixo:
O PMDB elege cinco novos senadores, alcançando um total de 18 senadores. Porém, antes o número de senadores por este partido era 19. O PSDB tem um movimento semelhante: elege quatro novos senadores, alcançando dez no Senado. Mas perde, em termos líquidos, duas cadeiras. O PT segue o PSDB, ao eleger apenas dois senadores, o que reduz a sua participação no Senado em uma posição. Expressivamente, a participação do PSB no Senado sobe de quatro para sete senadores, já que o partido elegeu três novos. O PDT é outro vencedor nessas eleições, ao sair de seis senadores para oito, ao conseguir eleger quatro novos. O que chama atenção é o aumento da fragmentação no Senado. Com cerca de 7,9 partidos efetivos em 2010, o Senado agora após essa eleição está com 8,5 partidos efetivos, o que torna a governabilidade bem mais cara ao Executivo. No mesmo sentido, movimento semelhante acontece na Câmara dos Deputados. Se os resultados se mantiverem, a eleição de 2014 proporciona uma Câmara com 13,1 partidos efetivos, frente a 11,5 pelo resultado das urnas de 2010. Esse aumento torna o Congresso brasileiro o mais fragmentado do planeta, o que apenas reforça o tipo de política que vem sendo feita no chamado presidencialismo de coalizão.
Uma palavra final sobre o resultado geral das eleições. Os pequenos e médios partidos conseguiram amealhar posições de destaque na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. A polarização PT e PSDB que se mantém no cenário do Executivo federal não se estendeu para as demais disputas, com uma posição geral mais desfavorável ao PT. O segundo turno das eleições para governador ainda pode alterar esse quadro, mas não altera o ponto mais preocupante. O aumento na já elevada fragmentação do Congresso Federal, caso não seja alterada por processos judiciais de impugnação de candidaturas e que tais, tornará ainda mais difícil a relação entre Executivo e Legislativo. Isto tende a piorar o que nesta eleição se convencionou chamar de “velha política”.
* Glauco Peres da Silva: professor de ciência política da Universidade de São Paulo e autor do blog Entrementes.
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