Em almoço com 16 governadores eleitos e dois vices, o presidente Lula admitiu ontem, pela primeira vez, que errou ao nomear amigos para cargos importantes em seu primeiro governo. O presidente admitiu ainda ser mais fácil nomear do que demitir integrantes da administração pública.
"Nessa hora, não tem relação de amigo. Agora é chefe de Estado. Em vez de vocês procurarem amigos, procurem por uma pessoa qualificada para o cargo que espera uma chance. Eu aprendi uma lição. Com a máquina pública mais eficiente e qualificada, mais fácil é para o governante governar", disse.
Sem citar o nome de ex-auxiliares abatidos por denúncias, como os ex-ministros José Dirceu, Antonio Palocci e Luiz Gushiken, Lula disse ter enfrentado dificuldade em demitir companheiros.
“Ao invés de procurar apenas um amigo, procurem aquele que está esperando uma chance. E cada Estado, por mais pobre ou mais importante que seja, tem gente da mais alta competência à espera de uma oportunidade. Se vocês puderem, descubram esses gênios, porque eles existem e, muitas vezes, são tratados de forma secundária”, aconselhou.
O presidente recebeu governadores aliados, eleitos por PT, PMDB, PSB e PDT. E disse que pretende conversar com representantes de todos os partidos.
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Conversa com a oposição
"Só não vai conversar quem não quiser conversar. Quem for civilizado e quiser fazer política civilizada vai ter espaço para uma boa conversa. Quem não quiser, nós temos de respeitar o direito de silêncio dos outros", disse o presidente na entrada do encontro.
Lula afirmou que vai procurar o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE) e também representantes do PFL. De acordo com o presidente, o caminho da conversa com os tucanos foi aberto por meio do líder tucano no Senado, Artur Virgílio (AM). Virgílio voltou do enterro do senador Ramez Tebet (PMDB-MS) no avião presidencial.
“Eu tenho todo interesse de conversar com PSDB e já disse para Arthur Virgílio. E quero conversar com presidente do partido. Não quero discriminar ninguém. No PFL, também tem muita gente disposta a conversar”, ressaltou. Lula ainda destacou que mantém uma "relação de amizade" com os governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) "há 30 anos".
Lula também afirmou que conversará com o MD, resultado da fusão entre PPS, PMN e PHS. O presidente aconselhou aos que querem fazer oposição ao seu governo que aguardem até 2010. "A próxima reunião será com a presença de todos os governadores. Se alguém quiser fazer oposição que faça em 2010, quando não terei mais mandato. Até lá, a nossa função é governar este país da melhor forma", disse.
O presidente brincou ao afirmar que os governadores que quiserem correr dele no segundo mandato "terão que preparar as canelas" porque ele está "fisicamente melhor do que em 2002" para alcançá-los.
Segundo mandato mais difícil que o primeiro
Lula afirmou que era contrário à reeleição, mas indicou que mudou de idéia em relação ao tema. "Na hora que decidi ser candidato achei que era possível fazer melhor no segundo mandato. Aproveitar o acúmulo de experiência para o segundo mandato".
No entanto, o presidente disse que não espera que o seu segundo mandato seja mais fácil do que o primeiro. De acordo com Lula, as cobranças são maiores para os que se reelegem. "O povo é mais exigente. Se fizermos apenas o que já fizemos, o povo vai se questionar sobre o que adiantou ter dado uma outra oportunidade", disse.
Oposição critica pedido de Lula e o compara Lula Chávez
O deputado Rodrigo Maia (RJ), líder do PFL na Câmara, disse que a declaração do presidente Lula de que quem quiser fazer oposição ao seu governo deve esperar até 2010 tem caráter ditatorial. "O sistema democrático exige que o governo seja fiscalizado. Pedir que não exista oposição é muito grave. Ele está caminhando próximo a outros presidentes com linha autoritária como o Hugo Chávez, na Venezuela", declarou.
O senador José Jorge (PFL-PE), candidato à vice-presidência da República na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), disse que o papel da oposição é questionar o governo. "Estamos em um país democrático, as conclusões são tiradas das divergências de opiniões. Da mesma maneira que a população concedeu o mandato ao presidente, nos deu o mandato para fazer oposição", disse.
PSDB diz que diálogo com petista é difícil
O presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE), criticou hoje a declaração do presidente, segundo a qual Lula teria aprendido a lição de que não se deve montar um governo nomeando só os amigos. "Essa é uma lição que ele não aprendeu ainda. Basta ver o que está acontecendo no setor aéreo", rebateu o senador tucano, após participar de reunião na residência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo.
O tucano também sinalizou que, apesar dos "acenos" de Lula, o diálogo do governo com o PSDB será difícil. De acordo com Jereissati, os governadores do PSDB têm o "dever" de conversar com o presidente, mas que ele não tem essa obrigação. "Eu não tenho esse dever, eu não sou governador", ressaltou. "A mim, ele não ainda chamou. No dia em que ele chamar, com isso nós vamos discutir. Em princípio, nossa posição é: oposição dentro do contexto de civilidade", respondeu o líder tucano ao ser questionado sobre a possibilidade do presidente chamar o PSDB para conversar.
Jereissati afirmou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vai coordenar os esforços do partido para mudar seu programa partidário, que chamou de "desatualizado". "O nosso programa foi feito há 20 anos e está desatualizado e ninguém mais preparado nesse momento no país para juntar todas as idéias para atualizar o programa do partido", disse o tucano.
"O PSDB está disposto a ter a humildade de reconstruir o plano", complementou o governador reeleito de Minas Gerais, Aécio Neves, que também participou da reunião.
Sem Gabeira, PV oferece apoio a Lula
O PV ofereceu hoje apoio ao segundo mandato do presidente Lula. O presidente do partido, José Luiz Penna, e o líder da bancada na Câmara, deputado Edson Duarte (BA), além de outros dirigentes da sigla estiveram com o presidente Lula, no Palácio do Planalto, e informaram que 13 dos 12 deputados do partido integrarão a bancada governista.
O presidente não contará com o apoio do deputado Fernando Gabeira (RJ). Gabeira disse que não irá "trair" seus eleitores, que atuará como independente e que não sabia do encontro dos dirigentes do PV com Lula.
"Tem um lado do partido que se aproxima do governo quando interessa, mas sempre que [o partido] tem dificuldades se aproximam de mim para ter um discurso independente. Grande parte dos deputados se elegeu usando a minha imagem", declarou Gabeira.
"Quero dizer aos que votaram no PV por minha causa que eles não serão enganados. Vou ser independente e criticar todas as coisas que estão erradas", complementou.
PTB confirma apoio a Lula e diz não querer mais cargos
Lideranças do PTB no Congresso avisaram hoje ao presidente Lula que o partido continuará votando com o governo no segundo mandato do petista. Segundo o líder dos petebistas na Câmara, José Múcio (PE), a legenda não condicionará o apoio a cargos.
"O partido garante apoio ao presidente Lula no painel (de votações). Nós já temos um ministro no governo. Esse é o nosso espírito. Seria muito deselegante expressarmos a nossa parceria, a nossa vontade de servir pedindo cargos", afirmou Múcio. As lideranças do partido, que é presidido pelo ex-deputado Roberto Jefferson (RJ), disseram a Lula estarem satisfeitas apenas com a manutenção do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia.
Lula se reuniu esta manhã com representantes da atual e da futura bancada do PTB na Câmara e no Senado por cera de uma hora e meia esta manhã. A agenda mínima com os sete pontos do futuro governo entregue ontem ao PMDB ainda não chegou às mãos do partido.
O presidente ouviu de Múcio que praticamente toda a bancada votou ontem a favor de duas propostas consideradas prioritárias pelo governo na Câmara – o Fundo de Desenvolvimento e Manutenção da Educação Básica (Fundeb) e a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas.
Segundo o petebista, Lula prometeu construir uma base sólida por meio de apoios institucionais. "O governo terá uma relação com o Parlamento diferente da que teve no primeiro mandato, que não foi uma experiência exitosa", afirmou Múcio. “O nosso desafio é destravar o país e esse é o nosso apoio ao presidente Lula”, completou.
Lula cobra redução de "pedágio" nas ferrovias
O presidente Lula cobrou hoje do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, explicações sobre o motivo de as tarifas de transporte ferroviário estarem com preço semelhante ao dos pedágios cobrados nas rodovias.
O ministro afirmou que o presidente está preocupado com as tarifas cobradas no setor e pediu uma análise para ver a possibilidade de redução nos valores. “O presidente quer compreender o que está acontecendo”, disse Passos, após reunião com o presidente e com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e os ministros do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e do Planejamento, Paulo Bernardo.
Passos, que não soube informar a diferença percentual entre os pedágios dos dois modais de transporte, afirmou que fará um levantamento sobre a composição das tarifas. Durante a reunião, o ministro falou a Lula sobre as obras mais importantes feitas pela pasta e a estratégia para que a infra-estrutura de transportes dê suporte ao crescimento econômico, considerando o período de 2007 a 2011.
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