Ronaldo Brasiliense
A roda do destino quis que coubesse a uma parlamentar expulsa do PT por discordar das mudanças de rumos adotadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao chegar ao poder, como a aprovação da reforma da Previdência, com a taxação dos inativos, a missão de dar novos rumos à corrida presidencial em 2006. A senadora alagoana Heloísa Helena, enfermeira de profissão, que introduziu no Senado da República um novo vestuário – a calça jeans e a camiseta branca – é a nova sensação da sucessão ao Palácio do Planalto. A senadora bem poderia repetir o também guerreiro Leonel Brizola, já falecido, referindo-se a Lula: "Nós te elegemos para mudar o Brasil, não para mudar de lado".
Lançada pelo novíssimo Psol, Heloísa Helena soube como ninguém, nesses primeiros dias de campanha, aproveitar o espaço aberto pelo Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, para levar uma mensagem serena ao eleitorado. Sem aquela discurseira ultra-esquerdista de moratória da dívida externa, estatização dos bancos, revisão das privatizações e reforma agrária na marra, Heloísa Helena com um discurso sedutor tem avançado sua candidatura em todas as regiões do país.
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No Rio Grande do Sul, onde Lula venceu todas as eleições presidenciais (de 1989, contra Fernando Collor, a 2002, contra José Serra), a senadora por Alagoas já alcançou 13 pontos percentuais nas preferências, segundo registrou recente pesquisa Datafolha.
Os especialistas explicam o crescimento da candidata do Psol à Presidência. Ela simboliza uma opção para o voto de descontentamento com a crise política que abalou o governo petista, para o eleitor ideológico de esquerda, aquele que se recusa a repetir o voto no PT por se sentir traído pelo presidente Lula. E, ainda, para aqueles descrentes, que tenderiam a anular o voto na eleição de outubro.
Esses fatores, segundo a Folha de S. Paulo, justificariam o melhor desempenho da senadora alagoana nas capitais, entre o eleitorado feminino, de curso superior, na faixa etária entre 16 a 34 anos e com renda de cinco a 10 salários mínimos. Foram nesses segmentos que Heloísa Helena mais cresceu, segundo o Datafolha.
Por essa o ex-"gerente" do governo Lula, o cassado José Dirceu (principal artífice da expulsão de Heloísa Helena, Babá e Luciana Genro, que acabaram fundando o Psol) não esperava. O crescimento da senadora de esquerda abre caminho para um segundo turno eleitoral, jogando por terra inclusive o fisiológico apoio do PMDB governista liderado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que, ao impedir a candidatura própria do partido à Presidência da República, acreditava estar consolidando a estrada para Lula vencer as eleições já no primeiro turno.
É paradoxal que Heloísa Helena, nordestina da gema, que ainda mantém o sotaque acentuado, apresente maior índice de rejeição na região Nordeste, onde ainda reina absoluta a candidatura do presidente Lula da Silva, um nordestino de Garanhuns, Pernambuco, criado no ABC paulista.
A senadora do Psol não consegue sequer alavancar o candidato de seu partido em sua terra natal, Alagoas. Lá, Ricardo Barbosa, do Psol, amarga pífio 1% das intenções de voto e a disputa é liderada pelo deputado federal e usineiro João Lyra, do PTB, que ameaça vencer já no primeiro turno.
Lula ainda se mantém no topo da corrida presidencial porque conseguiu consolidar seus votos no Nordeste e entre camadas de menor renda, que dependem de programas como o Bolsa Família.
Os novos passos da corrida presidencial, com o início do horário de propaganda eleitoral gratuito no rádio e na televisão mostrarão a consistência de Heloísa Helena como fenômeno eleitoral.
Memória: a única mulher que antes brilhou em uma disputa presidencial foi a senadora maranhense Roseana Sarney (PFL). Ela chegou a liderar a corrida sucessória em 2002 até ser abatida pela dinheirama apreendida pela Polícia Federal na Lunus, empresa do marido.
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