Merlin*
Eu, eleitor, confesso ao Congresso em Foco e a vós, bondosos leitores, que pequei gravemente, por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Esta é a minha primeira – e última – confissão.
Bem conheço a natureza humana, eis que humano ainda sou. Sei de sua perene ânsia por vôos mais elevados. Sei como sua falibilidade a mantém agrilhoada à terra, de onde veio e à qual um dia retornará. Sei das armadilhas em que seguramente se deixa aprisionar. Sobretudo contemplo, embevecido, o perverso sistema político no qual as vítimas são alegremente guindadas a posições de grande notoriedade e aparente poder, onde ficam submetidas a pressões irresistíveis.
E, quando finalmente sucumbem às tentações ardilosamente urdidas, suas misérias são cruamente expostas à sanha popular. Ingenuamente acreditam tais condenados que seria possível eludir o suplício através de simpatias como financiamento público de campanhas, fidelidade partidária e cláusulas de barreira.
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Bem sabemos, vós e eu, quão tediosa seria – sem tragédias nem escândalos – a existência comum; e não queremos isso, não é verdade? Não queremos ver encalhados jornais e revistas de primeira linha (aqueles que só publicam matérias envolvendo gente graúda), não é mesmo? Fico feliz porque vós, ó amáveis leitores, tão bem me compreendeis…
O que vou revelar, não me atreveria a declarar publicamente. Mas, no inviolável sigilo deste sacrossanto confessionário, admito ter invocado o sortilégio do fumo do dragão para confundir as mentes de constituintes e eleitores no sentido de favorecer a concepção deste autêntico Bebê de Rosemary mais conhecido como Congresso Nacional.
Admito que me regozijo cruelmente com a desgraça dos decaídos. Admito que o que mais me aborrece não é o gozo de curta duração que eles experimentam, mas o fato de que eu não consigo saborear o mesmo prazer (sem o risco da execração, é claro). Admito tê-los reconduzido à Casa do Povo na esperança de novamente presenciar uma recaída seguida de renúncia e vergonhosa retirada pela porta dos fundos.
Verdade é que não sinto remorso. Afinal, tudo é apenas espetáculo, haja vista que a Suprema Corte não condenou sequer um desses infelizes. Se ao menos um deles intentasse furtar uma lata de margarina do supermercado… Isso, sim, seria imperdoável.
Em meu benefício, declaro que não foi propriamente trivial encenar essa peça dramatúrgica. É ilógica, insana, desumana. Que digo? Precisei recorrer ao poderoso conjuro que encima esta confissão, sugerido por Shakespeare em The Life and Death of Julius Caesar (Ato 3 Cena 2).
Mas, a que vem tudo isso?
Pressinto avizinhar-se o fim da minha Era Mágica e convém reparar alguns descuidos e excessos. À guisa de penitência, ofereço um filtro que restituirá à humanidade o discernimento e aos políticos o bom senso, libertando assim os miseráveis da condição detestável em que monstruosamente foram colocados. Não vos cansarei, ó fiéis leitores, com herméticos detalhes da taumaturgia. Mas, se curiosidade tiverdes, ou se eleitores fordes (ops! quase…), podeis conhecer a fórmula secreta na banca do meu escriba.
O endereço é http://www.brasilzero.eti.br/politica.htm.
Portanto, peço e rogo que me concedais vossa absolvição, para que possa desfrutar merecida aposentadoria em lugar de refrigério, de luz e de paz. Assim seja.
* Merlin é pseudônimo de R. N. Daniel Duarte, 67, mestre em Ciência da Computação e autor da Proposta Brasil Zero km.
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