Celso Lungaretti*
Por mais que as feministas esperneiem, a função primordial da mulher é a maternidade. Pelo óbvio motivo de que, caso ela deixe de exercê-la, a espécie humana se extinguirá.
Os gregos antigos, que sabiam das coisas, dedicavam a Rhea, mãe dos deuses, uma de suas mais belas comemorações: a da chegada da primavera.
Os cristãos também destacam sobremaneira o papel de Maria, mãe de Jesus Cristo, a quem endereçam uma de suas principais orações. Isto fez com que ela se colocasse, na imaginação dos devotos, quase no mesmo plano do Pai Nosso.
Sua deferência para com as mães e as mulheres, no entanto, só subsistiu até o feudalismo. Por quê?
Uma explicação na linha do marxismo é a de que, sendo os homens mais aptos para o árduo trabalho braçal nos campos e para a guerra, a divisão de trabalho estabeleceu-se naturalmente, ficando as mulheres com a responsabilidade de gerar novos trabalhadores e combatentes, além de cuidarem do lar em que eles recompunham suas forças. A ideologia – a atitude cavalheiresca e protetora em relação ao sexo frágil – teria se erigido sobre essa realidade material.
O capitalismo, no entanto, dessacralizou a família, submetendo mulheres e crianças à mesma exploração que impôs aos homens. “A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias”, constatou Marx, qual um profeta irado diante do quadro dantesco de seu tempo: “a grande indústria destrói todos os laços familiares do proletário e transforma as crianças em simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho” (“Manifesto do Partido Comunista”, 1848).
Emblematicamente, o primeiro registro de celebração do Dia das Mães no milênio passado se dá na Inglaterra do século XVII, quando o quarto domingo da Quaresma começou a ser dedicado às mães das operárias inglesas.
Nesse dia as trabalhadoras ganhavam folga para ficar em casa com as mães, depreendendo-se, portanto, que trabalhassem nos demais domingos. Os industriais, apesar de se dizerem tementes a Deus, não lhes permitiam que seguissem o exemplo do Criador, descansando no sétimo dia…
Do capitalismo selvagem à fase pós-industrial
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O Brasil, com sua industrialização tardia, foi poupado do pesadelo em que se constituiu a criação da infra-estrutura básica do capitalismo na Europa, com destaque para o trabalho massacrante nas minas de carvão inglesas, em que mulheres e crianças cumpriam jornadas às vezes superiores a 14 horas diárias!
Em nosso país, até a década de 1960 os homens da casa (o pai e os filhos, estes pegando no batente tão-logo atingissem a idade de 14 anos) geralmente obtinham remuneração suficiente para o sustento, mesmo que precário, da família.
Foi quando os avanços no processo produtivo, tornando cada vez mais desnecessária a força física para a maioria dos desempenhos, possibilitaram o ingresso em massa das mulheres no mercado de trabalho.
O chamariz do consumo e a perspectiva de serem donas dos próprios narizes (sem se darem conta de que estavam apenas trocando o mandonismo do marido pela tirania impessoal do sistema) levaram as mulheres a disputarem entusiasticamente posições com suas iguais e com os próprios homens, mesmo recebendo paga inferior à deles pelas mesmas funções.
Como conseqüência desse aumento exagerado da oferta da mão-de-obra, as remunerações de todos foram aviltadas.
As famílias de classe média, principalmente, passaram a depender do trabalho dos dois cônjuges para manterem seu padrão de vida. Ficaram em cacos, com pais fatigados demais para cumprirem realmente seu papel e crianças crescendo aos cuidados de terceiros. O resultado são esses jovens problemáticos, egoístas e imaturos que todos conhecemos.
Nestes tempos em que as mulheres vêem a si próprias mais como profissionais do que como mães, paradoxalmente, o Dia das Mães é festejado como nunca. Mas, também aí prevalecem os malfadados interesses monetários, a necessidade que o sistema tem de datas festivas que alavanquem as vendas.
Então, o grande exemplo a ser lembrado nesta data é o de Anna Jarvis, estadunidense que batalhou incessantemente para que fosse instituído um dia de homenagem a todas as mães, vivas ou mortas, visando fortalecer os laços familiares e o respeito pelos pais.
O governador do seu estado, a Virgínia Ocidental, acabou oficializando essa celebração em 1910, no que foi logo imitado por congêneres, até que o presidente Woodrow Wilson unificou em 1914 as várias datas estipuladas, fixando o Dia Nacional das Mães no segundo domingo de maio.
Os comerciantes se atiraram sofregamente à exploração do lucrativo filão, horrorizando Ana Jarvis, que desabafou em 1923 para um repórter: “Não criei o Dia das Mães para ter lucro”. No mesmo ano ela tentou cancelar a celebração por meio de uma ação judicial, inutilmente.
E teve sorte de morrer antes que o desvirtuamento do Dia das Mães se tornasse avassalador, na sociedade de consumo.
*Celso Lungaretti, 57 anos, é jornalista em São Paulo, com longa atuação em redações e na área de comunicação corporativa, e escritor. Escreveu Náufrago da utopia (Geração Editorial, 2005). Mais dele em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/.
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