Celso Lungaretti*
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem 68,8% de avaliação positiva. 44,1% dos eleitores admitiram a possibilidade de votar no candidato por ele apoiado ou indicado. 15,5% votarão incondicionalmente no candidato por ele apoiado ou indicado.
Esses dados de uma pesquisa de opinião constituem o principal fato político da semana, se fiarmo-nos nos critérios da grande imprensa. São repetidos à exaustão e levados em conta na maioria das análises do quadro nacional, o que, como num círculo vicioso, faz aumentar ainda mais a popularidade presidencial.
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Poucos se dão conta de que a democracia nasceu com os cidadãos decidindo periodicamente os assuntos relevantes por meio de votações em praça pública e hoje é exercida com os cidadãos colocando periodicamente seus votos em urnas.
A democracia instantânea é uma falácia perigosa, engendrada pela influência mesmerizante da indústria cultural. Pega o flagrante de um momento e lhe confere importância desmesurada, o que acaba por gerar conseqüências sobre os momentos seguintes.
Afora a possibilidade de que os resultados de uma pesquisa de opinião estejam sendo adequados aos interesses do contratante – como aconteceu no passado e nada impede que possa repetir-se no presente –, há outras formas de manipulação, mais sutis, a considerarmos, como a da própria formulação das questões.
A tal pesquisa responsável pela onda de euforia lulista indagou, por exemplo, se os entrevistados, nas próximas eleições, votariam nos candidatos do governo para a continuidade dos programas sociais (75,3% disseram que sim). Ora, como não existe evidência nenhuma de que os candidatos oposicionistas extinguiriam os programas sociais, muito pelo contrário, verifica-se que a forma como foi redigida a pergunta está direcionando as respostas, não só a essa questão, como às demais.
E há o aspecto do timing: se a amostra for colhida num dia em que está em grande evidência um fato positivo para as finanças pessoais dos cidadãos, aumenta em muito a chance de constatar-se um estado de ânimo situacionista, enquanto os momentos de crise econômica adubam a rejeição a quem está no poder.
A época atual é pródiga em conclusões precipitadas: num dia, o noticiário nos faz crer que estamos às vésperas de outra sexta-feira negra, como a de 1929, que prenunciou uma década inteira de vacas magras; no outro dia, garante-nos que o rebate foi falso e as providências adotadas pelos bancos centrais evitarão o pior; no terceiro dia, o otimismo arrefece, dando lugar a novas apreensões; e assim por diante, numa verdadeira ciranda infernal.
Então, a escolha do momento certo para colher a amostra tem importância estratégica. Idem, a orientação político-ideológica de quem repercutirá os resultados da pesquisa, ou seja, principalmente a grande imprensa.
O poder maximiza o poder. Quem tem recursos para encomendar pesquisas e influência sobre a caixa de ressonância (a mídia), está com meio caminho andado para obter o que quer.
É claro que precisa haver um mínimo de correspondência entre a percepção espontânea das pessoas e o peixe que se quer vender a elas.
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