Roseann Kennedy*
A montagem da equipe ministerial de Dilma Rousseff parecia seguir o caminho desejado integralmente pelo PT. O partido vem, pouco a pouco, abocanhando todas as vagas pleiteadas na Esplanada dos Ministérios. Suficiente para deixar os integrantes da legenda satisfeitos? Não. Porque o Partido dos Trabalhadores tem várias correntes internas e nem todas foram atendidas.
A divisão de cargos beneficiou mais o grupo majoritário e os políticos e indicações paulistas. Os petistas das outras regiões reclamaram que estava sendo formado um “paulistério” e também ressaltaram que havia uma corrente com muito poder concentrado.
Sem poder no Executivo, esse bloco de insatisfeitos decidiu então brigar por poder no Legislativo e passou a reclamar o direito à Presidência da Câmara dos Deputados.
Resultado: a briga fez com que uma candidatura considerada certa e vencedora, a do atual líder do Governo na Câmara, Cândido Vacarezza (SP), ficasse perdida no meio do caminho. Fatores que o conduziram à liderança foram os que derrubaram sua candidatura. Vacarezza seria o preferido do Planalto, com apoio da corrente majoritária e é da bancada paulista.
O partido ficou o dia todo cheio de reuniões. Passou os últimos dias em conversas. Espera encontrar solução, no voto interno, ainda nesta terça (14), para decidir se o candidato à presidência será Vacarezza, o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (SP), ou o atual vice Marco Maia (RS).
Se quisesse muito Vacarezza como candidato único, o grupo majoritário terá de correr na costura de um acordo. Isso porque, a expectativa é de que, tão logo o atual presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), deixe o cargo esta semana para ser diplomado vice-presidente da República, seja votado no plenário o reajuste do salário dos parlamentares. A sessão, então, deve ser conduzida por Marco Maia. E na tarde desta terça (14), Maia conseguiu a indicação do partido com as desistências de Chinaglia e Vaccarezza.
Na opinião de alguns deputados e funcionários de gabinetes de outras legendas, se Maia conseguir aprovar o reajuste de quase 62%, ele ficará praticamente imbatível na disputa pela presidência da Câmara, porque conseguirá apoio dos deputados dos outros partidos.
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Embora em proporções e perfis bem distintos, o efeito seria como o “fator Severino”, como se comenta no Congresso, numa referência à vitória do ex-deputado Severino Cavalcanti, que era conhecido na Câmara como o “presidente do sindicato dos deputados”.
Naquela ocasião, em 2005, o PT perdeu a presidência da Câmara. O partido foi rachado para o plenário, com mais de um candidato e Severino Cavalcanti ganhou como representante do chamado baixo clero, que são os deputados que não tem cargo de destaque na Casa, nas comissões ou lideranças, ou seja, a maioria.
* Comentarista da CBN, Roseann Kennedy escreve esta coluna exclusiva para o Congresso em Foco
Atualizada às 19h48
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