A internet foi tratada, ao longo da conferência, principalmente como ferramenta de pesquisa, assunto explorado com competência por diversos especialistas no tema, como o brasileiro José Roberto de Toledo e o norte-americano Christian Miller, do site jornalístico independente ProPublica.
Quase nada se falou sobre as mudanças que a internet e as novas tecnologias estão impondo na forma de fazer jornalismo. Três exemplos de jornalismo investigativo realizado hoje por veículos de internet na região latino-americana se fizeram representar em Lima: o Ciper do Chile, o El Faro de El Salvador e o Congresso em Foco. Mas, nos três casos, as apresentações se concentraram no trabalho jornalístico realizado por esses sites, reservando-se pouco tempo para a compreensão da nova realidade em que eles procuram atuar e se viabilizar.
Tampouco houve maior discussão sobre os desafios enfrentados para construir um modelo de negócios capaz de sustentar o jornalismo independente, seja na internet ou na mídia tradicional. Esta, agora procurando se renovar para fazer frente à crescente queda de audiência e rentabilidade, causada sobretudo pelo fato de uma massa cada vez maior de pessoas preferir acessar na rede, geralmente de graça, as informações antes disponíveis apenas nos veículos off line. Aquela, ainda amargando os efeitos dos preconceitos e do desconhecimento de sua força e credibilidade por parte de potenciais patrocinadores, anunciantes ou financiadores.
O que se ouviu muito foi a constatação de um dos efeitos mais notáveis da crise em curso: o enxugamento das redações. “Há uma profunda crise do jornalismo e do jornalismo de investigação, com redução das redações em toda parte”, observou Gustavo Gorriti, um dos mais reconhecidos jornalistas latino-americanos e jurado do prêmio Ipys.
Outro jurado do prêmio, o também renomado jornalista Gerardo Reyes, enfatizou as condições difíceis em que se faz jornalismo na região. “O jornalismo investigativo é um trabalho de gente solitária, é um esforço solitário”, disse.
Encerrada a conferência, José Roberto de Toledo, coordenador da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), fornecia algumas pistas quanto ao futuro que nos espera. Na opinião dele, sobretudo na internet, mas não só nela, há uma “tendência clara” de se multiplicarem os veículos independentes sem fins lucrativos, constituídos formalmente por organizações não-governamentais, como o Ciper e o ProPublica. Na mídia tradicional, acredita Toledo, “o desafio é disseminar as técnicas de investigação jornalística”.
Com a revolução tecnológica, acredita Toledo, não faz mais sentido – se é que fez algum dia – simplesmente “reproduzir informações” ou servir de mero “intermediário entre as autoridades e o público”. “Esse papel não existe mais. Se quer dar uma informação, a autoridade publica no site, no blog ou no Twitter. Se o jornal deixar de fazer jornalismo investigativo, o leitor vai procurar as informações que deseja no Congresso em Foco, não no jornal”.
Ele se diz, no entanto, otimista. No seu entender, o jornalismo na região, e em especial no Brasil, tem melhorado: “O que se faz hoje, na média, é melhor do que aquilo que se fazia há dez anos, que já era melhor do que o que se fazia 20 anos antes. No Brasil, há 20 anos, não havia investimento em jornalismo investigativo. Depois, tivemos a fase do denuncismo, em que a investigação não era do jornalista, mas do Ministério Público, da polícia ou de outros órgãos. Hoje, temos uma imprensa investigativa atuante e disseminada por vários veículos e cidades do país”.
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