Lago
Antes do início da Guerra Fria, o confronto entre os
Estados Unidos e a União Soviética que marcou a segunda metade do século
passado, houve um curto espaço de tempo em que a grande nação comunista era
apenas mais um dos países aliados, que se uniram no esforço de varrer a ameaça
nazista do mapa do mundo. Nesse curto espaço de tempo, em que os comunistas não
pareciam tão ameaçadores, houve um jogo em São Paulo, no estádio do Pacaembu, no
dia 13 de outubro de 1945, em que Palmeiras e Corinthians disputaram a estátua
de bronze de uma deusa grega, presa sobre uma base de mármore branco. Além da
taça, ambos os times e a Federação Paulista abriram mão dos recursos arrecadados
com um propósito inusitado: ajudar a financiar a campanha eleitoral do Partido
Comunista do Brasil (PCB) naquele ano.
Para o deputado Aldo Rebelo
(PCdoB-SP), foi algo que só poderia ter ocorrido naquele momento; não
aconteceria nem antes, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, nem depois
(apenas dois anos depois, em 1947, o PCB era posto na ilegalidade novamente). Os
detalhes da realização dessa partida estão contados por Aldo no livro
“Palmeiras X Corinthians 1945 – O jogo vermelho” (Editora Unesp), lançado
na sexta-feira (9) em São Paulo, no Museu do Futebol.
Ex-presidente da Câmara, ex-líder estudantil, líder comunista há
vários anos, Aldo revela, com esse livro duas outras facetas. Na primeira, ele
encara sua atividade original, de jornalista, esquecida por anos de militância
política. A segunda faceta, é sua paixão pelo futebol, especialmente pelo
Palmeiras. Pelo clube, Aldo costuma seguidamente esquecer as diferenças
políticas que tem com o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e ambos
sentam-se juntos para torcer pelo time.
Nesta entrevista ao
Congresso em Foco, Aldo inaugura uma série em que o site
conversará, nessa véspera de Copa do Mundo, com políticos que têm ligação com o
futebol. Aldo conta detalhes do inusitado jogo vermelho vencido pelo Palmeiras,
dá seus palpites para a Copa da África, cobra a convocação das estrelas
santistas Neymar e Ganso e ainda encontra um jeito de falar de política,
lançando a tese de que o futebol é o esporte do
proletariado.
Congresso em Foco – O senhor está lançando um
livro, que conta a história de um jogo ocorrido em 1945, entre o Palmeiras e
Corinthians, com o intuito de arrecadar recursos para o recém legalizado Partido
Comunista do Brasil. Sem tirar muito o prazer da leitura do livro, o que o
senhor pode contar sobre o que conta no livro?
Aldo Rebelo
– Eu descobri a motivação do jogo quase que por um acaso. Visitando a
Sala de Troféus do Parque Antártica (estádio do Palmeiras), vi uma taça muito
diferente das demais. Uma mulher alada, uma deusa grega, sobre uma base de
mármore, esculpida em bronze. Fui observar de perto a taça. Vi que tinha sido
obtida em um jogo em benefício do Movimento Unificador dos Trabalhadores, o MUT,
em 13 de outubro de 1945. O Movimento Unificador dos Trabalhadores era o braço
sindical do Partido Comunista, nos anos 40. Então, esse jogo teve relação com o
Partido Comunista. Fui verificar nas atas da FederaçãoPaulista, no próprio
Palmeiras, no próprio Corinthians, e estava lá: tudo acertado entre o MUT,
a Federação e os clubes. Um jogo beneficente. Os clubes dispensaram qualquer
quantia pela apresentação. A Federação Paulista dispensou a própria taxa
administrativa.
Onde foi o jogo?
O jogo
foi marcado para o Pacaembu. Havia até uma polêmica sobre o horário do jogo,
sobre a possibilidade de os operários comparecerem. Mas a revelação maior veio
quando eu fui conferir a divulgação do jogo na imprensa. A imprensa deu uma
divulgação grande ao jogo, inclusive ao caráter beneficente do jogo. Mas, na
divulgação do jogo, aparecem os integrantes, alías, as integrantes, porque eram
mulheres, do Comitê de Finanças do Partido Comunista. E elas davam entrevistas,
divulgavam o jogo. Fui atrás dos familiares dessas mulheres. Confirmei que elas,
de fato, integravam o setor de Finanças do PCB. Naquele momento, todos os
partidos estavam fazendo campanha de arrecadação de recursos para as eleições.
Um jornal, inclusive, publicava na mesma página uma informação de que a UDN
estava fazendo campanha de arrecadação de finanças em Uberaba ou Uberlândia, no
Triângulo Mineiro. E vi também como a imprensa partidária tratou o jogo. O
jornal do partido tratou o jogo com muita deferência, quase editorialmente: uma
discussão sobre o futebol e o movimento operário, que o futebol tinha origem
operária, que era um esporte proletário. E, pouco antes, o próprio Pacaembu
tinha sido cedido para um comício de Luís Carlos Prestes, assim como o
estádio do Vasco, no Rio. Então, esse vínculo entre os comunistas e o futebol na
época já era bem visível.
Havia comunistas entre os
dirigentes da Federação e dos clubes? Ou entre os jogadores?
Não
havia uma relação de militância. Não descobri nem jogadores nem dirigentes
filiados ao partido. Mas havia simpatizantes. O principal jogador do
Corinthians, o maior artilheiro da história do Corinthians, Cláudio Cristovão
Pinho, teve até falecer uma relação muito próxima dos comunistas. Um dirigente
do Corinthians tinha uma posição também, em relação à Segunda Guerra, em defesa
dos aliados. E na Federação, também. Ulysses Guimarães, muito jovem, era
dirigente da Federação. Havia uma simpatia no momento muito forte por conta da
participação da União Soviética com os aliados para a derrota do Eixo nazista e
fascista. No Brasil, isso se confundia com o esforço de redemocratização do
país. Essa foi a conjuntura que permitiu a realização do jogo. Não creio que ele
teria sido possível antes, e acho que também não poderia ser possível
depois.
De fato, o momento de legalidade do PCB na época
foi curto. Legalizado em 1945, quando ele se torna novamente
clandestino?
1947. Apenas dois anos depois.
Mas
era divulgado claramente que o objetivo do jogo era arrecadar fundos para o
PCB?
Não. O jogo foi organizado em benefício do MUT. Mas quando você
ia conferir o MUT, a relação era clara. O principal dirigente do MUT era João
Amazonas, que então já era um dos principais dirigentes do PCB. Os dirigentes do
MUT foram todos candidatos pelo PCB a deputado federal ou estadual. A preliminar
do jogo foi disputada entre o time do Sindicato dos Trabalhadores na Construção
Civil, que era dirigido por um palmeirense, e o time do Sindicato dos
Trabalhadores da Fiação e Tecelagem, comandado por um corintiano. E as
pessoas do PCB apareciam também na promoção do jogo. Houve uma entrevista
coletiva dessas mulheres do Comitê de Finanças. Havia uma mulher, muito bonita,
Iracema Rosenberg. Eu fui entrevistar o filho dela, que na época tinha cinco
anos, foi ao jogo, e disse que ela recebia os dirigentes do partido. Ele me
disse: ela era ativista, recebia os dirigentes: João Amazonas, Prestes. Então,
esse vínculo foi ficando claro. Havia uma meta do partido de arrecadar 750 mil
cruzeiro para financiar as eleições. O jogo arrecadou quase 115 mil
cruzeiros.
O senhor mencionou simpatizantes comunistas no
Corinthians. E no Palmeiras? O time tinha sido obrigado a trocar de nome na
guerra – antes era Palestra Itália. Era identificado com a Itália, um país
inimigo na guerra. Havia ligação dos italianos do Palmeiras com o fascismo
italiano?
O Palmeiras tinha uma dupla identidade. Era o clube da
colônia italiana em São Paulo. A colônia italiana tinha uma parte no
proletariado. O proletariado paulistano era então maciçamente de origem
italiana. Eu perguntei à viúva de João Amazonas por que ele torcia pelo
Palmeiras …
João Amazonas era
palmeirense?
Era palmeirense. E a viúva me respondeu com toda a
naturalidade que ele torcia pelo Palmeiras “porque era o time dos operários”.
Mas havia também na colônia italiana uma parcela de empresários com simpatia
pelo fascismo. Mas que não era um grupo decisivo na direção do Palmeiras. O
partido sofreu pressão, teve que mudar de nome. No primeiro jogo depois que
mudou de nome, depois que deixou de ser Palestra Itália, o Palmeiras entrou em
campo com uma bandeira do Brasil. Final do Campeonato Paulista de 1943. Contra o
São Paulo. E o Palmeiras venceu. Na colônia italiana, devia haver
simpatizantes do fascismo, mas também havia simpatizantes da luta contra o
fascismo, da mesma forma como havia na Itália.
Durante
muito tempo, foi lugar comum entre os partidos de esquerda repetir que o futebol
era o ópio do povo, uma coisa alienante. E, de repente, surge essa sua história
de envolvimento entre o futebol e o Partido Comunista …
Houve
muitas tentativas de governos autoritários de usar o esporte como forma de
promoção das suas ditaduras. No Brasil, isso aconteceu no governo Médici. Na
Alemanha, no nazismo, houve a intenção de Hitler de transformar as Olimpíadas de
Berlim em 1938 num culto à raça ariana, até que o americano negro Jesse Owens
foi lá e derrotou os alemães brancos no atletismo. Mussolini também. Mas isso é
uma coisa passageira e menor. Porque, rigorosamente, o futebol reúne duas coisas
para o proletariado: o lazer e a diversão. A semana inglesa, que foi uma
conquista importante dos trabalhadores, não foi uma conquista do movimento
sindical. Ela se deu por causa do futebol. Os operários queriam o sábado para
jogar futebol. Há atas do Partido Comunista na União Soviética de reivindicações
de operários pedindo a semana inglesa para jogar
futebol.
Por que para jogar futebol, e não para passear,
descansar, etc?
Porque na primeira fase da Revolução Industrial,
quando prevalecia a manufatura, os operários usavam para trabalhar as mãos. E,
daí, veio a noção de que o descanso deveria ser alguma atividade que envolvesse
os pés. Então, adaptou-se a regra de um esporte aristocrático, o rugby, para que
passasse a ser jogado com os pés. Foi assim que surgiu o futebol. A origem do
futebol é operária. Até hoje, o futebol não é um esporte tratado pelas
aristocracias. O futebol é um esporte barato. Adaptável a qualquer espaço.
Não exige equipamentos sofisticados. A esquerda, uma época, manifestou uma certa
desconfiança com o futebol, sem entender que ele é uma coisa do povo, que não
tem culpa das eventuais ditaduras que os assolam.
O
livro lhe trouxe a oportunidade de uma experiência na sua função original, de
jornalista. Como foi essa experiência?
Quando eu vi a taça, nos anos
90 e conheci sua origem, pensei: “Preciso contar essa história, Isso não pode
ficar perdido numa sala de troféus”. Mas eu precisava de tempo, de dedicação. Há
males que vêm para o bem. Eu perdi as eleições para presidente da Câmara, e
ganhei tempo para escrever algumas coisas. Fiz um trabalho sobre a reserva
indígena de Raposa Serra do Sol e o índio e a questão nacional. E foi possível
também ir atrás dessa história. Nós não perdemos a nossa vocação primeira. E a
minha vocação primeira é de jornalista.
Como se deu essa
sua relação com o Palmeiras. O senhor foi para São Paulo já adulto
…
Com mais de vinte anos. Mas eu já torcia para o Palmeiras em
Alagoas, desde os oito anos de idade. A grande rivalidade do Santos na década de
60 era o Palmeiras. O Santos hegemônico, mas o que ele não ganhava era o
Palmeiras. O Santos já tão forte. Eu resolvi escolher: quem enfrenta o Santos? E
virei Palmeiras. Meu primeiro time de botão foi o
Palmeiras.
Quem era o craque desse seu time de
botão?
Sem dúvida, o Adhemir da Guia. Era o grande craque da época.
Uma vez que o Palmeiras foi jogar em Maceió, minha mãe bordou um escudo do
Palmeiras numa camisa branca de meia que eu tinha, e eu fui torcer pelo
Palmeiras num jogo contra o CRB. Eu jogava com o Palmeiras, e meu irmão jogava
com o Corinthians. Num certo momento, ele começou a jogar botão melhor do que
eu. Eu disse: ‘Não está certo isso aqui’. Aí, ele passou a jogar com o Palmeiras
e eu com o Corinthians (risos).
Estamos chegando perto da
Copa do Mundo. Como você avalia as chances do Brasil?
O Brasil, em
qualquer Copa do Mundo, tem sempre uma grande chance. Às vezes depende de como
chegamos no momento da Copa. De como estão nossos jogadores. E, nesse sentido,
eu fico preocupado. Nossos melhores jogadores não atravessam uma fase das
melhores. Kaká com um problema de saúde. Nosso maior craque, Ronaldinho Gaúcho,
vive uma fase difícil. Nosso Ronaldo já não tem condições de disputar uma Copa
do Mundo com o vigor com que disputou em 2002. E temos talentos muito precoces,
que não sei se terão condições já de encarar uma Copa do
Mundo.
O senhor fala de Neymar e Ganso, do Santos? O senhor
acha que Dunga deveria convocá-los?
Isso. É muito fácil para um
torcedor, que não tem a responsabilidade, falar sobre isso. Mas não há dúvida de
que toda a exuberância do atual futebol do Santos é apoiado nesses dois
jogadores. E me parece que o Ganso é já um atleta muito maduro, apesar de muito
jovem. E mesmo o Neymar eu acho que ele merecia pelo menos ser
testado.
E o Gaúcho?
Vai depender mais
dele. Ele tem alternado atuações brilhantes com outras nem tanto. Seria
importante para o Brasil se ele tomasse como desafio disputar essa Copa do
Mundo. Acho que talento, a presença dele em campo, já é uma coisa que dá
respeito à Seleção Brasileira.
E as demais
seleções?
Enquanto isso, a Argentina saiu de uma fase de dificuldade
para uma fase de crescimento. Se o Maradona encontrar um jeito de deixar o Messi
jogar na seleção como joga no Barcelona, a Argentina vira uma forte candidata. A
Inglaterra, se seus principais jogadores estiverem bem, é forte. Como a Espanha.
A Itália é como o Vesúvio: quando você pensa que está apagado, entra em erupção.
Quando a Itália resolve ganhar uma Copa do Mundo, ganha, como fez em 1982, como
fez na última Copa. A França também tem bons valores. Jogadores brilhando em
vários times. Será que vai fazer um bom campeonato?
De
fato, muitas vezes times que quase tropeçam na classificação, disputam bem a
Copa. O fato da França ter se classificado com um gol de mão pode não querer
dizer nada …
Argentina em 1986, por exemplo, também chegou
muito desacreditada.
O estilo Dunga, agrada ao
senhor?
Não tenho uma impressão de que o técnico, em geral, decide o
jogo. Sempre achei que valem mais os jogadores se entendendo dentro de campo. Na
minha cidade, Viçosa, tem um time, o Comercial. Durante muitos anos, o técnico
foi o mesmo. Quando tinha um jogador de talento, o time ficava quase imbatível.
Quando os jogadores eram ruins, o time apanhava de todo mundo. Eu acho que o
técnico pode muito pouco. A imagem que me vem é o que contam do Vicente Feola
(técnico da Seleção em 1958 e 1962): ele lá cochilando e o time resolvendo em
campo. O Zagalo é um bom técnico. Mas um time que vinha já das eliminatórias com
Pelé, com Tostão, Rivelino, Gérson, Clodoaldo, estava destinado a ser bem
sucedido.
Na final da Copa da França, houve aquele já
famosa episódio da convulsão do Ronaldo. Tomou uma injeção mal aplicada. Aquela
discussão: escala, não escala. Foi escalado por pressão da Nike. O senhor
propôs, então, a CPI da Nike, que não chegou à conclusão. Não se conseguiu
esclarecer o episódio?
Acho que foi esclarecido. Houve duas coisas
distintas. Havia, sim, o interesse da Nike, que queria ver o principal jogador
que patrocinava em campo. O Brasil, sendo campeão, haveria a foto da vitória, e
a Nike queria que o Ronaldo estivesse nela. Mas as razões do Zagalo foram
outras, completamente diferentes. O Zagalo tinha a responsabilidade pelo
resultado. Se o Brasil perdesse sem o Ronaldo, imagine como o Zagalo iria
responder por isso. Ele tinha a autorização do médico para escalar o Ronaldo. Se
o Brasil perdesse, diriam que era pela ausência do Ronaldo. O Zagalo ia ficar
com uma responsabilidade muito grande. O Zagalo se baseou na opinião
médica.
O senhor não acha, então, que a pressão da Nike foi
determinante?
Não foi. Se o Zagalo não tivesse a autorização do
Departamento Médico, não escalaria o Ronaldo. Nem teria como fazê-lo. Não
correria esse risco. Mas, dispondo de um atleta liberado pelo Departamento
Médico, Zagalo não tinha como não dispor do melhor jogador do Brasil. Não teria
argumentos para fazer isso. E os próprios jogadores esperavam que o Ronaldo,
liberado, estivesse em campo, embora também temessem pela saúde
dele.
Independentemente desse episódio específico, nós
vivemos uma situação em que há muito dinheiro envolvido no esporte. Os jogadores
ganham muito dinheiro. Há muitos interesses comerciais, dos patrocinadores. Isso
distorce o esporte?
Distorce muito. O futebol surgiu como uma
manifestação cultural, social, à margem do mercado. Como o carnaval. Era um
esporte operário, popular, amador. Depois, semiprofissional. E, então,
profissional. Mas, mesmo no início, o futebol era profissional, mas não era um
grande negócio. Era uma profissão. Era algo mais no campo artesanal. O
jogador de futebol era quase um artesão, remunerado por aquela arte. Muita
gente acha que o capitalismo está no fim. Eu acho que o capitalismo ainda tem
muita força. E demonstra a sua força nessas coisas. O capitalismo dotou o
futebol de instrumentos que o transformaram num grande negócio. Valores
altíssimos. A deformidade que se trouxe junto com isso é que o futebol deixa de
ser uma paixão que tem um vínculo de sentimento entre o torcedor e o seu clube
para ser como uma mercadoria que você consome. Então, o torcedor passa a exigir
que o clube faça gols, que o atleta forneça mais e mais aquele produto, que é o
gol. Esvazia o futebol da sua função e seu papel originais. Você está pagando,
quer receber o produto. Daí a agressão a jogadores, toda essa violência. Isso
pode acabar por arruinar o futebol. Nesse aspecto, o capitalismo fez muito mal
ao futebol.
O Brasil é sede da Copa do Mundo, sede das
Olimpíadas. No caso da Copa, a Fifa faz críticas às obras no Morumbi, depois às
obras do Maracanã. Esse atraso é preocupante? Podemos acabar perdendo essa
Copa?
Creio que não. O Brasil tem todas as condições de fazer os
dois eventos. Eu só temo que como as Olimpíadas estão mais longe, nós tomemos
esses jogos como referência. Não pode. Não se pode esperar pelas Olimpíadas para
fazer a infraestrutura necessária. Nós temos bons estádios. Em vários estados.
Não acho que esse seja o maior problema. São obras de adaptação, que podem ser
feitas. O problema maior é a infraestrutura e a logística. Nossos aeroportos
precisam melhorar muito. Eles não estão dando conta da situação agora. Hoje.
Isso precisa melhorar. Mas são coisas que podemos fazer. A Fifa tem o direito,
ou a obrigação, de cobrar resultados, prazos. O governo tem sua burocracia.
Essas obras precisam de licenciamento ambiental. O licenciamento ambiental do
Brasil é o mais demorado do mundo. Isso pode nos tomar muito tempo. Pode nos
privar de um tempo importante para a realização física das obras. A Fifa deve
estar preocupada. E o governo também deve ficar preocupado com isso. É uma
questão de ser rigoroso com o calendário.
Nós tivemos a
experiência dos Jogos Pan-Americanos, que superaram muitas vezes o orçamento
original. O governo bancando o que antes achava que poderia fazer em parceria
com a iniciativa privada. Irregularidades. Nós corremos de novo esse
risco.
Nós corremos uma série de riscos. Se uma obra é embargada, o
custo dela vai aumentar. Por isso, temos que ter um calendário enxuto, com os
problemas burocráticos resolvidos, para não haver atrasos
problemáticos.
Mesmo assim, vale a pena o Brasil sediar uma
Copa do Mundo?
Sem dúvida. É incontornável para o Brasil. O único
país a participar de todas as Copas do Mundo. O único país que foi campeão
mundial cinco vezes. Um país com um número imenso de craques espalhados pelo
mundo. O Brasil já realizou uma Copa do Mundo, não diria que com sucesso, porque
perdemos a final (risos). Mas, do ponto de vista da organização, foi um sucesso.
A África do Sul tem teoricamente muito mais dificuldades que o Brasil. Temos
condições, se tomarmos com pulso, com firmeza, o desafio de fazer a Copa. Para a
Fifa, também é importante realizar uma Copa do Mundo no Brasil. É fazer a Copa
no país que tem mais tradição nesse esporte.
Como o senhor
avalia a atuação de seu colega de partido, Orlando Silva, no comando do
Ministério do Esporte?
O Orlando tem demonstrado uma grande
capacidade como executivo. São responsabilidades grandes: realizar uma Copa, uma
Olimpíada. Ele tem conseguido tocar esses desafios. Outras coisas não dependem
só dele. Estão para além da responsabilidade do ministério as necessidades de
melhora na infraestrutura, nos transportes. Isso é um esforço que envolve o
governo tudo.
Agora, recentemente, houve uma denúncia com
relação à gestão do programa Segundo Tempo. Essas denúncias têm
fundamento?
Se têm fundamento ou não, as investigações revelarão. O
que eu soube, pela imprensa, é que o ministro, assim que soube das
irregularidades, suspendeu os contratos.
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