Há duas semanas escrevi nesse espaço um artigo sobre os atentados à caravana do ex-presidente Lula pelo sul do país e sobre o que o ato demostrava do estado de apaixonamento excessivo na política nacional. Já na semana passada, diante da prisão do ex-presidente, acusado de corrupção, critiquei o comportamento dos “desbrasileiros” que se comportavam em relação ao episódio como se o mesmo fosse um espetáculo cômico que não tivesse nada a ver com eles.
<< Qual o futuro do Brasil das paixões?
<< A prisão de Lula e a banalização da política: afinal, qual é a graça?
Por este último artigo, recebi comentários extremamente deselegantes, grosseiros e raivosos diante de um texto no qual não ataquei nem defendi nenhum dos “lados” que polarizam a política nacional. Pelo contrário, procurei analisar friamente, sem a paixão que domina o país, a situação relevante para a história recente do país.
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Acredito que isso seja fruto dos tempos conturbados em que vivemos, quando as decisões e as opiniões têm sido tomadas baseadas no medo ou no ódio, dois sentimentos que são a antítese do que deveríamos ter em momentos de opiniões, de escolhas. As pessoas têm usado as mídias sociais como máscaras, que muitas vezes parecem desconectadas da realidade.
Estamos vivendo uma espécie de vedação à liberdade de expressão. Você fala algo, vira um mito para uns e é execrado por outros. Quantos grupos de Whatsapp têm sido desfeitos, quantas amizades acabam, quantas famílias brigam por opiniões diversas?
Mas, não é essa a essência da democracia? Afinal, o que deveria diferenciar democratas de fascistas é justamente o fato de os primeiros suportarem o diálogo com o contraditório, com as versões diferentes.
Isso talvez seja mais uma consequência de algo que já mencionei aqui, o fato de nunca termos nos consolidado como uma democracia de fato. Nós importamos um modelo democrático de povos que têm uma história completamente diferente da nossa, daí o autoritarismo ser sempre uma sombra à espreita.
O lado bom disso tudo é que nunca no Brasil se discutiu tanto a tal da ideologia, um conceito que, como ensinou Marx, é sempre historicamente determinado. Caberia perguntar quais são os fatores que têm influenciado as múltiplas definições de ideologia no Brasil de hoje.
O caminho para a reconstrução democrática – ou no nosso caso, para a construção – não é a radicalização. Uma hora, alguns acertam; outra hora, não. É assim mesmo. Nosso país está atravessando um momento de mudanças. Durante uma mudança, muita poeira sobe, e pode até dar a impressão de que só existe sujeira. Mas é importante que tudo venha à tona para haver um recomeço. Paciência e tolerância nesse momento, para não jogar fora aquilo que temos de melhor: a capacidade de diálogo.Do mesmo autor:
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