Guillermo Rivera
Muitos deputados admitem que trocam de partido procurando mais espaço eleitoral em suas regiões. Um deles é Pedro Canedo (PP-GO). Eleito pelo PP em 1994, Canedo diz ter corrido para o PL, um ano depois, seguindo suas convicções ideológicas. “Eu fui para o PL por ser um partido liberal, portanto, que bate com minhas convicções”.
Em 1998, o deputado goiano foi para o PSDB. “Recebi um convite do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), para me transferir para o partido, pois ele tinha um número reduzido de parlamentares na Câmara”. O governador tucano engordou a bancada, na época, com os ex-deputados Lídia Quinan e José Francisco das Neves, que eram do PMDB, principal adversário político do PSDB no estado.
Por questões regionais, Canedo também deixou o PSDB. O deputado quis se candidatar a prefeito em Anápolis (GO), sua base eleitoral, nas duas últimas eleições. Sem apoio, decidiu voltar ao PP, a convite do vice-governador de Goiás.
Outro deputado que diz se mover de acordo com as circunstâncias regionais é Jair Bolsonaro (PP-RJ), um dos recordistas de mudanças partidárias na atual legislatura. A mais recente foi em 28 de abril deste ano, quando saiu do PFL e voltou ao PP, partido pelo qual se elegeu três vezes.
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O deputado conta que saiu do PP e foi para o PTB a fim de ajudar Carlos Bolsonaro, seu filho, a se eleger vereador no Rio de Janeiro nas eleições do ano passado. E deu certo: o filho conquistou a vaga com 22.355 votos. Depois, Jair esteve no PFL, no qual se filiou em 27 de janeiro deste ano, para fazer efetiva oposição ao governo Lula. Mas ficou pouco mais de três meses no partido, voltando ao PP. “Voltei porque, pelo PFL, eu teria poucas chances de me eleger novamente no Rio de Janeiro. Agora, eu tenho minhas chances aumentadas para 2006”, diz.
Como no casamento
Ele calcula, com base nos resultados da eleição de 2002 para a Câmara, que consegue se reeleger pelo PP com mais ou menos 55 mil votos, enquanto que no PFL precisaria de 70 mil votos. “Eu não vou pagar para ver”. Jair diz que não vê problemas na troca de partidos. “É como quem troca de marido ou de esposa, porque não se acertam mais. Acabou o amor, vai pra outro relacionamento”, compara. E alfineta os parlamentares de esquerda, que sempre fizeram do fim das trocas partidárias uma de suas bandeiras ideológicas. “Quem mais nos acusava de fisiologismo nas trocas era o PT, que perdeu vários deputados. Esses deputados, por acaso, são fisiológicos?”, indaga.
Novo partido, velha ideologia
Parlamentares que são considerados como um exemplo de mudança por motivos ideológicos são os que deixaram o PT e foram para o recém-registrado Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Cinco petistas trocaram de partido às vésperas do prazo final para se candidatarem à reeleição. Os deputados Ivan Valente (SP), Chico Alencar (RJ), Orlando Fantazzini (SP), Maninha (DF) e João Alfredo (CE) passaram a fazer parte da bancada do PSOL – que agora conta com dois senadores e sete deputados – no dia 29 de setembro.
Outra mudança que chamou a atenção na Câmara foi a do deputado Sérgio Miranda (PDT-MG), que, após 42 anos no PCdoB, trocou de partido por não se sentir à vontade para fazer oposição ao governo Lula.
Chico Alencar reafirma que mudou de partido por motivos meramente ideológicos. “Mudei porque o PT foi se distanciando rapidamente de tudo o que proclamou ao longo de sua história”, justificou. “No momento de seu maior teste institucional, a presidência da República, o PT trouxe projetos com os quais eu, por exemplo, me confrontei seguidamente. Assim, nós parlamentares que deixamos a legenda fizemos isso para continuarmos a praticar os valores petistas”, diz.
Solidariedade mineira
Outro “fenômeno” recente de troca-troca partidário movido por desavenças regionais ocorreu na bancada do PL de Minas Gerais. Cinco deputados deixaram o partido que até outro dia tinha no vice-presidente da República, José Alencar, uma de suas mais expressivas lideranças. Ninguém, no entanto, acompanhou Alencar rumo ao recém-criado PMR. Dos deputados mineiros que saíram do PL, três foram para o PSB, um para o PFL e outro para o PDT. Um deles, Ademir Camilo (PDT-MG), alega que o motivo para a mudança de partido foi a manutenção do também deputado José Santana de Vasconcellos (MG) na presidência do PL regional.
Procurado pela reportagem do Congresso em Foco, José Santana refutou a alegação de Camilo. O presidente do PL mineiro alega que os colegas debandaram do partido para garantir suas reeleições em legendas menos expressivas no estado. “Creio que quem se candidatar pelo PL em Minas Gerais precisará de cerca de 85 mil votos para se eleger em 2006. Nas últimas eleições, bastavam 70 mil”, avalia.
O deputado Mário Assad Junior, que também trocou o PL pelo PSB há pouco mais de um mês, oferece explicação semelhante. “Houve um crescimento muito grande do partido. O PL elegeu quatro deputados federais e passou, depois, para nove”, afirma Assad. “O PL cresceu muito em Minas Gerais. Assim, ficaria muito difícil ser reeleito pelo partido em 2006. Não saímos por causa do José Santana”, corrobora João Paulo Gomes da Silva (PSB-MG).
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