Todos os anos é a mesma coisa. A magia se repete. É como se a vida não fosse um moto contínuo. O calendário gregoriano cria essa ilusão do eterno recomeço. É como diz o poema: cortar o tempo em fatias foi uma ideia genial, que industrializa a esperança, instalando o milagre da renovação, com um novo número e a vontade de acreditar que vai ser diferente.
Cartomantes, jogadores de búzios, videntes fazem profecias. Catástrofes, crimes, guerras, mortes, acontecimentos vários. E os economistas, ah, nós, os economistas, projetamos, no mundo e no Brasil, taxas de crescimento, inflação, crises e prognósticos. Nem uns, nem outros fazem autocrítica, quando ao final de mais um ano, a realidade desmente todas as projeções. E, com a maior elegância, repetem o exercício de futurologia.
O Brasil de 2015 é outro país. Tivemos a mais polarizada eleição presidencial. A semente plantada nas jornadas de rua de junho de 2013 renasceu revigorada. Hoje temos uma oposição fortalecida e uma opinião pública inquieta e atenta.
A corrupção chegou a um limite insuportável. As instituições, em contrapartida, demonstram sua musculatura. O sistema judiciário age em defesa da ordem constitucional. Polícia Federal, Ministério Público e o Poder Judiciário, com todos os gargalos e problemas, demonstram que as leis alcançam todos, sem privilégios. O Congresso manteve a chama acesa, exigindo a apuração dos desvios em nossa maior empresa, resistindo à desmoralização do conceito de responsabilidade fiscal. Cassamos o deputado André Vargas (PT-PR) por suas relações com o doleiro pivô da corrupção na Petrobras, em grande parte, pela atuação firme das oposições. A sociedade civil e a imprensa livre cumprem seu papel como fiscais e portadores do interesse público no destino nacional.
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Mal ou bem, chegamos aqui. Tancredo e Ulysses nos entregaram o país redemocratizado. Apesar de todas as suas vicissitudes, a democracia brasileira dá mostras de sua vitalidade. Foram sete sucessões presidenciais livres e democráticas. A liberdade nos dá a rota para a correção de rumos.
O cenário para 2015 é sombrio. Uma combinação explosiva entre crise econômica profunda, o maior escândalo da história brasileira e a população cada vez mais consciente nas ruas.
A inflação namora o limite superior da meta. A armadilha do crescimento determina taxas pífias de crescimento, apesar do festival de intervenções desastradas, desonerações pontuais e operações de crédito subsidiadas. A despeito das reservas cambiais abundantes, registramos recordes de déficits na balança comercial e nas transações correntes. A indústria brasileira vai pelo ralo. E o mais importante, a credibilidade da política econômica é baixíssima, aqui e lá fora. Não é à toa que nossa presidente, que carrega um software anacrônico “nacional-desenvolvimentista” e intervencionista, foi buscar um ministro da Fazenda formado na ortodoxia de Chicago e do FMI.
Façam suas apostas. Que venha 2015!
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