O Congresso Nacional está apreensivo com a suposta lista da Polícia Federal que constariam nomes de aproximadamente 40 parlamentares envolvidos com a máfia das obras públicas. Desde a última quinta-feira (17), quando foi desencadeada a Operação Navalha, há um “cheiro” diferente no ar e pedidos para a criação de uma CPI para investigar o assunto.
Primeiro, por causa da prisão de alguns políticos, como o ex-governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares (PSB), de um ex-deputado federal, de um deputado distrital, entre outros – muitos ligados politicamente a alguns deputados e senadores. Fora o dono da Gautama, Zuleido Veras, também preso e apontado como o chefe do esquema, que é bastante conhecido em Brasília e muito bem relacionado no Congresso.
Hoje (21), na Câmara e no Senado, mesmo com o pequeno número de parlamentares, o assunto não foi outro. Ainda mais com os nomes já vazados, como o do senador Delcídio Amaral (PT-SP) e do deputado Paulo Magalhães (DEM-BA), além do governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB) e do ministro Silas Rondeau (Minas e Energia). Alguns, inclusive, apostam que ele deixe a pasta nos próximos dias.
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A agenda da semana, contudo, será tomada pela Operação Navalha e seus desdobramentos. A reforma política, sempre discutida em momentos de desvios éticos, é outro assunto que também estará presente nos debates. Ela, nesses casos, é vista como a salvação para os desmandos do mundo político.
Alguns senadores clamaram hoje no plenário a necessidade de se discutir o financiamento público de campanha. O senador Papaléo Paes (PSDB-AP), que recebeu R$ 100 mil da Gautama na campanha eleitoral, disse que não é possível o candidato saber sobre a “idoneidade” da empresa que está fazendo a doação. Clamou, sobretudo, da importância de se preservar o “Parlamento”, para quem é o símbolo da “democracia brasileira”.
O senador Paulo Paim (PT-RS) endossou: “A doação é livre, legal e declarada. Temos que entrar no financiamento público de campanha para acabar com esse constrangimento”, disse, referindo-se ao fato de o congressista ter que explicar depois sobre o dinheiro recebido legalmente. Para o também senador Delcídio Amaral (PT-MS), “o político não pode ser culpado por cumprir a lei”.
A reforma política deve ganhar ainda mais força esta semana, já que, além da Operação Navalha, a reunião de líderes amanhã também vai discutir o assunto. Há na pauta, inclusive, um projeto de lei complementar do deputado Luciano Castro (PR-RR), que institui a fidelidade partidária ao tornar ineligível o candidato que trocar de partido nos quatro anos seguinte à sua diplomação. O projeto entraria em vigor só nas eleições de 2008.
Ainda bem, pois o próprio PR, sigla que Luciano Castro é líder na Câmara, foi a que mais se beneficiou com o troca-troca partidário na atual legislatura. Criado a partir da fusão do PL com o Prona no início do ano, o partido atualmente tem 41 deputados e quatro senadores. Nas eleições do ano passado, o PL saiu com 23 deputados e três senadores e o Prona, somente dois deputados.
Mais uma das “jabuticabas” de nossa política. Resta saber, no entanto, se a eventual reforma política vai mesmo conter os arroubos e desvios éticos de alguns personagens da política. (Lucas Ferraz)
Delcídio se diz perseguido e defende CPI
O senador Delcídio Amaral (PT-MS) subiu à tribuna do Senado hoje (21) para explicar como seu nome foi parar nos documentos apreendidos pela Polícia Federal (PF) em um dos escritórios da Gautama, construtora investigada na Operação Navalha. Na última quinta-feira (17), 46 pessoas foram presas, acusadas de integrar uma máfia que fraudava licitações e desviava recursos públicos.
Nos documentos, há o nome do senador com a inscrição: “Delcídio, R$ 24 mil, aluguel de jatinho”. Ele repetiu o que disse nos últimos dias: com a inesperada morte do sogro, no dia 4 de abril deste ano, pediu a um amigo, no caso o empresário Luis Gonzaga Solomon, dinheiro emprestado para alugar um avião e ir ao enterro, em Barretos (SP). Luis deu um cheque à empresa Ícaro, mas, sem o dinheiro para honrar o pagamento, recorreu a Zuleido Veras, dono da Gautama, que teria se prontificado a pagar a quantia (R$ 24 mil).
O valor, no entanto, ainda não foi pago. Zuleido prometeu mas não pagou. O senador disse que o cheque do amigo continua na Ícaro. Como o prazo para o pagamento, de 60 dias, ainda não terminou (vence, segundo ele, no dia 4 de junho), o valor ainda será quitado.
Em certo momento do discurso, acompanhado por não mais que uma dezena de senadores, Delcídio recorreu ao argumento do quão difícil é perder alguém na família – na tribuna, apresentou até o atestado de óbito do sogro, “para que ninguém tenha dúvida de que ele morreu”. Disse que fez um levantamento completo (que estará disponível em seu site), onde é possível comprovar que não há nenhuma emenda sua à Gautama. “Desde 2003, fiz 51 emendas, no valor total de R$ 17 milhões”, disse. “As emendas da Gautama são milionárias. As emendinhas de Mato Grosso do Sul não são desse perfil”.
Ele também elogiou a operação da Polícia Federal, classificando-a de “exemplar”, e disse que se prontifica a assinar um pedido de abertura de uma CPI para investigar o assunto. “Faço questão de ser o primeiro a assinar”, reforçou. Ele, no entanto, sugeriu em diversos momentos que é vítima de uma perseguição. “Fica o questionamento: por que o Delcído é o primeiro a aparecer em uma lista longa?”. A PF suspeita do envolvimento de 40 parlamentares no esquema.
“Já fui bastante investigado. Tentaram me botar em saia justa em várias ocasiões, quando assumi a liderança do PT no Senado e na época da CPI dos Correios [ele presidiu a comissão]”, disse. Delcídio Amaral admitiu que conhece Zuleido Veras, mas afirmou que nunca recebeu doação dele para alguma campanha eleitoral. Por fim, ele citou um trecho de uma famosa música dos Paralamas do Sucesso, dos anos 80: “Entrei de gaiato no navio, entrei, entrei, entrei por engano. Entrei de gaiato no navio, entrei, entrei, entrei pelo cano”. No seu caso, em um avião.
Solidariedade
Os poucos senadores que acompanhavam do plen&a
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